4 anos
São 4 anos, e 4580 entradas.
Estou a olhar para tudo tentando situar-me na perspectiva do marciano.
Um blogue às direitas em tempos sinistros
Por ocasião do centenário do caso Dreyfus, Jacques Chirac enviou aos descendentes de Emile Zola e Alfred Dreyfus uma carta na qual, lembrando aquele “colossal erro judicial e vergonhoso comprometimento do Estado”, afirmou que Emile Zola “na senda de Voltaire”, encarnaria “o melhor da tradição intelectual”. Obviamente poder-se-ia ironizar sobre a escolha dos autores de quem o presidente francês invocou os nomes. No fim de contas, ambos expressaram ao seu tempo opiniões que hoje se enquadrariam na lei Gayssot sobre o “incitamento ao ódio racial”. Em 1764 Voltaire escrevia no «Dicionário filosófico» que “os judeus são apenas um povo ignorante e bárbaro que há muito une a mais repugnante avareza e a mais abominável superstição a um ódio indistinto por todos os povos que os toleram e graças aos quais enriquecem”.
Quanto a Zola, de «L’argent» à série de «Rougon Macquart», não existe um único estereótipo anti-semita que não tenha feito seu. Mas é claro que não é a estes aspectos que Chirac pretendia aludir.
Longe de ser anedótica, a sua afirmação é no entanto reveladora. Qualquer homem de esquerda, de Lionel Jospin a Alain Krivine, de Robert Hue a Jack Lang, subscreveria voluntariamente a ideia de que Voltaire e Zola encarnariam o “melhor da tradição intelectual” francesa.
Poucos homens de direita, no entanto, seriam levados a comungar desta opinião, mesmo porque sabem bem que Voltaire e Zola passam hoje por grandes antecessores da intelligentzia de esquerda e que os intelectuais de direita dispõem geralmente de outras referências. Na circunstância, Chirac falou, portanto, como homem de esquerda.
Como é isto possível? É-o simplesmente porque, no campo da cultura e das ideias, a direita da qual ele se declara diz regularmente as mesmas coisas que a esquerda. E di-las porque é historicamente saída da mesma matriz filosófica da esquerda, obra da filosofia das Luzes, que no período de dois séculos criou em sequência o liberalismo, o socialismo e o marxismo. É certo que partindo de uma herança comum uma “esquerda” e uma “direita” se foram progressivamente diferenciando. Mas é sobretudo no âmbito económico e social que as suas diferenças se afirmaram, porém muito mais pela escolha dos meios que pela determinação dos objectivos. No campo cultural e intelectual falam quase em uníssono. Demonstrou-o mais uma vez, a seu modo, a recente polémica sobre o «Livro Negro do Comunismo»: se tantos comentadores se empenham hoje em distinguir a “bondosa” inspiração do comunismo dos seus sanguinários êxitos é porque aquela inspiração não se diferencia fundamentalmente das suas.
Declarando-a “boa” não nos demonstram a sua justeza. Limitam-se a confirmar poderem-se reconhecer nas ideias que o sustiveram.
“O problema permanente da direita e a fonte do seu mal-estar actual” escreveu Jacques Juliard, “reside no facto de que os seus valores de referência continuam a pertencer originariamente ao outro campo”. Ernst Jünger já o havia observado em 1945: “tem sido a esquerda a submeter a si a direita há mais de cento e cinquenta anos, não o inverso.” É absolutamente exacto, e é na lógica das coisas, a partir do momento em que aquela direita nasceu à esquerda. Tendo nascido à esquerda, com a ideologia dos direitos do homem da qual essa se reclama, não pode alimentar-se, sem mal-estar, nem da sua identidade nem do seu passado. E tendo nascido à esquerda sofre de um défice permanente de legitimidade. Tendo nascido à esquerda não pode fazer mais que colocar-se ao centro, um centro no qual, por sua vez, a esquerda, recuperada das esperanças revolucionárias e agora convertida ao reformismo social-democrata, se insere cada vez mais, com a consequência dramática de que este grande bloco central rejeita os descontentes impedindo uma verdadeira alternância.
