sábado, dezembro 30, 2006

PENSAMENTO E ACÇÃO

Desde sempre, nos opusemos ao falso pensamento que se devora a si próprio, à inteligência em si própria fechada sem o alimento da Natureza, da História e do ideal, à doutrina conquistada e petrificada sem a alma da fé, seca e murcha sem a acção que lhe dê seiva. Assim como a actividade humana precisa de um pensamento que a oriente, também o pensamento deve, para ser autêntico, continuar-se, marcar-se e confirmar-se no mundo, agindo e conformando. Por isso, combatemos os que se recolhem à sua alma, indiferentes ou adversos à transformação do mundo histórico, e procuram mas é comunhões panteístas, cósmicas, metapsíquicas. Por isso, combatemos os que, devido à conveniência ou à rotina, papagueiam doutrinas, e, devido ao comodismo ou ao cepticismo, não agem nem fazem agir de acordo com elas. Por isso, combatemos os que propõem puras técnicas e puras máquinas. Por isso, combatemos os que têm, num compartimento, a teoria, e guardam a prática, em outro.

sexta-feira, dezembro 29, 2006

Os Grandes Desafios de Portugal

Na continuação do ciclo de conferências denominado "Os Grandes Desafios de Portugal" vai realizar-se no próximo dia 10 de Janeiro, pelas 18 horas, no Salão Nobre do Palácio da Independência uma conferência sobre o tema "Portugal e o Mundo Árabo-Islâmico", pelo Engº Ângelo Correia.

Novas da frente

Nesta fase em que se prepara a legalização dos grupos cívicos que se propõem intervir na campanha contra a liberalização do aborto, podemos comunicar a todos os amigos e companheiros que tanto o "Juntos pela Vida" como a "Plataforma Não Obrigada" já têm as assinaturas necessárias para participar na campanha do referendo abortista.
De modo a assegurar que a campanha do "Não" tenha o maior número possível de tempos de antena, é importante neste momento angariar assinaturas para outros movimentos com idêntica orientação.
Sugere-se para esse efeito a plataforma "Diz Que Não", que ainda não atingiu o número indispensável de assinaturas.
Para informações, consultem esta página sobre Recolha de Assinaturas.

quinta-feira, dezembro 28, 2006

História Militar

Hoje ao fim da tarde, em Lisboa, palestra com o tema “Subsídios para a História da Batalha de Trancoso”, pelo Coronel Victor Portugal Valente dos Santos.
A partir das 17h30, na sala de convívio do Palácio da Independência.

Para Castelo Branco

Hoje quinta-feira pelas 18 horas será apresentado publicamente um grupo cívico que batalha pelo "Não" à liberalização total do aborto a pedido.
Chama-se "Pela Vida - Sempre" e a sessão de lançamento terá lugar no NERCAB - Núcleo Empresarial da Região de Castelo Branco.

Partidas da memória

Tem-me acontecido frequentemente. Gente com quem me cruzei algures no passado, e que tinha perdido de vista há eternidades, partilha comigo recordações, imagens de passados perdidos que seriam comuns.
E de repente a sensação de cumplicidade do reencontro volve-se estranheza, fica-me a remoer por dentro um gosto incómodo e desconfortável.
O que se lembram eu não me lembro, e o que me lembro não condiz. As lembranças e os instantes de que me falam, e em que seria suposto rever-me, ou não os vivi ou não ficaram comigo. Não me reconheço nos retratos, o que guardei de mim não é o que ficou nos outros.
Habituei-me a ouvir numa atitude que procura ser compreensiva e afectuosa. Afinal, há que dizer que as pessoas falam de algo que fazem gosto que seja assim, e provavelmente interpretariam mal desmentidos ou correcções.
Abstenho-me porém de retribuir exibindo pelo meu lado lembranças que tenha do interlocutor. Temo a queda no mesmo abismo.
E, fico a pensar, no fim de contas, o que me garante que é a memória deles que está errada, e que não é a minha que me falseia?
Por vezes penso que a memória pode ser um órgão que se constrói a si mesmo, regido por leis e impulsos inexplicáveis para nós, que somos sujeitos dela.
Outras vezes penso que o problema pode não estar só nas construções e reconstruções da memória, mas sim logo na percepção e impressão originais. Como acontece na estafada história dos cegos e do elefante, em que a cada um só foi dado apalpar uma parte do animal – a tromba, a cauda, uma pata, a barriga – e a partir dessa experiência sensível cada um cria uma noção de elefante que reproduz as características do que tocou.
Como é evidente, nesta reflexão não entram mentirosos. Por isso é que a questão é complicada.

quarta-feira, dezembro 27, 2006

Recolha de assinaturas

Porque viver é comprometer-se, este é o momento de assinar...
Decorre em todo o país a recolha das assinaturas que permitirão aos grupos cívicos empenhados no combate à liberalização total do aborto inscreverem-se junto da Comissão Nacional de Eleições, para que tenham durante a campanha direito a tempo de antena nas rádios e televisões e a um tratamento adequado na comunicação social.
Aqui vão algumas indicações destinadas a facilitar essa tarefa, que urge realizar nestes poucos dias que faltam.

Açores -> Açores pela Vida

Aveiro -> Liberalização do Aborto? Não! -> contactar Juntos pela Vida

Braga -> Minho Com Vida
Apartado 169 - E.C. Avenida - 4711-910 Braga
info@minhocomvida.org 964407654

Bragança -> Nordeste pela Vida -> contactar Juntos pela Vida

Castelo Branco -> Pela Vida - Sempre! -> contactar Juntos pela Vida

Coimbra (e Leiria) -> Aborto a pedido? Não! -> contactar Juntos pela Vida

Évora (com Beja e Portalegre) -> Alentejo Pelo Não

Faro -> Algarve pela Vida -> contactar Juntos pela Vida

Lamego -> Escolhe a Vida -> contactar Juntos pela Vida

Lisboa -> Juntos pela Vida
juntospelavida@gmail.com 912468132

Lisboa -> Plataforma Não-Obrigada
direccaoexecutiva@nao-obrigada.org

Lisboa -> Diz que Não
dizquenao@gmail.com

Lisboa -> Diz que Não à Discriminação -> contactar Juntos pela Vida

Porto (com zona de Famalicão) -> Norte Pela Vida
tudo.pela.vida@sapo.pt

Santarém -> Ribatejo pela Vida -> contactar Juntos pela Vida

Setúbal -> Diz que Não -> contactar Juntos pela Vida

Vila Real -> Vida, Sempre! -> contactar Juntos pela Vida

Nota final: com folhas totalmente preenchidas ou não, é preciso enviá-las para as direcções indicadas nos respectivos impressos e cumprir as datas-limite de envio e/ou entrega indicadas nas folhas. Bom trabalho a todos, e Feliz Ano Novo!

terça-feira, dezembro 26, 2006

Dúvida existencial

Teríamos nós sido, afinal, meros gladiadores da burguesia?

segunda-feira, dezembro 25, 2006

Lembrança

No meu tempo, dizia-se que se confrontavam em Portugal dois modelos de socialismo: o modelo "Pestana & Brito" (Soares) e o modelo "sobrancelha e bruto" (Cunhal).
Com o tempo, instalou-se este modelo único, pronto-a-vestir, e sinto que se perdeu algo na confusão.

domingo, dezembro 24, 2006

Momento

Concessão ao espírito natalício: canta Tino Rossi, "minuit chrétien".

Ciência Política

Para conhecer quais são as ideias políticas dominantes num dado momento numa dada sociedade basta observar quais as que defendem aqueles que se consideram apolíticos.

sábado, dezembro 23, 2006

Afinidades electivas

Depois de ter encontrado em diversos locais indubitavelmente esquerdistas várias referências carinhosas ao que os autores chamam "a direita culta, inteligente e civilizada" creio ter entendido com algum rigor qual é a coisa a que corresponde a designação. A "direita culta, inteligente e civilizada", a que a esquerda repetidamente se refere, corresponde à direita sociológica que absorveu e interiorizou sem crítica ou objecção a "formatação mental" que define a esquerda.
É aquela burguesia urbana que partilha com a esquerda, por inteiro, as referências culturais, a "forma mentis", os valores, o estilo de vida, o consumo de toda a parafernália de bens colocados no mercado pela produção industrial a que a esquerda se dedica há muito nos terrenos que vão desde o campo artístico e literário até ao mero lazer e entretenimento.
Quando se dedica a actividades intelectuais, essa direita limita-se com naturalidade a passear o intelecto pelo universo esquerdista. No terreno previamente demarcado, aceita a distribuição de papéis: uns são de esquerda, outros são de direita. Mas dentro dos limites dados pelo quadro mental prédefinido.
A relação entre a esquerda e essa direita é assim necessariamente íntima, feita de cumplicidades e subentendidos: os pressupostos são os mesmos, só uns gostos, umas manias e uns afectos é que provocam divergências. Mesmo quando momentaneamente entram em polémica, persiste sempre entre uma e outra mais ou menos a mesma relação que existe entre os Drs. Miguel Portas e Paulo Portas. Entre a esquerda caviar e a direita catita a diferença resulta por vezes, apenas, de qual foi o primeiro filme a impressionar-lhes a imaginação juvenil.

O Silêncio da Memória

Por razões que talvez alguns leitores entendam, tenho procurado divulgar e apoiar aqui a acção da APFADA- Associação Portuguesa de Familiares e Amigos de Doentes de Alzheimer.
Ao contrário de outras instituições por que tenho manifestado estima, neste caso não estamos perante um projecto de esperança. Trata-se tão só de solidariedade. Atrevo-me a dizer que no entanto ainda é de defesa da vida que se trata. Não da vida que se levanta como uma promessa de futuro, mas certamente de vida que ao nosso lado se extingue inelutavelmente - e nos força a interrogar sobre a sua precaridade, e sobre a sua contingência, para mais e mais intensamente descobrirmos o seu valor.
Proteger e amar as crianças é fácil - corresponde ao nosso interesse pessoal no amanhã, é afinal de contas um investimento. E tudo nas crianças nos transmite a beleza e a alegria do que fomos, a nostalgia da juventude que nos sorriu.
Ao contrário, o problema dos doentes de Alzheimer, como de todos os problemas da morte, da velhice, da invalidez, da miséria e da dependência, coloca-nos frente a frente com os nossos terrores, que se expõem de súbito na fealdade grotesca de situações desesperadas, angustiantes, de que fugimos incomodados.
Por isso nas sociedades contemporâneas, que correm apressadas e ligeiras em busca da felicidade que foge à nossa frente sem jamais se deixar alcançar, esta problemática tende a ser afastada e escondida da nossa vista, como se fosse possível esquecê-la - e fugir...
Daí o heroísmo das associações que, a contracorrente, se erguem do nada para lembrar que a solidariedade pode ser desprovida de outros objectivos que não sejam minorar o sofrimento dos outros, mostrar que mesmo nas situações mais extremas somos orgulhosamente uma sociedade e não uma horda de predadores, ou uma soma de egoísmos individuais. E que a dignidade da vida pode afirmar-se também pela dedicação com que a cultivamos e respeitamos até ao fim. Os valores defendem-se aqui, na fronteira, onde a sua afirmação mais precisa de entrega total, e se confronta a toda a hora com a tentação do abandono e da derrota.
Nestas batalhas, do voluntariado e da organização ao serviço de uma ideia de vida comunitária que passa pela afirmação constante da dignidade da vida humana desde a sua concepção até ao momento da morte natural, joga-se ainda e também a nossa concepção do mundo e da vida. Quem dera que muitas APFADAs mostrassem a saúde e a vitalidade da comunidade de destino em que estamos inseridos.

