sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Textículo já antigo

Escrevi isto há 25 anos, e ainda não chegou a altura de lhe mudar nem uma vírgula...

O PENSAMENTO E A ACÇÃO
Nestes tempos em que a lucidez mandaria limpar armas, a imagem oferecida pela área dos que se dizem nacionalistas é deveras desoladora. Para os que guardam a ilusão de que tudo poderia ser diferente deve ser mesmo angustiante. Numa época em que todos os sinais dos tempos parecem indicar a iminência de grandes coisas, quando o mundo em que nascemos parece abanar por todos os lados e estar em vias de afundamento, seria de esperar que os que a si mesmos se elegeram paladinos duma Nova Idade ao menos se erguessem em vigilância tensa, aptos e disponíveis para os combates que não podem deixar de vir.
Mas não. É como se os nacionalistas portugueses à força de "viver habitualmente" lhe tivessem tomado o gosto. Mesmo quando tudo aconselha a fazer o contrário. Parece que a habitualidade lhes corroeu a imaginação e a audácia, a inteligência e a fé. Assim, enquanto muitos dormem outros fazem flores.
Alguns limitam-se a repetir erros antigos; no entusiasmo gregário de fardas, hinos e bandeiras, esquecem as ideias, que são sempre o mais importante. Movem-se em círculo fechado, parados no tempo, fazendo gala de uma estética ultrapassada e de uma linguagem que só ela constituiria barreira suficiente para impedir a aceitação pelas massas, cujo sentido crítico é apesar de tudo capaz de rejeitar a retórica balofa de quem nada traz de novo.
Outros nem se dão ao luxo de cometer erros. Encerraram-se nas suas torres de marfim, inventaram álibis mais ou menos consoladores para as próprias consciências, e esperam em casa que a história lhes vá bater à porta.
Poucos são os que, no cepticismo de quem conserva a cabeça fria e o espírito lúcido, se mantêm no seu posto sem desânimo nem descrença, sabendo que o futuro começa agora e que Deus costuma ajudar aqueles que se ajudam. Na trincheira que a cada um de nós coube sabemos que é preciso dar forma nova às verdades eternas, deixar morrer o que merece ser enterrado para afirmar no seu fulgor imaculado os princípios que nos comandam. Dentro da linha de modernidade e vanguardismo que é própria dos que se querem construtores do Futuro.
Apesar do panorama traçado não se julgue que pensamos haver razão para derrotismos. Antes pelo contrário: pensamos que o desespero é uma estupidez desprezível. Parece-nos que nada há de estranho em que as coisas sejam como são, e as explicações nem são muito difíceis de encontrar. E acreditamos que o fermento constituído por aqueles que nunca desis­tiram de intervir, e conhecem o mundo e a história, e sabem o caminho, há‑de ser bastante pa­ra vencer a ganga que ao passa­do pertence e imprimir o rumo que leva à vitória.
Para os que não percebem muito bem o que isto quer dizer, deixamos uma frase para reflexão, esperando não os dei­xar ainda mais perplexos: "To­das as juventudes conscientes das suas responsabilidades ten­tam reajustar o mundo. Tentam, pelo caminho da acção e, o que é mais importante, pelo cami­nho do pensamento, sem cuja constante vigilância a acção é pura barbárie".
A frase é de José António e é sempre grata de recordar por quem sente que ela, por direito adquirido, também lhe diz res­peito.

3 Comments:

At 9:47 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Infelizmente, um texto pleno de actualidade.

 
At 11:18 da tarde, Blogger �ltimo reduto said...

O texto é muito bom e permanece de facto actual. Aliás o Manuel tem por aí em revistas diversas vários textos publicados de grande qualidade, que não era má ideia dar a conhecer a mais gente. Quanto a este, sublinho esta passagem: "Para os que guardam a ilusão de que tudo poderia ser diferente deve ser mesmo angustiante."
Eu volta e meia tenho essa ilusão e o resultado é na verdade angustiante.

 
At 12:17 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Pedro Guedes dixit:

"...o Manuel tem por aí em revistas diversas vários textos publicados de grande qualidade, que não era má ideia dar a conhecer a mais gente."

Ora aí está uma boa ideia. Não dava para criar um blog que publicasse os ditos cujos?

 

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