É verdade que os conceitos de direita e esquerda nas mentalidades estão hoje ofuscados.
Mas, se se ofuscam, isto acontece precisamente porque os grandes partidos que lhes envergam as cores têm tomado progressivamente consciência da inconsistência daquilo que os separa.
Actualmente não há nada de substancial que diferencie os seus valores. As suas escolhas aproximam-se, os seus programas movem-se em direcção ao centro e a opinião prevalecente é que dizem todos mais ou menos a mesma coisa.
Ainda ontem pensavam pertencer a famílias diferentes. Hoje percebem que apenas foram inimigos irmãos, que podem ainda polemizar sobre este ou aquele ponto mas fazem espontaneamente – com toda a naturalidade, sentir-se-ia dizer – frente comum para demonizar e rejeitar para o tenebroso extremo qualquer direita que seja uma direita verdadeira, com referências próprias, os seus autores, a sua antropologia, a sua própria sociologia, a sua própria visão do mundo, do homem e da sociedade.
É claro: como sempre existiram várias esquerdas, assim existem várias direitas: uma direita contra-revolucionária e uma direita revolucionária, uma direita republicana e uma direita monárquica, uma direita nacionalista e uma direita federalista, e assim sucessivamente. Mas pelo menos essas têm um ponto em comum: são direitas verdadeiras. A declaração de Jacques Chirac vale como sintoma, já que permite perceber a que direita ele pertence.
Chirac pertence àquela direita que reprova as orientações económicas da esquerda
mas que se escusa a contestar as suas orientações intelectuais e ideológicas. É uma direita que, no fundo, partilha a visão do mundo da esquerda, contentando-se em substituir a solidariedade pela apologia do lucro. É uma direita de esquerda. Em suma, não é de facto uma direita.
Um apelo em defesa da cultura europeia: http://www.sauv.net/meuro.php
Nós, abaixo assinados, professores, intelectuais e cidadãos preocupados com a situação do ensino e da cultura no seio da União Europeia,
PROCLAMAMOS AO PARLAMENTO EUROPEU
1. Que os agentes dos sistemas educativos devem ter como objectivo principal a promoção do mais alto nível cultural possível na população em geral, não se contentando pois em animar a simples escolarização de um determinado grupo etário. A fim de tornar o ensino eficaz, devem ainda incutir o valor do esforço individual e o respeito pelo professor. Que o sistema educativo deve ser orientado para uma avaliação dos conhecimentos disciplinares efectivamente adquiridos por cada aluno.
2. Que para esse fim se torna indispensável dar aos alunos bases suficientemente sólidas desde o início da escolarização. Da mesma forma, a elevação do nível cultural da população exige um reforço da aprendizagem científica e literária no Ensino Secundário.
3. Que a imposição, por parte de certos Estados, de políticas educativas baseadas na incorrectamente denominada “pedagogia moderna” e em noções como o “construtivismo” (que, sob uma aparência de inovação, escondem o desprezo pelos elementos fundamentais da aprendizagem e consequentemente pelos alunos, que deles ficam privados) não terá outro efeito que não seja destruir a transmissão de conhecimentos.
4. Que assim se torna necessário estabelecer uma clara diferença entre o Ensino Primário (instrução nos domínios fundamentais) e o Ensino Secundário (reforço significativo dos conhecimentos científicos e literários). Que o Ensino Secundário deve ser reconhecido oficialmente em todos os países da União Europeia, ter duração adequada e constituir uma identidade própria, representando bem mais do que um simples patamar de acesso à Universidade ou aos Estudos superiores de Formação Profissional.
5. Que, finalmente, a homologação dos conhecimentos nos diferentes estados membros se deva apoiar na sua avaliação individual por professores e Estados através de provas gerais no fim dos ciclos secundários.