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Do Sul ao Norte, do Norte ao Sul

Trabalhar em rede, pela causa certa: Norte pela Vida, Alentejo pelo Não.

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Problemas de identidade

L’identité vue par Samuel Huntington et Alain de Benoist

Lá como cá

La réforme de l’université: comment tenir une gageure

Direito e História

Appel de juristes contre les «lois mémorielles»

ID Magazine


Para conhecer ID Magazine

TERCEIRA VIA


O prazer da tertúlia

Forum Portugal


O prazer da tertúlia

República dos livros


Visite à Célinegrad

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Atracção fatal

Assisti há pouco à reportagem sobre a sessão pública em que falaram a Ministra Isabel Pires de Lima e o Comendador Joe Berardo, essencialmente para comunicar às massas, os dois faiscantes de orgulho, que a famosa colecção de arte do comendador foi avaliada por uma não menos famosa leiloeira londrina em cerca de 318 milhões de euros.
Uma nova ponte? Chelas-Barreiro, com serventia rodoviária e ferroviária?
Pensando no preço, e juntando-lhe mais umas insignificâncias, como a instalação, manutenção, e o espaço do Centro Cultural de Belém, pode calcular-se por quanto nos ficará o negócio. Pode??
Mas o que mais me impressionou foi o ar deslumbrado da senhora e a pose de pavão do magnate.
Nunca deixou de me intrigar o fascínio recíproco entre os ricos e os comunistas.

Atenção Portalegre

Hoje é o dia do lançamento do Movimento "Alentejo pelo Não", em Portalegre, às 21h00, no Auditório do Museu da Tapeçaria.

terça-feira, dezembro 19, 2006

Conferência no Palácio da Independência

Neste dia 20 de Dezembro, quarta-feira, integrada no ciclo dedicado ao "Pensamento Luso-Brasileiro", conferência sobre “Leonardo Coimbra”, pelo Prof. Doutor Ferreira Patrício, na Sala do Conselho Supremo, pelas 17h30 (SHIP).

O FUNDAMENTO DO DIREITO

(Cumprindo o prometido, segue-se o trabalho de Manuel Cavaleiro Ferreira intitulado "O fundamento do Direito", publicado na revista "Acção", de Janeiro de 1933. Era o primeiro número da revista, e o autor acabara de completar 22 anos. Se houver por aí muitos mancebos dessa idade prontos a alinhar prosa deste calibre têm aqui um lugar à vossa espera. Eliminei as anotações de pé de página, para mais fácil leitura.)

Procurando apenas alcançar uma profissão rendosa, há estudantes de direito que só cuidam de saber interpretar bem as leis, manejar fórmulas, combinar conceitos, preparando-se assim para, numa dialética avisada, poderem, em futuras causas, defender indiferentemente um ponto de vista ou o seu contrário.
O direito é para muitos simplesmente um conjunto de preceitos impostos coactivamente pelo Estado, e apanágio dos seus servidores é a sua interpretação e aplicação... habilidosa aos casos correntes. Tirar do direito a norma que convém, atribuindo àquele o conteúdo mais adequado aos próprios interesses, como se ele fosse vazio de conteúdo seu, é a única finalidade do rábula cujo “espírito” importa destruir para dignificação das profissões forenses. É este espírito o gerador do desdém que hoje cobre a ciência do direito e os juristas, é ele a causa do humilhador sorriso dos que não tendo a alma rígida de Catão para condenar, encontram na própria elasticidade de consciência suficiente indulgência para perdoar os expedientes, os sofismas de que julgam formada toda a vida jurídica, como se fossem “verduras” duma profissão agarotada. Compete a todos os que a ela se dedicam protestar contra um tal conceito. Devemos ter orgulho da nossa profissão; mas orgulho sincero, o qual pressupõe o conhecimento do seu valor.
O direito não se reduz ao formalismo dos seus conceitos, das suas categorias, das suas classificações e teorias, nem mesmo às suas fontes formais; não se reduz tão pouco à vontade incluída nestas fontes formais, à vontade do legislador (lato sensu). Essas mesmas fontes são também processos de ordem técnica, são o lado artificial do direito, de carácter principalmente voluntarista, mas não são o próprio direito. São as vestes que o cobrem, indispensáveis para lhe dar a precisão exigida pelo seu carácter imperativo e necessárias para a organização duma coacção eficaz. Isto é, a aparelhagem técnica assegura ao direito a sua praticabilidade.
Mas se o formalismo visa somente a “realização” do direito, e não se justifica nem sustenta a si mesmo, onde encontrar a razão explicativa da existência e evolução do direito, o “segredo da sua vida”, e mais ainda o seu fundamento?
São numerosos os escritores que na vida social vêem a génese do direito. Já a escola histórica o considerava um produto das condições históricas, revelado pela consciência do povo. Durkheim lançando as bases da escola sociológica vê na sociedade um ente psíquico, distinto dos seus componentes, e portanto gerador de factos sociais, que a ele se ligam como o efeito à causa. Entre esses factos está o direito. E querendo atribuir à moral e ao direito a força obrigatória que não resulta da mera constatação dos factos vai tão longe no seu misticismo que diviniza a sociedade. A Divindade é um símbolo da sociedade; esta exige racionalmente dos indivíduos a mesma deferência que a Deus tributam os crentes.
Ora a concepção da sociedade como entidade independente dos seus membros componentes é pura fantasmagoria... E conseguintemente a consciência social - pretensa base do direito - que tem por pressuposto a unidade psíquica da sociedade, uma criação imaginativa absolutamente irreal. É certo que a sociedade não é simplesmente a soma dos indivíduos que a compõem. As psiques individuais agregadas influenciam-se reciprocamente e o seu todo apresenta uma certa unidade. Mas é uma unidade de coordenação, uma maneira de ser dos indivíduos e não um ente diverso destes. Numa palavra, a sociedade não é uma mera justaposição de indivíduos, mas também não é um organismo; é uma organização.
Destruída a noção de consciência social, Duguit dá por fundamento ao direito o conjunto das consciências individuais. O estado especial destas consciências, que gera o direito, tem por sua vez a sua causa em dois sentimentos: o sentimento de interdependência, e o sentimento da justiça. Mas estes sentimentos são somente dois factos, sem qualquer conteúdo objectivo. O seu conteúdo é totalmente empírico, subjectivo. Assim considerado, o sistema de Duguit se nos mostra a importância da opinião pública na elaboração do direito não nos dá o fundamento deste. Não nos fornece o critério de aferição do valor dessa mesma opinião pública; as bases do direito são, por isso, instáveis e movediças. A consciência social (no sentido de soma das consciências individuais) ou a opinião pública, é simplesmente a resultante duma luta - é o predomínio duma opinião, duma ideia. É a opinião mais forte. Ou seja: o direito é a força.
O positivismo jurídico ainda mais claramente considera a força como sendo o próprio direito. A vontade dos governantes é o direito, e eles são os governantes porque são os mais fortes. É certo que essa vontade não é arbitrária; tem de ceder ante as demais forças sociais. E da luta permanente entre interesses, paixões e ideias adversas resulta a lei. Esta é um equilíbrio mecânico entre várias forças. Nem importa que entre essas forças se contem as que têm carácter moral, ideal, e religioso, como admitem Ripert e Bunge, porque a noção de moral, como todas as noções metafísicas, é para o positivismo de carácter subjectivo.
Simples opiniões que variam de indivíduo para indivíduo.
Procurar o direito na vida social é deixar aos factos a função de se regularem a si mesmos. As paixões, os interesses, tudo o que o direito precisamente devia evitar, entregue a si mesmo, só encontra uma barreira na luta com interesses, com paixões adversas. A mecânica das forças traçaria assim a linha da evolução jurídica.
…Sem do direito natural não há possibilidade de encontrar um princípio de ordem, uma finalidade em vista da qual se realize a organização da vida social.
Todas as correntes que ao de leve criticamos excluem a metafísica. São, filosoficamente, positivistas. E «o debate que o positivismo levanta concentra-se nesta proposição essencial: o sensível encerra toda a esfera do cognoscível; o homem por sua própria natureza ignora o que não é da ordem empírica”. Daí, a negação de qualquer valor absoluto no direito. Mas, a afirmação da impotência da razão humana para se elevar acima do relativismo dos fenómenos, está longe de ser verdadeira e os mesmos que a formulam a contrariam no seu labor científico. Certamente, na ciência jurídica, só devemos servir-nos da observação e da razão; mas demos à razão o que lhe pertence; não é lícito diminuir a sua esfera de acção.
Ora da observação atenta dos actos humanos induz-se a existência duma predisposição do homem para agir de certo modo. É necessária, contudo, uma observação prudente e principalmente um raciocínio lúcido para pôr de parte os actos que têm a sua origem em inclinações, artificialmente criadas por causas externas, pelas paixões, pela imitação, pelo hábito, que é como que uma segunda natureza. E assim se corrobora a existência de inclinações naturais que são a revelação da nossa natureza comum. Mas, uma natureza com propriedades estáveis e universais tem, por certo, uma finalidade. A sua estabilidade ou é devida ao acaso ou só num fim pode ter justificação. O conhecimento perfeito da natureza implica, portanto, o conhecimento do seu fim. Em todos os domínios governados pela necessidade, o seu fim realiza-se forçosamente em obediência ao plano divino da criação. Na natureza humana, porém, domina a liberdade; o homem é chamado a participar no governo de si mesmo. É fisicamente livre de seguir a sua natureza, de conseguir a sua perfeição. O homem deve seguir o caminho que a natureza lhe indica; mas a lei natural para ele somente se reveste duma necessidade moral. Os preceitos da lei natural, sendo a tradução em regras normativas das inclinações naturais, são por isso mesmo instintivos, sem deixarem de ser racionais, porque a razão segue a própria natureza. O seu conhecimento vem depois, pela reflexão sobre as próprias inclinações. É governando as nossas inclinações, diz G. Renard, que a razão toma consciência de si mesma. Esses princípios correspondentes às várias tendências do homem são universais e imutáveis e de todos conhecidos. Podem reduzir-se a um só: bonum est faciendum. Esta expressão não é, porém, uma fórmula desprovida de conteúdo material, porque a razão prática considera “bem” o que é conforme àquelas tendências naturais nos diversos campos de actividade humana.
As deduções dos primeiros princípios, como lhes chama S. Tomás, perdem gradualmente a mutabilidade e universalidade destes, à medida que vão sendo aplicadas a campos de acção mais restritos. Os princípios do direito natural dão-nos uma orientação, uma finalidade na regulamentação das relações sociais, e essa finalidade encontra-se imanente em toda a ordem jurídica, em todas as normas. Mas mais nada.
A vontade do legislador, consoante o direito natural perde a sua precisão na sua aplicação a matérias cada vez mais concretas, adquire maior liberdade, para suprir essa mesma falta de precisão.
Não devemos, portanto, pedir ao direito natural o que ele nos não pode dar: uma regulamentação detalhada das relações sociais. Foi esse o erro dos jusnaturalistas dos secs. XVI a XVIII que pretenderam deduzir um sistema completo de normas da natureza humana.
Não pensaram também que ao lado do indivíduo, cuja natureza é social, existe a sociedade, que é precisamente a coordenação dos interesses dos indivíduos e dos grupos num interesse mais vasto, no bem comum que constitui o objectivo do direito.
O elemento moral do direito - ou seja o direito natural - não é todo o direito.
Primeiramente, são, em regra, só as normas de moral social que entram na elaboração jurídica, porque assim o exige o próprio fim da organização jurídica, e ainda a utilização dessas normas está condicionada pelas possibilidades dos meios de que se serve a técnica do direito.
E depois os princípios do direito natural, gerais e indeterminados, só se concretizam na sua aplicação às condições diversas e variáveis da sociedade a que se destinam. Essa fusão do elemento moral com o elemento económico ou experimental com base no bem comum dá-nos o plano da elaboração jurídica. É função do legislador o sacrificar um ou outro elemento, segundo as circunstâncias e tendo sempre em vista o bem comum.
É pouco o que nos dá o direito natural? É o bastante para fundar solidamente o direito positivo. O direito natural não é um ideal em relação ao direito positivo. É a sua base. Está no seu ponto de partida, e não na sua meta, o que não quer dizer que não seja um progresso da ordem jurídica, o predomínio cada vez maior do elemento moral, nos elementos constitutivos do bem comum.
Não é, pois, muda a natureza quanto à orientação que devemos dar à nossa conduta. A justiça (virtude fundamental da moral social) não se reduz a uma convenção, não é uma palavra vã, como Ovídio pretendia, seguindo a escola de Epicuro:
Nec natura potest justum scernere iniquum.
É uma realidade. E a primeira maneira de a servir é defender a sua existência, é colocá-la acima do indivíduo e do Estado, da Liberdade e da Autoridade, como princípio superior da organização social.

