segunda-feira, julho 06, 2009

A (não) democracia cristã em Portugal

Do misterioso colaborador José Silva recebemos um novo e polémico artigo, que de pronto oferecemos aos nossos leitores.

Porque é que não há democracia cristã em Portugal? Afinal, os democratas cristãos são a segunda maior força política na Europa. Neste, como em muitos outros assuntos, Portugal não parece ter muito a ver com os seus congéneres europeus. Porquê? Afiguram-se-nos muitas possibilidades:
1 - Os democratas, em Portugal, não são cristãos.
2 - Os cristãos, em Portugal, não são democratas.
3 - Os cristãos, em Portugal, não sabem que são cristãos, nem democratas.
4 - Ser democrata-cristão não implica ser democrata nem cristão.
5 - Em Portugal, nada faz sentido desde 1974.
Esperamos que o leitor tenha meditado, ainda que brevemente, em cada uma das possibilidades. Se de facto o fez, deve ter concluído como nós, que por muito estranho que pareça, TODAS as hipóteses, têm o seu quê de verdade. De facto, a verdade, parece ser a soma de um pouco de todas elas.
Senão vejamos:
1. Democracia, é um termo que permite uma multiplicidade de aplicações. Serve para caracterizar a Alemanha de Leste, no pós guerra (separada de uma Alemanha federal, aos nossos olhos muito mais democrática!?!). Serve para caracterizar o regime chinês e o americano. E, porque não, o da Coreia do Norte? No Portugal do pós 25 de Abril, serviu para caracterizar os modelos de Estado de herança marxista-leninista ou trotskista – incompatíveis, de facto com o cristianismo (vejam-se as encíclicas sobre o comunismo). Serviu igualmente, para caracterizar um modelo de Estado não marxista, mas dirigido por aqueles que pertenciam a, pelo menos, duas diferentes lojas maçónicas – outra incompatibilidade com o mesmo cristianismo (vejam-se as encíclicas que proíbem aos católicos pertencerem à dita organização). Resumindo, os não-cristãos apropriaram-se do exclusivo da palavra democracia. Os restantes eram “faxistas”!
2. Perante semelhante quadro, um cristão poderia facilmente chegar à conclusão: Se ser democrata é pactuar com esta gente, então não sou democrata. E, de facto, a essência do cristianismo não é a democracia. O povo não detém o poder de per si, como o teria a partir duma concepção materialista do Universo. O povo detém uma parcela do poder divino, pois todo o poder, de facto, provém de Deus. Um cristão que pense nestas coisas a sério pode concluir razoavelmente: Eu sou verdadeiramente teocrata. Aceito a democracia, como forma de expressão de uma teocracia universal. A democracia é uma concessão, não um imperativo.
3. É triste, mas é verdade. Mercê de catequeses superficiais ou não existentes, de casamentos católicos feitos à pressa, e de famílias divididas, ou pura e simplesmente incapazes, o jovem católico dos dias de hoje não tem, regra geral, uma formação cristã aprofundada. Não consegue compreender que, embora a religião que professa não subscreva este ou aquele modelo político (nem tal seria desejável uma vez que os ditos modelos vão e vêem e ela permanece), a religião indica princípios que são aplicados ou não em cada um desses modelos.
Mais do que acreditar em Deus e fazer bem aos pobres, ser católico implica uma noção diferente das concepções actuais do Direito, que se materializa em diferentes formas de encarar os direitos individuais, a família, a propriedade - por consequência a economia - e finalmente o governo e a representatividade.
4. Tal como a palavra democracia foi sendo apropriada por comunistas e maçons, a expressão democracia-cristã foi apropriada por liberais protestantes no centro da Europa. (Para uma melhor compreensão do fenómeno veja-se, de Max Weber A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo). Ser democrata-cristão é hoje, aos olhos de muitos, ser capitalista moderado. A verdade é que as duas realidades não têm nem devem ser necessariamente associadas. Ser capitalista no verdadeiro sentido da palavra não é, como Bento XVI tem várias vezes explicado, ser cristão.
5. É verdade, e igualmente triste. Pior do que qualquer censura do Estado Novo, é a censura pós Estado-Novo. A primeira era conhecida e institucionalizada. Sabíamos de onde vinha e o que proibia. A segunda parece (embora, de facto não o seja) generalizada. Aparentemente proíbe apenas e simplesmente, a verdade. Oficialmente, caminhamos constitucionalmente para uma sociedade sem classes (classes essa que nunca existiram nos termos marxistas). Oficialmente, temos partidos baseados em ideologias, mas que são na verdade associações de clientes. Oficialmente somos europeus – mesmo que o nosso modo de vida, e não falamos só de economia – tenha pouco a ver com o dos nossos vizinhos. Os nossos filhos não aprendem História de Portugal nem Língua Portuguesa em condições. A verdadeira censura inunda-nos de informação enquanto nos retira a identidade. Por isso, a maioria de nós já não sabe ser democrata nem cristão.
A isso acresce um outro problema: Neste jogo às escondidas com a verdade, em que nada é o que parece, tivemos dois fenómenos (quiçá bem intencionados) que desacreditaram a democracia cristã em Portugal aos olhos do grande público:
5.1 – O PDC/MIRN/FN. Quando era miúdo eu era do Mirn! Simpatizava com um partido que soasse contestatariamente mal Mirrrrnnnn! Simpatizava com quem se opusesse às roubalheiras que o Dr. Almeida Santos fez aos nossos retornados. Apoiava quem fizesse frente a quem entregou as casas e os bens dos meus familiares (que nunca tiveram qualquer actividade política e sempre trabalharam honestamente) aos descolonizadores marxistas. Pressentia o mais tarde revelado terrorismo impulsionado por Rosa Coutinho e seus comparsas.
Poucos simpatizaram com esta coligação e só o entendi à medida que fui crescendo e aprendendo: O PDC/MIRN/FN era reacção lógica dos que escaparam ao exílio. Eram poucos e resistiram juntos. Mas era igualmente uma incongruência ideológica: Não se pode misturar democracia-cristã, com extrema-direita. O cristão não é de direita nem de esquerda: é cristão – preconiza a conciliação e o humanismo mais perfeito e mais duradouro a que a humanidade já assistiu – Deus feito Homem para os homens. Mas na mente das pessoas, democracia cristã era extrema direita, era nazismo e anti-semitismo, era ser skinhead e matar pretos no Bairro Alto. Nunca o foi, mas nunca conseguiu libertar-se dessa imagem.
5.2 – Como alternativa surgiu o CDS. Não se afirmava plenamente democrata-cristão, mas parecia mesmo. Muitos dos que eram mesmo democratas e cristãos votaram nele. Mas essa falta de afirmação política, essa falta de definição e coerência internas foram-lhe fatais – pendeu para o tal capitalismo moderado, e depois de uma série de líderes válidos, mas com concepções políticas díspares, acabou sem espinha dorsal nas mãos de um homossexual. Alguns, por falta de alternativas, ainda lhe concedem o voto útil enquanto tentam esquecer episódios de corrupção.
Eis então porque não há democracia cristã em Portugal.
Se não há em quem votar – não votamos. Para existirmos e para nos organizarmos não precisamos de votos nem de partidos. Precisamos constituir uma oposição unida, coerente e organizada, não ao governo, mas ao regime!
Se no regime vigente acharmos necessidade duma organização formal acharemos suporte legal para o fazermos. No final de contas, o que contam não são os nomes nem os papéis. O que conta somos nós.
JOSÉ SILVA