Por conseguinte, nós abaixo-assinados
Apresentamos ao Parlamento Europeu a seguinte petição:
O Parlamento Europeu deverá pressionar os Estados membros no sentido de:
Ter em conta as propostas educativas dos professores, únicos e verdadeiros profissionais do ensino, a todos os níveis académicos, em vez de os sobrecarregar, muitas vezes em detrimento da sua própria liberdade pedagógica, com a incessante programação de actividades inúteis. Promulgar a legislação necessária para que sejam devidamente respeitados.
Dar prioridade à instrução nos saberes elementares, tais como a língua oficial do país e as matemáticas desde o início da escolarização. Favorecer a aquisição eficaz dos conhecimentos associados a estes domínios, garantindo nomeadamente os horários necessários à sua aprendizagem.
Garantir, ao longo de todo o Ensino Secundário, uma formação em ciências e em letras que favoreça o conhecimento europeu tradicional e partilhado e que assegure a formação crítica no espírito iluminista, contrariamente ao preconizado na “estratégia de Lisboa”, que reduz a escola a um serviço e o saber a um conjunto de “competências” parcelares.
Garantir, no quadro da convergência europeia, um grau comum de Bacharelato, com uma duração preparatória mínima de três anos, cujo diploma seja homologado pelas Administrações educativas através de um exame directo dos conhecimentos dos alunos, independente dos seus estabelecimentos de origem e do seu controle continuado.
Agasalhado na concha do ventre, o corpo de alguém se forma. Alguém despreocupado, confiante, simples, que vive sua vida de sonhos. Aguarda o momento em que verá a luz. Um dia estivemos todos lá, mergulhados nessa cálida inconsciência, aguardando... Por isso, a idéia de uma lâmina que extingue essa vida pequenina nos dói tanto.
Aqui no Brasil, projetos de lei querem tornar legal o aborto. Há algo mais cruel do que tirar a vida do indefeso? Do que não tem voz? Há coisa mais estranha do que descartar pedaços de gente porque serão mal-formados, deficientes, di-fe-ren-tes?
Legalizar o aborto é optar pela exclusão. É criar uma sociedade em que fetos mal-formados ou simplesmente indesejados são descartados. Como papel usado, como laranja chupada, como lápis quebrado. Como lixo. Mas são gente! E querem viver. Quem falará por eles? Quem lhes tomará a defesa?
Em horas decisivas da história, houve gente que dormiu, que negou, que se escondeu, que evitou, que fugiu. E você?
O Partido Nacional Renovador é o único partido que defende Portugal e os Portugueses. Quase todos os restantes candidatos têm responsabilidades no estado calamitoso da cidade e do País. Lisboa é uma cidade insegura, com índices crescentes de criminalidade. O panorama da capital é desolador: obras embargadas, jardins sujos e devastados, lixo nas ruas, comércio tradicional em crise, trânsito caótico e bairros onde a polícia não entra. Para além disto, o município encontra-se em ruptura financeira. Impera a lógica dos lóbis, dos clientelismos e dos tachos, em favor de amigos e correligionários. A maior Câmara do País é o exemplo claro de que, neste sistema, os valores nacionais não valem nada e que, infelizmente, os interesses dos partidos estão sempre à frente dos interesses de Portugal. Votar no PNR é protestar contra esta situação infame. O PNR quer moralizar a gestão autárquica, repovoar a cidade e apoiar a Família, garantir a segurança dos lisboetas, e transformar Lisboa na capital da cultura lusíada.
O INE acaba de publicar um artigo a propósito do Dia Internacional da População que se celebra hoje, 9 de Julho, em que revela que o Índice Sintético de Natalidade (ISN) atingiu, em 2006, o valor mais baixo de sempre, 1.36.
Assim, e ao contrário do que foi previsto pelo INE na sua última projecção demográfica em que, no cenário base, previa que o ISN crescesse de 1.40 para 1.70 em 2050, este índice não pára de baixar como resultado óbvio de uma política anti-natalista cada vez mais penalizadora para as famílias com filhos, tanto mais quanto maior o seu número.