M. CAVALEIRO DE FERREIRA

António Braz Teixeira

Um autor a descobrir, nos caminhos da Filosofia e do Direito.
António Braz Teixeira completou este ano os 70; e a par de reedições aumentadas de escritos antigos fez questão de nos presentear com novas obras, bem representativas do que de melhor devemos ao seu espírito criativo e investigador.
Recomendo aos amigos, em qualquer livraria: "Sentido e valor do Direito", "Caminhos e figuras da Filosofia do Direito luso-brasileira", "História da Filosofia do Direito Portuguesa", "A filosofia da saudade", "Diálogos e perfis".
Não é "leitura para o Natal". São leituras para sempre.

Alentejo Pelo Não

Continua em marcha o Alentejo Pelo Não: Nicolau Breyner entrou para a equipa.

Memória da Índia Portuguesa

Bela evocação no local próprio: Je Maintiendrai.

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Não posso dizer adeus às armas



Foi há 45 anos, no Estado Português da Índia.
Em cima, Cunha Aragão e Oliveira e Carmo.

A crise do CDS

"O regresso de Portas faz parte de uma estratégia concertada com dirigentes do PS, não sei mesmo se com José Sócrates, e visa tentar enfraquecer o PSD."

Conversa sobre alfarrábios

Últimas descobertas de alfarrabista: uns números velhos das revistas "Gil Vicente" e "Acção".
Os primeiros são de 1947, e a velha revista vimaranense, tendo à frente D. José Ferrão e Manuel Alves de Oliveira, já então se envaidecia de ser a mais antiga publicação nacionalista portuguesa (contava na altura 22 anos).
A segunda revista merecia aqui referência mais detida: trata-se do órgão da Juventude Universitária Católica, de Lisboa, logo nos primórdios desse organismo. Sente-se o impulso directo do Cardeal Cerejeira, e nota-se a presença do que de melhor havia então entre os jovens católicos da academia lisboeta. O interessante é que o período em causa é o ano lectivo 1932/33. A revista começou a sair em Janeiro de 1933.... (pense-se na cronologia: movimento nacional-sindicalista, acção escolar vanguarda, mocidade portuguesa). A ideia que me ficou do exame é que ali estavam os jovens católicos do Patriarcado; as tropas juvenis de Cerejeira. Não seriam em número impressionante, mas eram um escol que viria a marcar presença na vida portuguesa. O achado mais valioso nestes números foi um artigo de Manuel Cavaleiro de Ferreira, sobre o Direito, que se tiver tempo hei-de passar para aqui. Julgo que será desconhecido de toda a gente, perdido que ficou numa revistinha estudantil de escassa divulgação. Encontrei também um curioso artigo de Luís Pinto Coelho, sobre neo-malthusianismo, muito a propósito nestes tempos que correm. A secção de Direito destacava-se, chefiada pelo próprio presidente da JUC, Manuel Rino, e por Francisco de Castro Caldas. Mas ter dois futuros Doutores como Cavaleiro e Pinto Coelho é obra!
E agora uma nota pessoal: sabe o Dr. Cruz Rodrigues quem encontrei como animadores da secção de Agronomia? Pois, entre outros, nem mais nem menos que dois nossos velhos e saudosos amigos: Agnelo Galamba de Oliveira e José Rebelo Vaz Pinto... É justo dizer-se que dos vinte aos oitenta anos nunca faltaram à chamada. Que Deus os tenha à Sua Santa Guarda.

Urbanidade

Vem de trás, de certas fantasias revolucionantes, o desprezo por qualquer preocupação com a urbanidade no trato social.
Qualquer manifestação de delicadeza caiu rotulada de artificialismo sem conteúdo, quando não até de hipocrisia.
O pior é que o abandono das normas de civilidade, que num plano geral contribui e não pouco para a degradação de todas as relações sociais, em certas áreas específicas tem consequências especialmente desastrosas.
Com efeito, para a boa prossecução de algumas funções é essencial a qualidade da relação estabelecida com os destinatários dessas tarefas. Quebrada a possibilidade de uma relação saudável fica comprometido o próprio sucesso da missão.
E aqui ressalta que o problema não é tão só de polimento e de cortesia, situa-se já no próprio terreno da eficácia desejada.
Como alcançar adequada colaboração entre o cidadão comum e os agentes policiais se os primeiros sentirem que a abordagem usual por parte destes é malcriada, arrogante ou prepotente?
Como conseguir um clima apropriado na relação médico-doente se estes últimos sentirem a sua dignidade ferida pelo modo achincalhante com que são tratados quando procuram os serviços de saúde?
Note-se que a estes exemplos poderiam acrescentar-se mais uns tantos, sem esforço.
Aponto estes dois porque deles posso dar testemunho pessoal, e penso que muitos dos leitores não terão dificuldade em acompanhar os passos do meu raciocínio.
Importa notar que da simples grosseria até à brutalidade pura muitas vezes a distância é muito curta, e não raro acontece encontrarmos ambas em concurso.
Sempre que posso, em conversa com pessoal clínico ou de gente das forças de segurança, chamo a atenção para os problemas prementes que sinto nessa área. Tenho a sensação de que é muito difícil uma sensibilização autêntica; quase sempre os meus interlocutores anuem de forma condescendente em que aqui ou acolá algum problemazito desses sempre haverá, para logo rematar com impaciência qualquer coisa do género “mas oxalá que os nossos problemas fossem esses”. A desvalorização não augura nada de bom para a evolução futura do tema em apreço.
Com frequência encontro médicos que se me queixam amargamente do aumento que verificam das situações de violência por parte de utentes e seus acompanhantes, nos locais de atendimento. E de igual forma o pessoal ligado às corporações policiais me exprime muitas vezes as suas preocupações com o crescendo das situações de violência de que são alvo todos os agentes no exercício das suas funções - nalguns casos com consequências dramáticas.
Mas não consigo que nenhum deles repare a sério na violência corrente e "normal" que está tantas vezes presente na abordagem típica de muitos desses profissionais às gentes que com eles são forçadas a estabelecer contactos, quase sempre em posição de inferioridade, quando não de notória fragilidade.

Violência

Nas escolas secundárias por onde passo estão a decorrer obras, aliás lentas e arrastadas como costumam ser as obras públicas.
Ao princípio pensei que poderia tratar-se de qualquer melhoria útil à finalidade que é suposto ser a de uma escola, mas a minha instintiva boa fé logo se viu desmentida por mais atenta observação.
Os tais trabalhos traduzem-se em melhorar as condições de segurança, preocupação que modernamente aflige toda a gente com ligação às escolas. Trata-se de construir nas entradas instalações para os guardas, como dantes no imaginário do cidadão comum só se viam nas prisões, trata-se de erguer obstáculos que isolem do exterior e vedem os estabelecimentos escolares, levantando muros e gradeamentos.
As nossas escolas estão a ficar parecidas com quartéis ou prisões, tornando regra uma espécie de estado de sítio.
Compreendo assim que quem lá esteja dentro sinta sérios problemas de claustrofobia, tenha complexos próprios de quem se sente cercado e assediado.
Este fenómeno não é muito antigo, e todavia parece ser encarado com resignação, ou aceite como normal, pela generalidade da sociedade.
Gozará de boa saúde uma sociedade em que ir para a escola seja tido comummente como um risco de assaltos e agressões? Será aceitável uma situação em que os responsáveis pelas escolas têm que preocupar-se antes do mais com questões elementares de segurança, em vez de poder centrar-se nas questões básicas do ensinar e do aprender?
Creio que uma cegueira colectiva nos impede de ver o evidente, ou então há um impulso que nos desvia o olhar.
Também é verdade que no futebol, que é um jogo, se generalizou e vulgarizou uma situação em que é impensável organizar um encontro sem planear a segurança como se de um confronto militar se tratasse.
E ninguém parece revoltar-se contra essas anomalias. Um jogo rodeado de milhares de polícias, armas, bastões, canhões, escudos e viseiras, ou escolas amuralhadas, guardadas por seguranças, isoladas por detectores de metais e vigiadas por câmaras digitais.
O mundo está a enlouquecer, e não dá por isso.

domingo, dezembro 17, 2006

Profecia

A espalhafatosa nomeação de Maria José Morgado vai terminar com uma demissão ainda mais espalhafatosa. Só não sei é quando.

sábado, dezembro 16, 2006

Admirável Mundo Novo

De como um jovem açoreano descobriu Natalie Wood em Teerão.

