sábado, maio 03, 2008

Monotonia de esquerda

(um artigo de Manuel Brás, para o Jornal da Nova Democracia)

Tem-se especulado ultimamente, e com razão, sobre o destino do marxismo após a derrocada económica do “socialismo científico” no fim dos anos 80.
De facto, mesmo do ponto de vista económico, essa ideologia ainda não foi completamente varrida. Basta olhar para Cuba, para a Venezuela, Equador, Bolívia, Nicarágua.
Na Europa a coisa é mais tímida, mas, tirando a economia, ainda há muitos resquícios de marxismo na política, na cultura, na educação, na saúde.
O que mudou essencialmente na ideologia esquerdista desde os anos 90 é resultado da infiltração do movimento ambientalista, que se tornou a vanguarda do movimento esquerdista global. O marxismo era optimista, acreditava que o homem podia resolver todos os seus problemas e garantia o paraíso terrestre. A esquerda que hoje existe é pessimista e o máximo que se atreve a prometer é que evitará o inferno na Terra. O optimismo da antiga esquerda tornou-se o pessimismo da nova.
Esta visão pessimista que a esquerda hoje apresenta não é, no entanto, nova. Tem cerca de 300 anos. Tantos quantos o Rev. Malthus. E, no fundo, exige restrições e supressão, proclama que o mundo seria maravilhoso se os homens fossem muito menos – ou nem sequer existissem –, mais pobres e ignorantes.
São estas considerações que estão na base do conceito de desenvolvimento sustentado que a ONU inventou nos anos 90 e a UE abraçou deslumbrada e acrítica como uma criança que aprende as primeiras letras. A figura do homem-predador, que delapida os recursos naturais: somos demais, consumimos demais e dependemos demais da tecnologia. Isto sustenta a receita malthusiana: controle da população, controle do consumo e controle da tecnologia.
Mas será esta a única e indiscutível visão a ter sobre o mundo e a realidade política? Será inatacável ao ponto de tantos teóricos e opinion-makers a aceitarem sem pestanejar? Não há um que se atreva a elaborar outra visão e outras soluções?
Controle da população, controle do consumo e controle da tecnologia são eufemismos de morte, pobreza e ignorância. O “desenvolvimento sustentado” é um termo razoável mas sucede que para a esquerda significa e designa algo que a generalidade das pessoas não se apercebe. E julgando que está a falar de uma coisa, acaba por falar de outra que não suspeita. O desenvolvimento sustentado é, para a esquerda um conceito estático de pobreza. Os esforços para evitar um mundo “não-sustentável” criam ainda mais riscos para o futuro.
É esta ideologia que está por trás da mentalização que levou nas últimas décadas Portugal e a Europa para o declínio demográfico, para a escalada de uma cultura de morte e para um empobrecimento económico. Serão as gerações europeias daqui a 20 ou 30 anos mais ricas que hoje?
Que respostas?
Julgo serem questões que merecem respostas e alternativas dentro do pensamento conservador.
E aí temos que apontar o conceito de recursos finitos como sendo confuso. Os recursos são o que são. É o homem e as instituições por ele desenvolvidas ao longo da História, que utilizam e mantêm esses recursos, que determinam em que medida os recursos se tornam mais ou menos escassos no tempo. Os recursos que foram integrados num sistema de direitos de propriedade e iniciativa privada, de mercado, têm sido historicamente sustentáveis. Não é fácil encontrar recursos que tenham sido integrados num regime de direitos de propriedade que seja mais escasso hoje do que há cem anos.
Os homens são o recurso infinito e a sustentabilidade é alcançada pondo os homens a resolver problemas humanos, com o mercado, os direitos de propriedade e as estruturas históricas da sociedade civil.
O mercado não é perfeito. Que não haja utopias.
Mas é o sistema com mais folga e flexibilidade nas inevitáveis crises e dificuldades.