A projecção demográfica é uma ferramenta indispensável para qualquer governo prever o futuro da sociedade e, assim, dotar atempadamente o país das infra-estruturas necessárias. Havendo, assim, um erro tão grosseiro nos dados de partida para a projecção demográfica conhecida, a APFN apela ao governo para que exija que o INE faça uma nova projecção realista, a fim de mostrar se, de facto, o país precisa de um novo aeroporto, ou, pelo contrário, se não será preferível investir fortemente nas famílias com filhos, para garantir o futuro do país fortemente ameaçado.
A APFN apela ao PR para explicar melhor ao governo as suas preocupações neste domínio, a fim de que este tome as medidas que se impõem e que têm vindo a ser adoptadas, com sucesso, na esmagadora maioria dos nossos parceiros europeus.
Existe a ideia generalizada de que o movimento das sociedades se faz sempre para diante. E que esse movimento é necessariamente bom. Por isso, a palavra ‘conservador’ tem uma conotação negativa e a palavra ‘progressista’ significa um
elogio.
Mas uma coisa e outra nem sempre são verdadeiras. Na marcha das sociedades há avanços e recuos – e nem todo o progresso é bom. Há períodos em que o movimento da História se acelera e outros em que se verificam recuos civilizacionais. Existem momentos em que a História parece estar a chegar ao fim e outros em que se cheira o futuro e tudo parece em aberto.
Quando eu era criança havia uma colecção de cromos chamada Raças Humanas. Este nome hoje seria impossível, porque a palavra ‘raça’ foi banida do vocabulário. Mas o certo é que era uma colecção muito instrutiva. Através dela aprendíamos outros usos e costumes, percebíamos a existência de outras culturas, tomávamos conta da diversidade do planeta, conquistávamos outros horizontes.
Os cromos eram vendidos em pequenos envelopes fechados que custavam quatro tostões (40 centavos) e cada pacote continha três cromos. O momento da abertura do envelope era um momento sagrado e de grande expectativa: tratava-se de ver se já tínhamos ou não os cromos que vinham no interior. Se já os tínhamos, dizíamos que eram ‘repetidos’. Como na infância os miúdos têm uma memória infalível e que parece inesgotável, mal olhávamos para um cromo sabíamos logo se era ‘repetido’ ou não.
Quanto mais a colecção se aproximava do fim mais a coisa se complicava – porque o número de cromos ‘repetidos’ que cada pacote trazia naturalmente aumentava. Havia, porém, uma facilidade: os últimos 30 cromos requisitavam-se directamente à editora.
Entre todos os cromos da colecção, aquele que melhor recordo – e que na altura me impressionou imenso – mostrava uma mulher negra com argolas pendentes nas orelhas e no nariz, e um prato entalado no lábio inferior, que era cortado e depois esticado até conter o prato, tornando-se disforme.
Aquilo, mesmo tendo em conta o exotismo, tornava-se-me difícil de entender, tão absurda era a situação e tão arrepiante era o aspecto daquela mulher. E congratulava-me com o facto de o progresso da Civilização banir tão anacrónicos costumes.
Um destes dias, num elevador de Lisboa, fiquei cara-a-cara com uma adolescente que irresistivelmente me fez vir à memória a imagem da jovem negra da colecção de cromos: tinha as orelhas perfuradas em vários sítios por argolas, outras duas argolas no nariz, um furo entre o lábio inferior e o queixo, ‘ornamentado’ com uma pequena esfera prateada, e, quando abria a boca, deixava ver mais uma esfera cravada na língua.
Mas os sinais de ‘regressão civilizacional’ não se circunscrevem aos chamados piercings.
Picasso e Matisse, dois dos maiores génios da arte contemporânea e talvez os seus pintores mais representativos, buscaram a inspiração na arte étnica, transportando para as telas a força de pinturas nativas que pouco evoluíram desde a arte rupestre.
Falo disto à vontade, porque aprendi a admirar Picasso e Matisse e pertenço a uma geração que os olha como deuses. Mas quando vemos os seus quadros e depois contemplamos Rembrandt, Velázquez, Rubens ou Zurbarán, temos inevitavelmente uma sensação de retrocesso – como se uma Civilização tivesse atingido o apogeu e depois voltasse ao princípio, necessitando de aprender tudo de novo.