Bibliofilias


Há uns meses saiu em livro um trabalho de António Ventura (um compadre da Voz Portalegrense) onde estão coligidos vários testemunhos contemporâneos sobre os momentos finais do reinado de D. Miguel, muito interessantes de ler para quem se interessa pela atmosfera desses tempos revoltos.
Noto-lhe a falta de um depoimento que aqui tenho e que enriquecia o conjunto: as Memórias de Frei Francisco d'Assunção Ferreira de Matos, editadas há uns anos pelos monges da Cartuxa de Évora a partir do manuscrito, que se guardava em Itália (foi encontrado na Cartuxa de Calábria). Trata-se de um testemunho cheio de curiosidades, um relato pessoal das vicissitudes do frade cartuxo (de Laveiras), desde 1822 até 1863. Destaco sobretudo as páginas referentes à passagem por Évora, Estremoz e Elvas, na confusão final da derrocada e da fuga, em 1834.
O autor nunca regressou ao Reino, vindo a falecer em Itália como Prior da Cartuxa de Roma.

Dos alfarrábios

Peço ajuda de leitor especialista. Estou a ler um livrinho que encontrei em banca de alfarrabista: "A verdade sôbre Afonso Costa", de Alberto Guimarães, Lisboa, 1935, Edição do Autor. Alguém me pode informar quem foi Alberto Guimarães?
O livrito é interessante: datado de 1935, persiste nele a atmosfera bélica dos anos da República. Estava então ainda vivo Afonso Costa, esforçando-se em Paris por ser lembrado em Portugal. E o autor faz por desancar impiedosamente o homem e o seu fantasma.
Uma curiosidade: conhecem os leitores o chiste atribuído ao Padre José Maria Gomes, personagem célebre no seu tempo, em resposta a Afonso Costa?
Eu conto. Vem no "Vale de Josafat", de Raul Brandão. A história terá ocorrido em Guimarães, num julgamento em que Afonso Costa intervinha como advogado. O Cónego José Maria Gomes, famoso piadista, era testemunha. A certa altura do seu interrogatório o advogado desagradou-se do modo como a testemunha lhe estava a responder e comentou:
- Aí está o senhor a meter uma no cravo e outra na ferradura!
Resposta pronta do Padre Gomes:
- É que o senhor doutor não pára com o pé quieto!...
Deixo-a como a conta Raul Brandão.

Um ano

O aristocrático Je Maintiendrai completou um ano entre nós. E está eufórico! Ora, o que é um ano?!!!

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Blogómetro

Como comprova o Blogómetro, nosso único medidor de audiências, o nível de popularidade deste blogue vai-se afundando paulatinamente.

ALENTEJO PELO NÃO

Já foi tornada pública a lista de mandatários do movimento "Alentejo Pelo Não":

Adorinda Sande Caeiro
Amélia Vaz da Silva Sequeira
António Moraes Baptista
Arnaldo Rodrigues Trindade
Augusta Portas Pereira
Carolina Sarsfield Fialho
Conceição Torres Vaz Freire
Cristina Morais Ribeiro Tristão
Eduardo Sabido Costa Falcão
Feliciano Miguel Ortega Cláudio
Ilda Silveirinha de Mello Breyner
João Câmara Chaves
João de Brito Fialho
João Sampaio Pacheco
João Alves Catarino
José Ramos
Leonor Morais Cardoso
Luís Miguel Santos Sebastião
Natália Ferreira Caeiro
Nuno Potes Cordovil
Paticia Caeiro Gonzalez Teixeira
Pedro Faria Paixão
Pedro Giões
Rafael Gagliardini Graça
Suzana Telo Cabral
Teresa de Bragança Van Uden Chaves
Teresa Godinho Teigão
Virgílio dos Santos Maltez

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Alentejo Pelo Não

Nasceu o movimento "Alentejo Pela Vida".

terça-feira, dezembro 12, 2006

O Minho pela vida

Uma nova associação de âmbito regional a juntar-se à lista do Não:
MINHO COM VIDA.

Enviados especiais em Teerão

O Nuno Rogeiro e o Flávio Gonçalves.

Ainda a morte de D. João VI

O estimado e admirado JM deixou um comentário ao meu apontamento sobre a morte de D. João VI que se traduz em recordar a dúvida sobre a autoria: sempre os malhados podiam retorquir a qualquer suspeita contra eles lançada que os homicidas tinham sido os corcundas, e com efeito também esse rumor foi posto a correr na época.
Como a discussão é susceptível de interessar a mais gente, respondo aqui a essa observação (caso o JM pretenda usar da mesma faculdade tem esta casa ao seu dispor, e muito a valorizava).
Já que me espicaçou, agora atura-me.
Com todo o respeito pelo ilustre interpelante, nesta questão não parece haver fundamento para grandes dúvidas.
A haver crime, e era só o que se punha em dúvida, na situação então existente só o podiam ter cometido os que tinham o Rei inteiramente à sua mercê e nas suas mãos.
O rumor sobre os "corcundas" surgiu tardiamente, e claramente em contra-ofensiva.
Mas nunca foi levado a sério por ninguém: repare-se que os factos a que eu aludi só poderiam ser praticados por quem dominasse o "palácio".
E a intencionalidade desses factos resulta clara e iniludível: afastar a Regência de D. Carlota Joaquina, e afastar da sucessão o Infante D. Miguel.
Nem a Rainha, completamente incomunicável no Ramalhão, nem o Infante, então no exílio, podiam ter mantido o Paço de Bemposta em isolamento total e ir elaborando as informações diárias sobre o estado de saúde do Rei, e ainda para mais mandar fabricar um documento que impunha uma Regência contra as normas até aí conhecidas e que obviamente visava mantê-los para sempre afastados do poder. Nem certamente o publicariam na Gazeta oficial…
Os autores e executores do plano foram logo em cima do acontecimento apontados ao público: Lacerda, Barradas e Rendufe, que eram quem tinha as chaves e o poder para comandar estes acontecimentos. O Rei era um refém na Bemposta, ninguém tinha nem teve acesso a ele durante esse período.
Quanto ao documento em que tudo indica residir o essencial da questão, até correu a identidade do autor material da falsificação: terá sido um funcionário do Ministério da Justiça de nome José Balbino.
O que bate certo com o pormenor de ser Ministro da Justiça precisamente o referido Barradas.... e bate certo também com a conclusão do exame grafológico quando este diz que a rúbrica foi feita por mão habituada ao uso do aparo, e hábil no ofício, e não condiz nem com a escrita do Rei nem com a imperfeição manual de um moribundo.
Pode objectar-se, e pensei nisso, que quem praticou o envenenamento foram uns e quem a seguir executou o golpe foram os outros. Teria a sua lógica, já que a morte súbita do Rei teria a consequência de chamar à Regência a Rainha, numa reviravolta dramática na situação política: Carlota Joaquina passaria repentinamente de uma situação de prisão domiciliária para o poder, e o governo recente teria que fugir de rabo enrolado. E D. Miguel viria do estrangeiro para reunir Cortes e ser aclamado como Rei. Portanto, o poder que foi surpreendido pela morte do Rei teria sido obrigado a congelar a notícia por uns dias para remediar a situação, elaborar a Carta Régia que indigitava uma Regência anómala e abrir caminho para ir chamar D. Pedro.
Mas mesmo esta hipótese não se apresenta nada provável.
A este respeito, como facto interessante, refira-se que pela correspondência do Núncio de então verifica-se que o Rei andava a insistir na "reconciliação" com a Rainha; traduzindo a expressão pode calcular-se o que isto queria dizer em termos políticos para o governo em funções. Também várias fontes referem que o Rei, desgostado pelo desfecho das negociações que conduziram ao reconhecimento da Independência do Brasil, em que dizia ter sido levado a assinar como coisa consumada documentos que não correspondiam à sua vontade, manifestava cada vez com mais insistência a preocupação com o problema dinástico; e propunha-se organizar o regresso de D. Miguel do exílio. Atente-se em que depois de assinados os tratados com o Brasil a situação de D. Pedro aparentava estar esclarecida e consumada, era um Imperador de uma potência estrangeira e abdicava expressamente de quaisquer direitos em Portugal. O Infante D. Miguel era o único filho que restava, afigura-se inevitável que o Rei, como outro qualquer nessa situação, pensasse na sucessão.
Tudo visto, parece poder concluir-se que os governantes de então andavam justificadamente aflitos: se deixassem andar a carruagem teriam previsivelmente que suportar de novo a Rainha e o Infante, que tanto lhes tinha custado a anular.
Acrescento o pormenor curioso do relato do embaixador britânico sobre a sua visita de condolências à Rainha, uns dois meses depois, no Ramalhão, em que este menciona que a Rainha lhe afirmou ter informações de que o Rei tinha sido envenenado com "água tofana". Parece condizer com as descobertas científicas, porque "água tofana" é um composto de arsénico.
A Rainha estava prisioneira, mas ainda assim teria os seus informadores.
O povo dizia que tinha sido nas laranjas, mas esse pormenor nunca o saberemos; todavia, o que resultou do exame às reais vísceras é que foi na realidade arsénico.
Em resumo: neste caso, face ao que é certo e conhecido, não parece possível defender com um mínimo de seriedade a responsabilidade da Rainha e do Infante, que estavam em posição tal que nunca lhes seria possível executar este golpe, e foram notoriamente os alvos do mesmo.
Quanto ao episódio que conta, de D. Pedro, deixo só uma pergunta: se ele pensava que o pai tinha sido assassinado porque não pediu contas aos seus amigos que tinham assinado todos os comunicados e proclamações sobre a doença e a morte natural? Pelo contrário, todos passaram muito bem. Rendufe ainda passaria de Barão a Conde.
E essa intenção de se vingar de um irmão assassino é compatível com as atitudes de promover o casamento dele com sua filha, Rainha, e de o fazer regressar do exílio para essa função de príncipe consorte?
A historieta parece fantasiosa. Acrescento aliás que sobre essa questão não conheço qualquer pronunciamento de D. Pedro que contrariasse a versão oficial.
E de igual modo sempre foi a versão oficial a proclamada pelos responsáveis liberais. De tal maneira que mesmo muito mais tarde, já em 1870 ou 71, quando o jornal miguelista "A Nação" voltou à carga com as acusações que acima referi a única reacção pública foi uma declaração de Saldanha anunciando que estava disposto a juntar-se ao então Duque de Palmela caso este decidisse processar o jornal por caluniar o nome do pai. Para o velho Saldanha o confronto era entre a verdade oficial (morte por doença) e a calúnia miguelista (o envenenamento pelo poder palaciano). Nada mais se discutia (e por sinal que não houve processo nenhum).
Termino por aqui, para não cansar. Se for preciso há mais.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Soljenitsine aos 88 anos

Lembrando um grande, enorme esquecido: leia-se o que escreve hoje Miguel Freitas da Costa.

