quinta-feira, agosto 04, 2005

Sobre pedofilia

Nunca se tinha falado tanto sobre pedofilia.
E, como notam mesmo os menos atentos, tem sido visível o embaraço de muita esquerda quanto ao tema. E é natural, digo eu, lembrado do que foi durante tantos anos a teorização da “libertação sexual”, desde o famigerado Wilhelm Reich ao idolatrado Sartre. São muitos anos de luta contra a “repressão sexual” e a “moral burguesa”.
Para esse peditório quero eu aqui deixar um pequeno contributo.
No princípio de 2001, em Berlim, durante o julgamento de Hans-Joachim Klein (Klein foi sentenciado a 9 anos de prisão por estar envolvido em ataques terroristas, nomeadamente a tomada de reféns na sede da OPEP em Viena, em 1975, onde morreram três pessoas) vieram a lume factos sórdidos sobre alguma élite política desta nossa União Europeia.
Os factos mais badalados trazidos então à discussão foram sobre Daniel Cohn-Bendit, deputado no Parlamento Europeu, e coqueluche da extrema esquerda desde há trinta e cinco anos. Daniel, tal como o ministro alemão Joschka Fischer, foram testemunhas no julgamento deste velho companheiro.
A relevância do caso está em que Daniel Cohn-Bendit, aliás Dany Le Rouge, é um símbolo do Maio de 68. E foi também, na década de 70, um defensor público da pedofilia.
No julgamento de Klein, acima referido, e para ajuda à defesa do arguido, militante de extrema-esquerda, estiveram em foco algumas passagens de um livro de memórias de Cohn-Bendit, "Le Grand Bazaar", publicado em França em 1975 (que curiosamente não encontro agora, passado o escândalo, entre a bibliografia do autor mencionada nos sítios que lhe são afectos, nos quais se encontram geralmente referidos apenas “Nous l’avons aimée la révolution”, “Une envie de politique” e “Xénophobies”).
Este livro, além do mais, descrevia as experiências desse "líder radical", com crianças, em Frankfurt, onde vivia depois de ter sido expulso de França.
No seu livro de memórias Dany Le Rouge descreve de uma forma perturbadora e em pormenor as suas relações com algumas das crianças que tinha sob sua responsabilidade. Para ilustração, refere experiências que teve com uma menina de 5 anos, que estava ao seu cuidado, assim como relatos chocantes sobre experiências sexuais com crianças do jardim-escola alemão, onde trabalhava.
No livro podem ler-se confissões deste teor: "Aconteceu várias vezes certas crianças me abrirem a braguilha e começarem a tocar-me. Eu reagia de diferentes maneiras, conforme as circunstâncias, mas o desejo delas punha-me diante de um problema. Eu perguntava: 'mas por que vocês não brincam juntos? Por que me escolheram a mim, e não a uma outra criança? Mas elas insistiam, e eu, apesar de tudo, acariciava-as.”
O livro foi bastante criticado quando foi publicado, nesse longínquo ano de 1975. Mas ainda assim dois anos depois, em 1977, algumas das mais celebradas figuras da intelectualidade “gauchiste” parisiense, incluindo Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Michel Foucault, Jacques Derrida, Philipe Sollers, Jack Lang e Bernard Kouchner (estes dois foram anos mais tarde ministros socialistas da educação e da saúde), assinaram uma petição colectiva onde se apelava à legalização das relações com menores (pedofilia, digo eu), a pretexto dos processos contra três homens condenados por atentado ao pudor nas pessoas de menores com 12 e 13 anos de idade – isto, claro, em nome da liberdade.
Na mesma época outro intelectual conhecido, Gabriel Matzneff, colaborava regularmente no “Le Monde” e era habitual convidado das televisões, onde defendia as suas ideias sobre … "une pédophilie active". Sem que suscitasse reacções de maior, diga-se.
A polémica sobre Cohn Bendit, deputado europeu eleito em França pelos Verdes (o homem tem dupla nacionalidade franco-alemã) atingiu o rubro, primeiro na Alemanha e depois em França, nessa época de Janeiro-Fevereiro de 2001, quando surgiram estas mesmas acusações lançadas publicamente por Bettina Röhl, que tem a autoridade e o conhecimento que resultam de ser filha da famosa terrorista Ulrike Meinhof – e resolveu disparar contra Cohn Bendit e o íntimo amigo deste Joschka Fischer, também antigo militante de extrema esquerda reconvertido em dirigente Verde (e actual Ministro dos Estrangeiros).
Interpelado em Fevereiro de 2001 a este respeito, Daniel Cohn Bendit desmentiu ter praticado qualquer acto pedófilo e explicou que os seus escritos “reflétaient l'esprit de l'époque” e que se tratava de mera "provocation contre le bourgeois”.
O deputado e Presidente dos Verdes, e candidato à Presidência da República, Noel Mamére, veio em socorro de Dany afirmando que a publicação destes extractos do livro tantos anos depois não passava de “trash journalisme”.
O institucional porta-voz do esquerdismo de bom tom, “Libération”, sentiu-se obrigado a vir a terreiro, pela pena do seu fundador e director, Serge July, para lastimar essas posições que, diz ele, “malheuresement” serviram para legitimar “des pratiques parfois criminelles" sobre crianças.
Resta acrescentar que Cohn-Bendit esteve sob investigação na Alemanha durante vários anos, mas só poderia ser processado se o Parlamento Europeu suspendesse a sua imunidade – questão que nunca se pôs.
(Bis)

