quarta-feira, maio 07, 2008

Glosa sobre a agonia de Fialho de Almeida

Sábado, 4 de Março...
O Sol vai no fim do dia.
Páram os homens da enxada,
Sossega a maltesaria.

Os galhos secos de Inverno
Somem-se pela verdura...
No meio do céu e inferno
Toda a hora é de amargura.

A morte anda pelas eiras;
A morte chega às herdades...
Caminhos da Vidigueira!
Estrada de Vila de Frades!

Um churrião de lavoura
Roda na planície rasa...
Ai!
"Toca nas mulas, se queres
Que eu chegue vivente a casa".
Fialho, para os almocreves
Exala a voz derradeira,
Na estrada, em Vila de Frades
De Cuba para a Vidigueira.

Só o maioral e o morto
Na tragédia de sózinho,
No drama de vagabundo...
Ai!
O churrião solavanca,
Nos ermos desse caminho
Que segue para o fim do mundo.

AZINHAL ABELHO (in Colóquio, n.º 21, Dezembro de 1962)