Atenção Aveiro

Apresenta-se em Aveiro mais um movimento, apartidário e transconfessional, para defender o voto "Não" no próximo referendo que visa abrir as portas à possibilidade de abortar livremente (e à custa do contribuinte) até às 10 semanas de gravidez.
O movimento "Liberalizar o Aborto? Não!", fará a sua apresentação esta Terça-Feira, dia 12 de Dezembro, no Auditório do IPJ, na Rua das Pombas, junto ao estádio Mário Duarte. A sessão começará às 17:30.

O outro regicídio

Já aqui tinha chamado a atenção para um trabalho colectivo que encontrei na rede intitulado "CAUSAS DE MORTE DE D. JOÃO VI" (no sítio dedicado a São Vicente de Fora).
Repito o alerta, agora movido pelas leituras de uns alfarrábios que me ocuparam este domingo.
O trabalho em causa é de extraordinário interesse para quem se interessa pela história política daquele período conturbado. Constitui um contributo de ora em diante impossível de ignorar em debates que se arrastam desde 1826.
Nem o título dá uma medida aproximada da sua importância: na verdade não se trata apenas das causas da morte de D. João VI, onde traz uma confirmação decisiva sobre a velha suspeita do homicídio por envenenamento. Por arrastamento faz também luz sobre a questão da data da morte, que desde esses dias se suspeitava não ser a anunciada. E continuando entra inevitavelmente na questão da autenticidade da carta régia de 6 de Março, publicada a 8 de Março, em que era indigitada a Infanta Isabel Maria para Regente do Reino... Se sempre tinha havido a dúvida sobre a sua autenticidade, este estudo, o clínico e o grafológico, apontam num sentido inequívoco: não é do Rei aquela rúbrica, e naquela data o Rei já estaria morto. O que torna perfeitamente lógico o arrastar do anúncio do óbito: era preciso forjar o documento (a 6) e publicá-lo (a 8, na Gazeta de Lisboa) e só depois podia o Rei morrer - no dia 10 troaram os canhões de São Jorge e a notícia tornou-se oficial. Mas depois deste estudo restam poucas dúvidas: o Rei ou morreu logo a 5, não resistindo ao envenenamento por arsénico sofrido a 4, ou morreu na madrugada de dia 6, como afirmaram poucos dias depois manifestos de origem realista que circularam em Lisboa. Temos assim presentes um regicídio seguido de um golpe de estado constitucional, que se concretizou nos dias seguintes, com a elaboração do documento para afastar a regência das mãos a quem ela cabia, e conseguir depois decidir a sucessão, através da constituição apressada de um Conselho de Regência de estranha composição, e com a imediata partida para o Brasil, no dia 12, dos representantes desse Conselho a suplicar a vinda de D. Pedro - que ainda pouco antes jurava ser estrangeiro e desejar ser tratado como se o tivesse sido sempre...
Creio bem que os autores deste trabalho, até pela respectiva formação ser de outras áreas científicas, não se deram conta das implicações históricas do que fizeram constar nas suas conclusões.
Mas o que ali está escrito não pode passar despercebido a quem tenha a paixão da História, e de Portugal. Uma semana decisiva da História de Portugal passa a estar esclarecida de um modo impossível de antever ainda há poucas décadas.

Do Verão Quente ao Thermidor


Para recordar os tempos de 1975, o número de Novembro da Alameda Digital.

Memórias de um Rústico Erudito

Agenda eborense:
No dia 15 de Dezembro de 2006, na sede do Grupo Pro-Évora, Rua do Salvador,n.º 1, pelas 18.30 horas, realiza-se o lançamento do livro "Memórias de um rústico erudito - Viagem à volta de lentes, terras e políticos", do Prof. Doutor Raul Miguel Rosado Fernandes.
O "rústico erudito", Raul Miguel, estará presente e falará sobre o biografado. Esperemos que não se entusiasme excessivamente.

domingo, dezembro 10, 2006

Ponte entre o passado e o presente

Foi na Portagem que se celebrou a festa do meu 30º aniversário, no velhinho "Mil'homes". Não digo há quantos anos foi, mas asseguro que foi uma festa de arromba.

Ronda alentejana

Fazia muito tempo que não visitava o TUDOBEN, utilíssimo instrumento para navegar no Alentejo.
De entre as descobertas de hoje, destaco um blogue elvense centrado na sua região: Câmara dos Comuns.

sábado, dezembro 09, 2006

Alentejo Pela Vida

Está em marcha a organização da campanha "Alentejo Pela Vida". Aproveito o impulso para apelar a todos os eborígenes que me lerem (especialmente estes, porque estão mais próximos, mas todos os alentejões em geral são chamados às fileiras) para que não faltem à convocatória.
Já agora, assinalo mais dois blogues que desconhecia e que surgem a pronunciar-se pelo "Não" na proposta do aborto livre e discricionário: são o Alto Hama, de Orlando Castro, e o Mente Despenteada, de Carla Teixeira.
Eu já tinha tentado fazer uma lista no PELA VIDA, mas a verdade é que o desconhecido ultrapassa sempre o que conhecemos... Façam todos o favor de estabelecer as devidas ligações!

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Sugestões de leitura

Alvitradas por Doug Bandow, da Coalition for a Realistic Foreign Policy:

Peter Galbraith
Simon & Schuster, 2006
261 pp.
Thomas E. Ricks
Penguin Press, 2006
482 pp.
David L. Phillips
Westview, 2005
292 pp.
T. Christian Miller
Little, Brown, 2006
334 pp.
Rajiv Chandrasekaran
Knopf, 2006
321 pp.

Salvé Nobre Padroeira


Do pintor português Velazquez da Silva (ler Eduardo Freitas da Costa): a Imaculada Conceição.
Hoje, ao frio e à chuva, cantou-se na Princesa do Alentejo:

Salve, nobre Padroeira
Do Povo, teu protegido,
Entre todos escolhido,
Para povo do Senhor.

Ó glória da nossa terra,
Que tens salvado mil vezes,
Enquanto houver Portugueses,
Tu serás o seu amor.


Na homilia, o Padre João Seabra lembrou a festividade litúrgica de Nossa Senhora de Lourdes, no dia 11 de Fevereiro. Foi em Lourdes que a senhora esclareceu a sua identificação primeira: às perguntas de Bernardette respondeu "eu sou a Imaculada Conceição". Depois, é Senhora de muitos predicados: da Anunciação, da Visitação, da Expectação, da Natividade, da Consolação, da Assunção, das Dores, do Pranto... Mas a sua identidade está no momento inicial, na concepção, no princípio. A sem pecado respondeu a todas as dúvidas. É preciso celebrar Nossa Senhora de Lourdes, também no próximo 11 de Fevereiro.
Glorioso Dia da Mãe, este 8 de Dezembro.

UNGERN


Um livrinho para o Bernardo, que recentemente lembrou Ungern von Sternberg. Na LIBRAD.COM

FRACTION


Uma estética tipo República dos Desalinhados.

REXISTIR

«Remar contra a maré é difícil mas enrijece»

Uma estrutura coerente de investimento

O ministro da Economia foi esta semana a Grândola entregar o alvará de construção do projecto turístico da Herdade de Pinheirinho a Joaquim Mendes Duarte, presidente da Pelicano – Investimento Imobiliário SA, entidade promotora do empreendimento.
Será verdade que a sociedade promotora desse formidável Projecto de Potencial Interesse Nacional (PIN) tem pendente contra si um processo de insolvência no Tribunal de Comércio de Lisboa, com fundamento na incapacidade de cumprir as suas obrigações anteriores?

Ofensiva comercial

Os contentores não se inauguram?

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Portugueses de além-mar

Portugal para nascer, o mundo inteiro para morrer: haverá no mundo sítio onde não chegaram portugueses?
Aponto-vos dois blogues de gente nossa na outra margem do Atlântico: o Orgulhosamente Só e o Euro-Ultramarino.

Em agenda

Actividades culturais marcadas para o Palácio da Independência nesta primeira quinzena de Dezembro:

13/12/2006
Curso O Pensamento Luso-Brasileiro: “Renato Cirell Czerna”, pelo Prof. Doutor António Braz Teixeira. Na Sala do Conselho Supremo às 17h30.

14/12/2006
Apresentação da biografia de D. João IV, da autoria da Prof.ª Doutora Leonor Freire Costa e da Prof.ª Doutora Mafalda Soares da Cunha, integrada na colecção “Reis de Portugal” do Círculo de Leitores. Às 17H30 na Sala de Convívio.

14/12/2006
Lançamento do livro “Ascendência e Descendência dos primeiros Marqueses de Reriz”, da autoria do Mestre Paulo Duarte de Almeida, Instituto de Genealogia e Heráldica da Universidade Lusófona do Porto. Às 18H30 no Salão Nobre.

15/12/2006
Ciclo “Concertos da última sexta-feira de cada mês”, 18.ª Temporada – 4.º Concerto, com o Coro Audite Nova sob a direcção artística da Maestrina Maria Clara Correia. Ao piano: Justiniano Canelhas Correia. Às 18H30 no Salão Nobre.

15/12/2006
Conferência “Alterações Climáticas” pelo Prof. Doutor Pedro Aguiar Pinto, promovida pelo Centro Cultural de Lisboa Pedro Hispano. Às 21H30 na Sala do Conselho Supremo.