8 Comments:

At 6:10 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Apesar das náuseas que provoca, excelente texto. É bem preciso recordar que a íntima ligação da esquerda com a pedofilia não é um acaso nem um complot das direitas. O caldo cultural de esquerda dos anos sessenta produziu bem esta podridão, que hoje é por demais evidente. Tornou-se impossível para a esquerda esconder o cheiro das suas latrinas ideológicas. Que mais dizer?... Este post devia ser uma primeira página de jornal!

 
At 5:47 da manhã, Anonymous Anónimo said...

É bom recordar textos, ou assuntos, que foram publicados em Portugal há uns anos pelos "lunáticos nazis".

Mas não se auto-enganem, com frases tipo «tem sido visível o embaraço de muita esquerda quanto ao tema.»

Esse assunto (a pedofilia) não é exclusivo da esquerda. A questão é que foram os de esquerda os únicos que tiveram "coragem" de assumir esses comportamentos absolutamente nojentos e desprezíveis.

Até alguns ditos "nacionalistas" -- pelo menos inexplicavelmente afirmam-se como tal -- têm responsabilidades na matéria... e há quem os defenda... Também alertámos sobre este vírus há uns anos

Mas a dita direita conservadora também tem telhados de vidro, e por isso é que não se ouve qualquer alarido vindo destes em relação ao assunto. Anda tudo calado, com medo... Faz lembrar o assunto "paneleiros", e não é por acaso que, mais uma vez, os "lunáticos" nazis são os únicos que se afirmam frontalmente contra mais essa aberração nojenta e anti-natural.

Para quem tiver dúvidas, sobre os telhados de vidro da direita, aconselho uma visita aos "congressos" da Juventude Centrista ou uma pequena investigação sobre a vida "caseira" do actual líder do CDS (e, já agora, também do anterior) e a relação do seu pai, que foi presidente de câmara, com os "jovens"...

 
At 1:41 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Realmente é mesmo o que se chama, como se o fenómeno fosse de defender a esquerda e logo atacar a direita, sem de facto dizer se faz parte do grupo ou se o defende. Discute-se a pedofilia, nada mais, e falam-se de factos.
Não é um caso semântica, de gramática, mas de consciência, mas os inteligentes, como no filme italiano, são ainda mais feios, mais porcos e muito maus e ainda pensam que esquerda e direita existem.

 
At 3:01 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Semântica caso é um não, gramática de...? Realmente, bem muito lá isto se percebe não...

 
At 4:07 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Ainda bem que recuperou este episódio do Cohn-Bendit que serve para ilustrar, sem precisar de legenda, a moral dupla de certa esquerda pusilânime, instalada e sistémica, a atitude de que "é pedófilo, mas é nosso"...

O caso de pedofilia da Casa Pia vai dar nalguma coisa: na confirmação popular das culpas. Entretanto, quem investigou, quem denunciou, quem publicou (eu já vou no segundo processo, este, por 49 crimes de difamação agravada...) há-de pagar os crimes de horror dos outros.

Fica-bnos, portanto, esta certeza, que a luta adianta. Mesmo se apenas chega ao nível da informação e juízo do povo.

 
At 6:10 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Parabéns pelo que escreveu aqui.
Vou por um link para este seu texto no blog em que são coligidos textos sobre CSA-Child Sexual Abuse
para profissionais que estudam este assunto.
Continue.

 
At 2:00 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Belìssimo texto transcrito, o de Maria Afonso. Não acredito que os pedófilos portugueses não venham todos a ser julgados. Eu sou, porventura, demasiado optimista. No entanto eles que se cuidem e esperem pela pancada. Se a justiça deste nosso desgraçado País, não actuar direitinho neste Processo, os jornalistas de investigação (os decentes, não pseudo-jornalistas) deitarão TUDO cá para fora, sobre quem está verdadeiramente implicado e abusou das crianças, durante trinta e tal anos e será o POVO quem fará justiça.

Maria

 
At 3:04 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Olá. No campo de busca do google encontrei seu blog. Quanto à discussão dos pedófilos e justiça tudo certo. Sofri abuso sexual dos meus três aos cinco anos e meio de idade. O responsável foi meu pai. Sei que minha mãe havia notado o machucado, estava grávida do meu irmão. Ela não teve coragem de tomar nenhuma ajuda ou providência. Ninguém da família sabe até hoje e à quatro anos minha mãe faleceu. Tive anos de acompanhamento psicológico e psiquiátrico e nem para eles contei. Tive vários distúrbios como Toc, Depressão profunda, sentimento de culpa e cometia auto-flagelação. Semana passada resolvi abrir um blog para contar aos poucos a história da minha vida. Se puder ler e me ajudar, ficaria grata. Abraços

http://likealittlestar.blogspot.com/

 

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