quinta-feira, novembro 02, 2006

A natureza (1)

Leio que Miguel Sousa Tavares declarou ser favorável ao aborto, além do mais, porque «na natureza, quando não se pode manter a ninhada, são as próprias mães que eliminam algumas crias para as outras poderem sobreviver».
Seria um argumento extraído da "lei da natureza".
A ideia não é original, o que não espanta nesse autor, e parece não ter sido pensada, o que também condiz com o seu estilo.
Como se pode perceber facilmente, os comportamentos das sociedades animais a que MST estava a referir-se não se traduzem em práticas abortivas. Pelo contrário: excluem-nas. As crias nascem, e depois logo se vê quais são as mais fortes e aptas para a sobrevivência.
São mecanismos de selecção natural, que efectivamente se encontram na natureza. Por vezes são os progenitores, por vezes são as outras crias, o que se verifica é que os exemplares mais frágeis são eliminados em benefício da sobrevivência da espécie.
Estava MST a pensar em tornar regra nas sociedades humanas aquilo que é um dado de facto em certas sociedades animais?
Nesse caso cumpre-lhe reconhecer que essa regra a existir não aponta para o aborto mas sim para outras práticas, que seria necessário regulamentar.
Quais os requisitos para a eliminação das crias? A quem pertenceria o poder de decisão? E como seriam de encarar, em tal lógica social, as situações daqueles que tendo ultrapassado essa fase de selecção viessem mais tarde a encontrar-se com vida mas sem capacidade própria e autónoma para a garantir por si sós?
É um mundo de problemas, e não parece que tenham aflorado na cabeça oca de MST.

6 Comments:

At 1:17 da tarde, Blogger JSM said...

Pois é, há aqui uma grande confusão, produto de muita caça e de alguns filmes 'com mensagem' do National Geografic Magazine. O melro, de facto, elimina uma das crias já nascidas porque não consegue criar as quatro que costuma gerar, em condições de sobrevivência futura. Trata-se de uma decisão para salvar os outros, não é por comodidade ou porque se sente proprietário da ninhada. Se houver condições de sobrevivência, ou seja, alimento com abundãncia nas redondezas, dispôe-se imediatamente a criar todos. O melro age por instinto, não lhe foi dado o dom da razão, que até à data se considera um valor acrescentado... para o bem. Claro que também pode ser utilizado para o mal.Mas nada disto tem que ver com o aborto numa sociedade de abundãncia como a portuguesa actual.
As outras questões que levantou, são por seu turno, esmagadoras, não me parece que MST ou quem quer que seja, tenha resposta para elas.
A não ser do tipo coreano ou alguma nostalgia retardada de Pol Pot e dos seus Kmers vermelhos!
Um Abraço.

 
At 5:22 da tarde, Blogger A minha verdade said...

O Miguel S Tavares faz sempre questão de ser politicamente incorrecto. Dá-lhe pica sentir que choca os outros com as suas teorias, mas depois cobre-se de ridículo.

Esta "teoria" está ao nível daqueles que defendem que a homossexualidade é uma coisa natural porque até os cães se "enrabam" uns aos outros!

Creio que o que distingue o Humano dos animais irracionais é a sua capacidade para amar, para se sacrificar pelo outro, para aplicar a sua inteligência e a sua solidariedade na busca de soluções alternativas à "selecção natural".

São capacidades destas que resultam em convenções como aquela que diz que em caso de naufrágio se salvaguardem primeiro mulheres e crianças.

 
At 7:01 da tarde, Blogger Orlando Braga said...

Sinceramente, á primeira vista pensei tratar-se de uma brincadeira de mau gosto. Depois, pensei em MST e bate tudo certo.

 
At 7:07 da tarde, Blogger Orlando Braga said...

Sobre o comentário do Jardim: MST nunca foi politicamente incorrecto, pelo contrário: esteve sempre com o Poder (seja PS ou PSD) quando em apoteose e contra esse mesmo Poder quando em decadência. Soube sempre "gerir" a sua postura política e "dançar ao som da música".
Para além disso, considero que o politicamente correcto defende a liberalização do aborto, e não o contrário.

 
At 3:46 da manhã, Blogger A minha verdade said...

Percebo a sua ideia, mas penso que deixei claro o que quero dizer com "políticamente incorrecto", quando disse:

"Dá-lhe pica sentir que choca os outros com as suas teorias..."


Era neste sentido.

 
At 3:55 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Que o beócio do mst diga alarvidades dessas, que os animais irracionais possam servir de referência moral, não admira. Como não admira que outro beócio, Almeida e Silva, professor doutor e tal, sociólogo do iscte pois então, tenha há dias escrito no JN que todos os filhos não desejados deviam ser abortados. Para seu bem, claro! Haja pachorra!

 

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