Até 15/12/2006
Exposição "Hinos, Marchas, Cantos Patrióticos e obra dedicadas" - Colecção Maestro Dr. Manuel Ivo Cruz. Na Sala dos Azulejos, entre as 14h30 e as 18h30.

O Desastre no Ensino da Matemática

Depois de ter marcado a agenda da discussão sobre os problemas educativos com a sua obra sobre o "eduquês" (já falado na Alameda) o Prof. Nuno Crato volta a agitar as águas estagnadas da educação em Portugal com um novo livro: "O Desastre no Ensino da Matemática", editado pela Gradiva.
Uma pedrada no charco, numa altura em que quando se fala nos problemas da educação acontece o mesmo que nos programas sobre futebol, em que nunca se fala de futebol - é sempre sobre o que lhe anda em volta.

8 de Dezembro

Amanhã celebra-se a festa da Imaculada Conceição.
É dia de Nossa Senhora da Conceição, Rainha de Portugal, coroada no Solar da Padroeira.
É também o Dia da Mãe, de todas as mães da terra.

O tempo não ajudou…

Um artigo de Carlos Eduardo da Cruz Luna, escrito ali por Estremoz e publicado na mais recente edição do semanário "O Diabo", sobre a cimeira ibérica de Badajoz.

Estiveram reunidos, em Badajoz, os governos de Espanha e Portugal, nos passados dias 24 e 25 de Novembro de 2006. Tudo na maior das cordialidades.
A cobertura noticiosa, contudo, não foi tão ampla como de costume. Talvez porque estas cimeiras, actualmente, constituam, não um processo em si, mas o culminar formal de conversações prévias de bastidores. No fundo, trata-se essencialmente de assinar documentos elaborados nos bastidores.
Foi bonito. Ao que a imprensa noticiou, todavia, a cobertura informativa foi menor que o habitual. Na verdade, o centro de imprensa foi encerrado formalmente às 21 horas de sexta-feira pela Polícia Local de Badajoz, que impediu a chegada de transportes ao centro de comunicações mundial da cimeira. É que, explicou-se, «desaguou em Badajoz a tempestade que assolam Portugal». A culpa foi do ciclone.
Talvez fosse o ciclone o culpado de ninguém ter colocado uma pequena questão: a vinte quilómetros a sudoeste de Badajoz, existe uma cidadezinha. Ela é razoavelmente falada... mas nunca nestas ocasiões, em que tudo é asséptico. Dir-se-ia que se fazem esforços para que «as relações peninsulares» não «tenham armadilhas e conflitos». Que, afinal, os há, ainda que não devessem ser esquecidos. «Curiosamente, em cada cimeira», negam-se. Ambas as partes o fazem.
Que me perdoe o jornalista de cujas palavras fiz três ou quatro citações. Mas não resisto, ao lembrar esta Cimeira de Badajoz, a recordar a cidadezinha que referi, a vinte quilómetros a sudoeste da urbe extremenha. Ela chama-se Olivença. E discute-se a legalidade da sua posse há duzentos anos.
Vinte quilómetros somente! Como puderam os dirigentes «ibéricos» não reparar neste pormenor! Há um ano, em Évora, esqueceram também o assunto. Mas, aí, estavam a cinquenta quilómetros de distância. Sempre é diferente...
Mas, agora a vinte quilómetros ... como explicar?
Só há uma explicação: o ciclone. A Natureza impediu os políticos reunidos em Badajoz de se debruçarem uns minutos sobre um tema que, decerto, actualmente, no clima de franca amizade que os irmana, doutra forma não poderia deixar de os ocupar. Ou ... não é em ambientes fraternais que se expõem sem melindres todos os problemas?
Maldito ciclone! É verdade que, no Sábado, dia 25, já o tempo estava mais de feição. O assunto, todavia, já perdera a oportunidade. À saida, é verdade, havia uns cartazes. Uma faixa, principalmente, onde se lia «Olivença é terra portuguesa». Ao lado, estava um grupo que tinha uma opinião contrária. Sem problemas, em democracia. Os dois «manifestos» até trocaram opiniões. Parece que começa a ser possível falar deste e doutros temas, livremente, na rua, até em Espanha, a nível público.
Todavia, para os políticos, isto não foi possível. Por causa do ciclone, evidentemente.
Ciclone que, como vimos, afastou muita da Imprensa. Deste modo, nem foram quase notícia os cartazes e a faixa.
Decididamente, há que dizê-lo mais uma vez, a terminar: «Maldito ciclone!»

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Recordação de Montes Claros

Quem no Alto da Praça se encontrar deve procurar a saída de Borba para Rio de Moinhos. A caminhada começa por entre o casario da vila, que foi crescendo na direcção do que pomposamente se chama Serra de Borba, umas modestas e suaves colinas que separam esta povoação do vale onde corre a estrada de Estremoz a Bencatel. No vale, mais afastado, fica também Rio de Moinhos, hoje conhecida pelos queijos, e outrora, como ficou no nome, pelos moinhos. No vale nasce também o Lucefecit, que dali abre curso rumo ao Guadiana, por terras de Alandroal e Terena. Para além do vale, são os contrafortes da Serra d'Ossa, este Verão especialmente esturricada em toda essa faceira. Pois como dizia sai-se de Borba, por caminho antigo agora beneficiado de alcatrão, ainda ladeado por muros que atestam a vetusta idade. A escassa centenas de metros passa-se junto ao portão da Quinta do Bosque, que uma espreitadela rápida denuncia na sua frescura sintrense, arvoredo de herança fradesca a proteger o sossego da fachada.
Se virem por ali um cavalheiro idoso, de porte senhoril um tanto fatigado, a passear uns canídeos de ar cúmplice e matreiro, como quem passeia o dono, não há que enganar: é o D. Vicente da Câmara. Dom Vicente é o fidalgo do lugar; o príncipe consorte que com o casamento acedeu às doçuras do velho convento capucho.
Prossiga-se dali a marcha, ainda a subir, serpenteando até alcançar o cume das tais colinas, sempre por Terras de Mármore. Já a descer, depara-se com o pequeno aglomerado que a placa diz chamar-se Barro Branco. Suspenda-se então a marcha para Rio de Moinhos, e fiquemos aqui, na pequena povoação. Suba-se, por azinhagas enviesadas, ao ponto mais alto de Barro Branco. Dali se observa em extensão o ondear dos terrenos que se estendem até à outra margem, a alta barreira da Serra d'Ossa. O mesmo viu D. António Luís de Meneses, que num mês de Junho já distante ali parou, por sobre os campos onde as suas e nossas tropas se enfrentavam com o exército que de Espanha tinha vindo.
A refrega de Montes Claros foi mais abaixo, em campos onde agora as vinhas parecem estar a ganhar (grandes vinhos, regados com sangue de heróis). Junto à estrada que atravessa o vale, à direita de quem siga de Estremoz para Bencatel, ficou um padrão a assinalar o dia, para lembrar que nessa quarta-feira e naquele “sítio de Montes Claros, D. António Luís de Menezes, Marquês de Marialva, Capitão General do Alentejo, em batalha singular por espaço de nove horas, que começaram às 9 horas da manhã até ás seis da tarde, matou, rompeu, desbaratou e venceu o exército castelhano, que o Marquês de Caracena, Capitão General da Estremadura governava, o qual deixou na campanha um grande número de prisioneiros e muitos cabos, toda a artilharia, carriagem, e a Vila Viçosa livre do sítio que lhe tinha posto”. Prosseguindo nessa estradinha ainda se encontra, do mesmo lado direito, o que foi o convento e Igreja de Nossa Senhora da Luz de Montes Claros, de claros traços joaninos. Mas voltemos a Barro Branco, que isso fica já no caminho de Bencatel.
Do cimo do Barro Branco não se avista o padrão de Montes Claros; avistam-se as distâncias por onde a batalha se estendeu, durante as tais nove horas em que os soldados de D. Luís de Benevides se bateram com as forças portuguesas do Capitão-General do Alentejo, até à derrota que aliviou o sufoco de Vila Viçosa, e do reino. O Senhor D. António Luís de Menezes gostou daquele sítio do Barro Branco, onde fez o trato com a Senhora da Vitória. E ali mandou construir em cumprimento da promessa a Igreja de Nossa Senhora da Vitória, para que todos os dias ali fosse celebrada missa a agradecer a graça. Junto à cerca do pequeno templo encontrei um campo de jogos, com um improvisado palco de tábuas tão decrépito como as balizas, e esplanada de canas e folhas de palma, a evidenciar utilização para bailarico de aldeia. Uns vestígios de carvão em fogareiros de churrasco compunham o quadro folclórico. Passando além desses restos de arraial, dando a volta à Igreja, encontra-se o que pode chamar-se uma cerca, pois que de espaço murado se trata, rodeando a capela, mas que desse lado mais corresponde a uma horta, onde um viçoso faval se ergue em bem cuidadas leiras. Honra ao mimoso hortelão, que não sei quem seja mas deve ser certamente o responsável pelo aspecto do conjunto no sector a seu cargo, que desse modo não aparenta ruína ou desleixo. Pois prosseguindo, entre as alas perfiladas das favas fica um corredor central, uma espécie de passadeira em impecável linha recta, que sem ser vermelha ostenta a honesta dignidade da terra. E conduz-nos até junto ao muro, a duas ou três dezenas de metros, onde se levanta orgulhosa e branca uma larga placa de mármore, com extensa inscrição em caracteres negros. Muito acima do humilde muro de pedra escura, a clara e elevada memória explica-nos em linguagem directa, quase intimista, como foi que D. António Luís de Menezes achando-se ali se entregou a Nossa Senhora da Vitória, e a ela confiou a sorte das nossas armas; e adianta como cumpriu a devoção de erguer no local a Igreja de Nossa Senhora da Vitória, e o culto que deseja que lhe seja prestado, e até a lição que pretende deixar aos vindouros – sobre os sofrimentos e os sacrifícios de então, para que sirvam de ensinamento. Poucos discursos haverá mais comovedores e sinceros. Perfilamo-nos ali, frente à imponente memória de Montes Claros e do Senhor Marquês de Marialva, num silencioso quintalão de um modesto templo rural numa aldeia esquecida, só com o testemunho calado das favas, alinhadas atrás, em sentido, orgulhosas ao sol de Inverno.
Que a Pátria se reencontre um dia aqui e em toda a parte, com Nossa Senhora da Vitória de Montes Claros.

terça-feira, dezembro 05, 2006

Na SHIP


Dia 7 de Dezembro:
Conversa ao fim da tarde, sobre o tema “Questões Fundamentais da Sociedade Hodierna”, pelo Cor. João Brandão Ferreira, na Sala de Convívio, às 17h30.
Dia 14 de Dezembro:
Apresentação da biografia de D. João IV, da autoria da Prof.ª Doutora Leonor Freire Costa e da Prof.ª Doutora Mafalda Soares da Cunha, integrada na colecção “Reis de Portugal” do Círculo de Leitores. Às 17H30 na Sala de Convívio.
Até dia 15 de Dezembro:
Exposição "Hinos, Marchas, Cantos Patrióticos e obra dedicadas" - Colecção Maestro Dr. Manuel Ivo Cruz. Na Sala dos Azulejos, entre as 14h30 e as 18h30.