E na música passou-se o mesmo.
Quando entramos numa discoteca, onde o gigantesco ruído ambiente anula todas as nuances melódicas, só se ouve distintamente um som, ritmado, cavo, massacrante: Pam!... Pam!... Pam!... Pam!... Pam!... E isto qualquer que seja a música. É o regresso ao tempo dos batuques, aos sons minimalistas, à selva. Mas mesmo quando se consegue ouvir a voz do vocalista, a sofisticação não é muito maior: ruídos guturais, gritos quase animais, grunhidos.
Também aqui se tem a mesma ideia de que se deitaram fora séculos de história, de cultura, de aprendizagem. Alguém, ouvindo estas músicas, diria que são muito posteriores às sinfonias de Beethoven, às sonatas de Mozart ou às óperas de Wagner? Não parecem estes novos batuques contemporâneos uma espécie de provocação, uma resposta grotesca aos mestres da música, mostrando-lhes que pregaram no deserto dando pérolas a uma Humanidade que as não merecia?
E que dizer das danças? Do agitar frenético dos corpos nas discotecas de Vila Real de Santo António a Paris, Londres ou Berlim? Alguém dirá que por aqui passaram
muitos séculos de Civilização?
Falta ainda falar das tatuagens. De uma prática que eu julgava condenada, que há 40 anos estava circunscrita aos soldados que serviam nas colónias, e carinhosamente mandavam escrever no braço
Amor de mãe
Angola
(ou Guiné ou Moçambique)
1961
(ou outra data até 1974) ou então aos ‘embarcadiços’, que ficavam longas temporadas no mar, longe das famílias, e adquiriam hábitos estranhos.
Pois bem: as tatuagens regressaram em força. Tatuam-se nomes, inscrições amorosas, desenhos (a preto e branco e a cores), deixando a pele salpicada de manchas escuras, quando não quase completamente coberta. E dando uma ideia de sujidade, de pouco asseio. Também aqui é flagrante o paralelo com certas práticas primitivas, em que se fazem desenhos na carne para toda a vida.
Vivemos, pois, uma época de regressão civilizacional.
Numa altura em que a ciência atinge uma velocidade vertiginosa e alcança um grau de sofisticação inimaginável, em que as novas tecnologias quebram todas as barreiras e nos maravilham diariamente com novas descobertas, os comportamentos humanos e as artes dão um salto para trás.
Há como que um regresso ao básico. Mesmo a arquitectura perdeu requinte – refugiando-se no mais elementar, no branco e nas linhas rectas, como que receosa
de cometer erros.
Que explicação haverá para isto?
Por que será que a um período de progresso técnico sem paralelo na História do Homem corresponde uma cultura urbana que deitou fora tudo o que aprendeu e se compraz na reprodução de modelos primitivos?
"O título tem um tom provocatório, mas eu vou justificar. Não digo que esteja para breve o nosso fim de país independente e livre. Mas, pelo andar da carruagem, traduzido em factos e sintomas, a doença é grave e pode levar a uma morte evitável. Aliás, já por aí não falta gente a lamentar a restauração de 1640 e a dizer que é um erro teimarmos numa península ibérica dividida. De igual modo, falar-se de identidade nacional e de valores tradicionais faz rir intelectuais da última hora e políticos de ocasião. O espaço nacional parece tornar-se mais lugar de interesses, que de ideais e compromissos.