Na Biblioteca Nacional

Três exposições:
Mostra Bibliográfica "Marcelo Caetano: 1906-1980" - até 18 de Dezembro de 2006.
Exposição "António é o meu nome", Rómulo de Carvalho - até 6 de Janeiro de 2007.
Exposição "A História da Cartografia na obra do 2º Visconde de Santarém" - até 10 de Fevereiro de 2007.

Não obrigada!

Na sequência de muitas outras iniciativas, de que me permito destacar o nosso humilde mas combativo e empenhado blogue, PELA VIDA, está já em linha o sítio da Plataforma Não Obrigada, amplo espaço de convergência de inúmeras organizações sociais que conjugam esforços na determinação de lutar contra a generalização do "aborto-porque-sim".

Salazar e os outros

Face ao recrudescer do falatório sobre certo concurso televisivo que fez grande estardalhaço ainda há pouco tempo e agora subitamente parece reduzido a um silêncio de luto pesado, não resisto a copiar para aqui um artigo que publiquei num número anterior da "Alameda Digital".

A polémica suscitada por um programa de televisão recentemente lançado chegou a extremos tais que pode dizer-se sem exagerar que os seus responsáveis nos colocaram perante uma visão da História de Portugal e dos seus protagonistas que poderia expressar-se na síntese “Salazar e os outros”.
Nós nunca fomos assim tão salazaristas, nem conhecemos ninguém que o fosse. Causa-nos surpresa essa forma pobrezinha e ignorante de encarar a História de Portugal (em tantos séculos de história cremos firmemente que mesmo considerando apenas os governantes podem encontrar-se uns quantos homens públicos cuja estatura permite situá-los no mesmo plano que Salazar).
Mas é bem esse o tom dilemático a que inconscientemente esses responsáveis foram conduzindo o seu concurso, e que fizeram presente aos telespectadores. É Salazar e os outros, Salazar ou os outros…
A isto conduziram as escolhas da equipa que dirige toda a operação. Primeiro, como reflexo defensivo, na crença ingénua de fugir desse modo ao que à partida entendiam ser um problema, a opção foi ignorar o homem.
Como era de esperar, essa atitude não resolveu coisa nenhuma (não se trata manifestamente de uma daquelas personalidades que seja possível esquecer sem ser propositadamente, e também não estamos certamente perante uma figura que caiba facilmente em qualquer gaveta convencional).
De modos que logo se gerou o burburinho que se viu, com manifestações de estranheza e de perplexidade vindas de todos os lados (muito mais do que indignação, o que surgiu foi antes espanto perante o que se afigurava uma estupidez ao olhar de qualquer critério normal).
Quanto mais o quiseram esquecer mais o esquecido foi lembrado.
Deu-se depois a mudança de estratégia, quando para emendar a mão foi resolvido tardiamente incluir o indesejado entre os oferecidos a concurso – com o cuidado pedagógico de juntar um texto de apresentação onde se destacam todas as vergonhas e malfeitorias que os bons costumes e a correcção política obrigam a associar ao monstro.
Como também seria de esperar, esta segunda escolha tem provocado ainda mais reboliço do que a primeira – tão gritantemente ressalta a diferença de tratamento e de critérios seguidos na condução do concurso.
E assim chegamos a este clima (aliás próprio de concursos televisivos em que toda a excitação do auditório é induzida através de escolhas dilemáticas) em que o que se propõe a público é a opção Salazar ou os outros.
O caso não teria importância de maior, e só nos chama a atenção pelo que tem de paradigmático em relação ao comportamento usual das forças que têm dificuldades em lidar com a História, sobretudo com a História recente. Enfrentados com os embaraços levantados por esta ou aquela personalidade ou acontecimento histórico para as suas posições políticas presentes (porque é realmente disso que se trata), as atitudes dessas forças têm obedecido a um esquema que varia entre o silêncio e a demonização.
Sempre que possível faz-se funcionar o “kill by the silence”; quando essa táctica se apresenta incapaz de responder às finalidades pretendidas, recorre-se então à demonização por todas as vias possíveis, que são muitas dado o controlo rigoroso dos mecanismos de formação de opinião que se tem estabelecido nas sociedades contemporâneas.
O pior tem-se visto também, e parece estar a generalizar-se. Quando nem o silenciamento nem a maldição atingem os objectivos pretendidos, recorre-se cada vez mais aos instrumentos legais para consagrar obrigatoriamente as imagens da História que são convenientes às finalidades políticas perseguidas no presente, muitas vezes proibindo, criminalizando e punindo as posições divergentes e as pessoas que as propugnem.
É a cada vez mais frequente perversão política do Direito Penal, que vem alastrando até formas que, não fossem trágicas, seria de chamar caricatas.
Damos como exemplo as notícias próximas sobre a aprovação em França da lei que criminaliza a “negação do genocídio arménio”. Somada esta à legislação turca que pune como delito quem o afirmar, temos como consequência que de ora em diante dificilmente escapará a responder em processo criminal qualquer autor ou editor que publique em França e na Turquia uma tese sobre o tema.
Dada a imprecisão que normalmente caracteriza esses tipos criminais, não é improvável que o mesmo livro acabe a ser acusado nos tribunais turcos por defender a existência de massacres sobre os arménios e ao mesmo tempo condenado em França por ser dubitativo quanto à existência de genocídio.
As últimas evoluções nos tribunais franceses à volta da famosa Lei Gayssot (do nome do deputado comunista que a propôs) também não são menos preocupantes. As mais recentes personalidades atacadas judicialmente por ofender o interdito estabelecido sobre o “holocausto” já não o foram por frases que referissem o próprio acontecimento em si mas somente por afirmações em que disseram, a perguntas, e já para fugir ao assunto, ser do parecer que esse tema devia ser deixado aos historiadores, sem restrições à liberdade de investigação nem versões oficiais impostas por lei.
É um fenómeno de criminalização em crescendo. Entre os tabus sobre a figura de Oliveira Salazar e a consagração de uma qualquer verdade obrigatória protegida pela norma penal vai uma distância mais pequena do que superficialmente pode parecer.

Ainda o 25 de Novembro e o PCP

Com este título publicou hoje José Manuel Barroso um importante artigo no DN (na sequência aliás de um esclarecido e esclarecedor trabalho de... esclarecimento que tem vindo a desenvolver ao longo do tempo).
Por coincidência, surge este texto na mesma altura em que apareceu a
Alameda Digital tendo como tema forte os tais idos de Novembro.
Leia-se então o que diz
Barroso, e o que consta da Alameda Digital. Eu se tivesse tempo faria também uns comentários. Fica para a próxima, quando for.

Recordo, como se fosse hoje - para além do anotado no meu caderno de apontamentos -, o rosto do marechal Costa Gomes, quando, 20 anos depois do 25 de Abril, o entrevistei para uma série de crónicas históricas publicadas no DN. E recordo esse pormenor porquê? Porque, habitualmente, Costa Gomes controlava o seu discurso e as suas reacções, fossem quais fossem as perguntas. Naquele dia (na terceira de uma série de conversas que com ele tive), o ex-presidente da República reagiu com estranha irritação quando - após me ter dito que o 25 de Novembro fora "obra da extrema-esquerda, o PCP não teve nada a ver com isso" - eu lhe perguntei porque ele se não dirigira aos líderes desses partidos, para controlar as gentes que se haviam juntado frente às unidades militares importantes de Lisboa a pedir armas e a solicitar aos militares que se juntassem aos "revolucionários" (isto é, aos militares sublevados contra o poder legal).
É que, na sequência do pedido que eu lhe fizera, para que me revelasse os passos dados, desde que tivera conhecimento da sublevação dos pára-quedistas da Base de Tancos, da ocupação do comando operacional da Força Aérea, em Monsanto, Lisboa, da tomada de posição do Ralis, junto ao aeroporto de Lisboa e à via Norte e da RTP pela EPAM (unidade do Exército junto ao Lumiar), ele me respondera ter tomado a iniciativa de ligar para o secretário-geral do PCP, Álvaro Cunhal, e para os dirigentes da Intersindical, a central sindical dos comunistas. Costa Gomes sentiu-se em contradição e respondeu- -me com mal disfarçada irritação, ilibando de novo o PCP.
Se outras dúvidas eu não tivesse - e não as tinha já, face aos depoimentos conhecidos de personalidades diversas - esta "confissão" de um homem tão inteligente e hábil como Costa Gomes era, para mim, um reconhecimento claro da realidade. Parece óbvio que, se o PCP nada tivesse a ver com os acontecimentos, a sindical central que ele dominava e as estruturas locais do partido não se teriam arriscado, mesmo tomando em conta o ambiente efervescente da época, não teriam avançado para as unidades militares - para incentivar ou para impedir a saída de militares, conforme a tendência conhecida de cada uma delas.
Ninguém, entre a classe política da época e os historiadores da conjuntura, conseguiu identificar (para além de Otelo, que nada fez ao lado dos revoltosos, e das gentes da Polícia Militar, esquerdistas aliados do PCP) que organizações esquerdistas estariam por detrás das movimentações militares e civis. Mas alguns "investigadores" insistem na tese do mistério, o que constitui um verdadeiro mistério dentro do mistério.
Vamos por partes. O presidente da República contacta Cunhal e a Intersindical; as cúpulas das unidades que se sublevam eram dominadas pelo PCP (os pára-quedistas de Tancos através do comandante fantoche que lá ficara, depois que 123 oficiais moderados a haviam abandonado, e do verdadeiro grupo-líder, os sargentos e a EPAM, que ocupa a RTP); o SDCI (embrião dos novos serviços secretos militares), onde estavam sedeados dirigentes da Esquerda Militar, coordena movimentações. E nada desta gente tem a ver com o PCP?
Mais. Cunhal e o PCP classificarão sempre os moderados como "contra-revolucionários", nunca condenarão a sublevação, protege os militares detidos no rescaldo do golpe (enviando ao Palácio de Belém, para apelar a Costa Gomes, uma comissão dirigida por um comunista conhecido, professor Ruy Luís Gomes, ex-tutor político de Costa Gomes, quando jovem estudante de Matemáticas no Porto). Os militares fugidos à prisão (Duran Clemente, Costa Martins, Varela Gomes) serão protegidos pelas estruturas do PCP, enviados em fuga para uma residência de um conhecido militante comunista de Coimbra, professor de Direito Constitucional, na Beira Interior, passados a salto para Espanha, refugiados na embaixada cubana em Madrid, circulados depois por Moscovo e por Havana e, depois do regresso a Portugal, protegidos pelas câmaras comunistas da Grande Lisboa, e nada disto tem a ver com o PCP?
Se não tem, porque não abandonou à sua sorte o PCP essa extrema-esquerda aventureirista? Na verdade, apesar da confusão do momento e da época, uma parte dessa "extrema-esquerda" estava ligada ao PCP e muitos dos seus elementos eram apenas agentes infiltrados nela.
Muita gente que, hoje, ainda fala de mistério, sabe que esse mistério não existe. Apenas o alimenta por razões políticas de diversa ordem. É certo que o PCP não quis, também, uma guerra civil. É certo que lhe falhou o apoio, por muitos esperado, de Otelo, como chefe militar. É certo que Costa Gomes alinhou pelo lado da geopolítica da URSS - libertando África e largando a Península Ibérica. Mas o certo é também que foi com o PCP que Costa Gomes e o Grupo dos Nove negociaram nos dias 25 e 26 de Novembro de 1975. Na tese do "mistério" isso parece um movimento louco: negociar com quem não teria nada a ver com o assunto.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Quem decifra o enigma?

"Não acham estranho que apesar de tantos dizerem mal da OTA, ninguém tente investigar a propriedade dos terrenos, bem como a data da respectiva aquisição? Já alguém percebeu o que impede Sousa Tavares de o fazer? E o PSD? E os jornais? Eu ainda não o percebi, mas desconfio…."
Manuel Monteiro (via Tomar Partido).

Plataforma Não Obrigada

Informa-se que a apresentação da Plataforma Não Obrigada terá lugar no próximo dia 5 de Dezembro, às 12.30 horas, no Auditório III do Centro de Congressos de Lisboa (Antiga FIL, na Junqueira).
Mais se informa da abertura da sede de campanha do movimento, no antigo cinema Berna, na Av. Marquês de Tomar, em Lisboa (ao lado da Igreja de Fátima).
(Juntos Pela Vida)

Com ambas as mãos

Quando soubeste que eu vinha viver para aqui, disseste: "É um lugar bonito: aceita com ambas as mãos".
A paisagem é bela, sim. É o Alentejo, com estas intermináveis planícies onduladas polvilhadas de oliveiras, azinheiras e sobreiros. É também, agora, uma terra alagada por mil braços do Guadiana, que uma barragem lá ao longe fortaleceu e fez crescer. Do alto do castelo vejo grandes extensões de água. E várias ilhas, outrora pequenas elevações de uma terra árida.
Sei bem o que é uma bela paisagem: tem-me acontecido viver e trabalhar em lugares onde muitos vão fazer turismo. Um luxo...
E lembro-me de Saint-Exupéry, que dizia que o único luxo verdadeiro é o das relações humanas.
Uma paisagem é, pelo menos, incompleta. Olhamos... e pensamos logo em a quem iremos contá-la. É capaz de fazer nascer em nós qualquer coisa que só quando é comunicada adquire peso e volume.
Também o pintor- julgo eu - não deseja gravar no seu quadro a paisagem, mas aquilo que nasceu nele ao ver a paisagem. Ou sucede-lhe dar forma de paisagem àquilo que descobriu dentro de si e não sabe manifestar de outro modo. O que ele quer é dizer-se a outros e ser entendido.
A paisagem é sempre mais fácil. Lida-se melhor com os sobreiros do que com os homens, com as coisas do que com as pessoas. No entanto, trazemos connosco a necessidade vital de comunicar, e só o podemos fazer com quem é semelhante a nós. Precisamos disso para nos localizarmos, para sabermos quem somos, para chegarmos a onde devemos chegar.
Podemos usar um objecto e deitá-lo fora quando já não nos convém, mas a relação verdadeira entre pessoas exige criar laços, mais ou menos profundos, e, depois, respeitá-los. Talvez uma das causas de o mundo estar tão triste seja que tentamos lidar com as pessoas como com as coisas. Talvez isto tenha contribuído para que andemos tão perdidos, tão sem saber onde estamos. Usando as pessoas e, depois, talvez desiludidos, desfazendo-nos delas, começámos por perder o calor e a luz da amizade - que praticamente desapareceu da face da terra. E, agora, estamos a perder a família.
Podemos desiludir-nos com as coisas: fazemos uma apreciação acerca delas e usamos o caixote do lixo. As pessoas, porém, não são para julgar, mas para que ajudemos a construi-las, para que ajudem a construir-nos, para construirmos alguma coisa em conjunto. Se o teu amigo te desiludiu, acusa-te a ti mesmo, porque era tarefa tua torná-lo mais nobre. Se estás desiludido com a tua vida em família, lembra-te de que ela foi a tua construção. E recomeça no ponto em que começaste a falhar.
Numa época em que uma noção errada de liberdade, muito divulgada, leva a não contrair vínculos e a quebrar com facilidade os vínculos contraídos, é oportuno recordar que a liberdade é, na sua forma maior, liberdade de nos amarrarmos. É esse o significado de "criar laços". Nestas terras, quando há um casamento diz-se que aquele homem e aquela mulher vão "dar o nó". Não perdem a liberdade: exercem-na da forma mais excelente, prendendo-se um ao outro definitivamente de livre vontade.
Não devemos ter pena do que "perdemos" quando escolhemos, pois isso faz parte da natureza da liberdade. Cada vez que escolhemos algo, sacrificamos as outras possibilidades. No fundo, sermos livres quer dizer que temos alguma autonomia para escolhermos de que forma vamos renunciar a passar a vida fazendo tudo aquilo que nos apeteça.
É através do compromisso - uma opção sem retorno que em alguns casos existe sem que tenha ficado escrita num documento - que nos ligamos ao amigo, ao esposo ou à esposa, a uma tarefa em conjunto com outras pessoas... E ligando-nos aos outros localizamo-nos. Se tens filhos, tens uma tarefa e, com ela, um lugar no mundo. E todos os teus passos estão cheios de sentido. Fugindo de te amarrares, poderá chegar o momento em que perguntes a ti mesmo o que estás aqui a fazer.
A liberdade é a grandeza de poder fazer escolhas. Mas, se essas escolhas não tivessem consequências, se nos permitíssemos voltar atrás em assuntos cuja natureza não admite isso, a nossa liberdade ficaria esvaziada. E estaríamos a anular a nossa personalidade, porque nós somos aquilo que fazemos com as nossas escolhas. É com elas que traçamos o nosso caminho e nos definimos.
É errado pensar que a vida é um jogo e que, se algo correr não exactamente de acordo com as nossas expectativas, podemos jogá-lo de novo desde o início, com novas oportunidades de êxito. Seria uma tolice considerar que temos direito a um caminho de triunfos, sem sofrimentos nem desilusões, sem coragem nem heroísmo. Porque isso não sucede a ninguém e não é deste mundo. Aqui é preciso escolher e, depois, seguir em frente até ao fim. Por vezes com os ombros pesados de cansaço, de dor, de desilusão, de fracasso...
Aceitarmos as consequências das nossas escolhas, carregarmos com o peso delas, honrarmos a nossa palavra, tem o nome de responsabilidade. E só ela confere realidade à liberdade. Só o homem responsável é autenticamente livre. O outro... joga; é ainda criança, imaturo, pouco homem.

(Paulo Geraldo)

Terceira Via


Terceira Via

Forum Portugal


Forum Portugal

Forum Nacional


Forum Nacional

domingo, dezembro 03, 2006

Alameda Digital

Surgiu um novo número, o terceiro, da Alameda Digital.
Convidam-se todos os leitores a ler (não pagam nada), e agradecem-se desde já as críticas.
Acrescenta-se que todo o arquivo se mantém ainda em linha, podendo os interessados consultar também os números anteriores.

5 de Dezembro


Importante conferência na terça-feira: Norma McCorvey, a mulher que ficou celebrizada como "Roe" na decisão do Supremo Tribunal americano que abriu caminho à permissividade abortista, vem falar do que aprendeu com a experiência.

sábado, dezembro 02, 2006

A Divina fazia hoje anos


Maria Callas em Lisboa, cantando a Traviata no São Carlos, na Primavera de 1958.
Destaco a presença magnífica de Alfredo Krause, no apogeu das suas faculdades vocais.
E a Callas, no declínio?!!! Tão bonito que até dói! Dizem as crónicas que não foi grande sucesso. O público era exigente. Quem dera a São Carlos outra Violeta assim.

Guia de Blogs Católicos

Uma lista de blogues católicos de língua portuguesa: o Guia de Blogs Católicos.
Destacamos neste movimento uma nossa descoberta de hoje, Fides Intrepida, e o pioneiro e farol seguro da nossa blogosfera católica: A Casa de Sarto.

Terras de Mármore

Um blogue de Vila Viçosa: Terras de Mármore.

O que eles dizem uns dos outros

Leia-se Luís Filipe Menezes no seu importante ensaio "O Marcelo".

Monárquicos tendência Pilatos

Dos jornais:

"A Causa Real pediu a colaboração das Reais Associações Portuguesas (que têm uma implantação geográfica) para reunir as 5000 assinaturas necessárias para se formar como mais um Grupo de Cidadãos Eleitores e assim ter direito aos tempos de antena na campanha do referendo sobre o aborto. Mas, ao contrário do que irá fazer a generalidade dos participantes, o movimento monárquico não irá aconselhar o voto no "sim" nem no "não", dedicando-se apenas ao "esclarecimento" sobre o teor das propostas e dos argumentos de cada parte.
A ideia foi divulgada, na quinta- -feira, pelo presidente da Comissão Executiva da Causa Real, António Souza Cardoso, durante o seu discurso no tradicional Jantar dos Conjurados, com que os monárquicos assinalam o encontro dos 40 conspiradores que, a 1 de Dezembro de 1640, puseram termo à ocupação filipina, após 60 anos de dependência do poder espanhol.
A justificação para este modelo é simples: "Há monárquicos a favor do 'sim' e monárquicos a favor do 'não'", explicaria ao DN Ricardo Abranches, presidente da Real Associação de Lisboa e membro da Comissão Executiva da Causa Real."