Há notícias publicadas a que devemos prestar atenção. Por exemplo: um terço das mpresas portuguesas já é pertença de estrangeiros; 60% dos casais do país têm apenas um filho; vão fechar mais cerca de mil escolas ou de mil e trezentas, como dizem outras fontes; nas provas de língua portuguesa dos alunos do básico, os erros de ortografia não contam; o ensino da história pouco interessa, porque o importante é olhar para a frente e não perder tempo com o passado; a natalidade continua a descer e, por este andar, depressa baterá no fundo; não há nem apoios nem estímulos do Estado para quem quer gerar novas vidas, mas não faltam para quem quiser matar vidas já geradas; a família consistente está de passagem e filhos e pais idosos já não são preocupação a ter em conta, porque mais interessa o sucesso profissional; normas e critérios para fazer novas leis têm de vir da Europa caduca, porque dela vem a luz; a emigração continua, porque a vida cá dentro para quem trabalha é cada vez mais difícil; os que estão fora negam-se a mandar divisas, por não acreditarem na segurança das mesmas; os investigadores mais jovens e de mérito reconhecido saem do país e não reentram, porque não vêem futuro aqui; a classe média vai desaparecer, dizem os técnicos da economia e da sociologia, uma vez que o inevitável é haver só ricos cada vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres; os políticos ocupam-se e divertem-se com coisas de somenos; e já se diz, à boca cheia, que o tempo dos partidos passou, porque, devido às suas contradições, ninguém os toma a sério; a participação cívica do povo é cada vez mais reduzida e mais se manifesta em formas de protesto, porque os seus procuradores oficiais se arvoram, com frequência, em seus donos e donos do país e fazedores de verdades dúbias; programa-se um açaime dourado para os meios de comunicação social; isolam-se as pessoas corajosas e livres, entra-se numa linguagem duvidosa, surgem mais clubes de influência, antecipam-se medidas de satisfação e de benefício pessoal…
Não é assim, porventura, que se acelera a morte do país, quer por asfixia consciente, quer por limitação de horizontes de vida?É verdade que muitos destes problemas e de outros existentes podem dispor de várias leituras a cruzar-se na sua apreciação e solução. Mais uma razão para não serem lidos e equacionados apenas por alguns iluminados, mas que se sujeitem ao diálogo das razões e dos sentimentos, porque tudo isto conta na sua apreciação e procura de resposta.
Há muitos cidadãos normais, famílias normais, jovens normais. Muita gente viva e não contaminada por este ambiente pouco favorável à esperança. Mas terão todos ainda força para resistir e contrariar um processo doentio, de que não se vê remédio nem controle? Preocupa-me ver gente válida, mas desiludida, a cruzar os braços; povo simples a fechar a boca, quando se lhe dá por favor o que lhe pertence por justiça; jovens à deriva e alienados por interesses e emoções de momento, que lhes cortam as asas de um futuro desejável; o anedótico dos cafés e das tertúlias vazias, a sobrepor-se ao tempo da reflexão e da partilha, necessário e urgente, para salvar o essencial e romper caminhos novos indispensáveis. Se o difícil cede o lugar ao impossível e os braços caem, só ficam favorecidos aqueles a quem interessa um povo alienado ao qual basta pão e futebol…
Mas não é o compromisso de todos e a esperança activa que dão alma a um povo?"
D. António Marcelino, Bispo Emérito de Aveiro
No ano de 2006, registaram-se em Portugal menos 4100 nascimentos que no ano anterior. Estes números colocam as taxas de natalidade e fecundidade aos níveis mais baixos desde que há registos.
De acordo com os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), no ano passado nasceram 105 351 bebés. O número médio de filhos por mulher caiu dos 1,41 para 1,36.
No período 1987 e 2006, a taxa de natalidade decresceu dos 12,2 para 10. o adiamento da maternidade e o declínio da fertilidade são dois factores que podem explicar a diminuição do número de bebés. Actualmente é a faixa etária entre os 30-34 que apresenta maior taxa de fecundidade.
O cenário mais pessimista do INE aponta para uma diminuição da população portuguesa até 2050. Se nada for feito, Portugal vai ver a sua população reduzida a 7,5 milhões de pessoas naquela data.
Heróis do Mar na RTP em 1988. A canção já então tinha uns anos... a letra é do Paulo Borges (fase pré-budista), a música é "heróica" (isto é, Pedro Ayres et alia).
Além de Eurico de Barros (Os cem anos do escritor que nunca parou de inventar futuros) também Flávio Gonçalves evocou Robert A. Heinlein no dia do seu centésimo aniversário: Anarquista patriótico? 100 anos de Robert A. Heinlein