1 Comments:

At 1:51 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Perfeita descrição do que se passa com a Democracia Cristã em Portugal e pela Europa fora.
O desmembramento daquela que poderia ser a corrente político-religiosa mais importante para o bem estar e paz dos povos europeus, é só aparente porque foi estudado e aplicado no terreno com esta finalidade. O que possa dizer sobre a Democracia Cristã é sem atitudes prèconcebidas ou preconceituosas, uma vez que por um motivo ou outro, embora tenha simpatizado com a sua linha ideológica até há alguns anos, nunca votei neste partido. Hoje, vendo os conluios ao longo de 35 anos entre os partidos situacionistas, inadmissìvelmente sempre os mesmos, acho que fiz muitíssimo bem.
O poder mundial não deixa que haja mais do que dois partidos a governarem as democracias. Na verdade em todos os países onde ela impera, lá estão os dois partidos ungindos pelos mundialistas com o fim de orientarem para todo o sempre as respectivas políticas. Os pequenos partidos, Democracia Cristã incluída, só servem para compor o ramalhete, cá e nos países europeus, dando um ar pluralista e democrático aos regimes. Trata-se de um mega embuste a nível europeu desde que ela foi criada. Quem manda não são os reais governantes desses países, estes limitam-se a cumprir ordens provindas do supragoverno mundial.
A Democracia Cristã europeia está moribunda, se é que não o esteve desde o seu início. Após a sua necessária criação, porque na Europa seria impensável ela não existir, foi não obstante uma criação mundialista, limitando-se a pairar sem vida propria e nunca conseguindo afirmar-se a nível político - com a excepção d'Itália, que se veio a verificar não ser exemplo pelas razões conhecidas - mas que no entanto a Europa necessitava em absoluto por lhe estar na própria génese. Consequentemente o seu fim estava marcado, seria uma questão de tempo. O que resta dela não tem qualquer interesse moral, político ou religioso. Ela tem sido um arremedo de um verdadeiro partido Cristão. Os motivos são imensos e conhecidos.
O Sr. José Silva está correctíssimo na sua asserção. Não existe uma genuína Democracia Cristã em Portugal e francamente nunca existiu. Esse partido que diz representá-la, não o faz. Os portugueses católicos, ou os que não o sendo são conservadores, já não se revêem no único partido que sempre se disse de direita mas que paradoxal e simultâneamente sempre se afirmou do centro e popular..., aliás e por isso mesmo o único autorizado pela nomenclatura a perpetuar-se e a fazer a cada quatro anos prova de vida.
O povo português e por extensão os povos da Europa, estão em bom rigor sem partidos de direita que efectivamente os representem e preencham os seus lídimos anseios. Os sistemas proibem-lhes a existência. As nomenclaturas têm um medo aterrador do que eles possam fazer aos sistemas (e mesmo aos regimes), ou seja, com os votos em peso da enormíssima maioria dos eleitores europeus, arredarem-nos do poder para sempre.
Todos os pequenos partidos, de extrema esquerda ou de direita (já nem é bom falar nos de extrema direita), autorizados pelo sistema a fazerem parte dele, mas situando-se sempre do lado de fora do poder, bem entendido, existem com o fim específico de lhe dar credibilidade, passando um aval de legitimidade a um regime fictício sem o qual seria impossível impor-se às populações. Mas o poder mundial sabe-a toda e tinha perfeita consciência de quais os condimentos necessários para as democracias se imporem como regimes no mundo. Para eles, introduzi-las nos países conservando-as eternidades no poder é uma brincadeira de crianças, não fossem eles os maiores e mais perfeitos obreiros das piores guerras, violências, crimes, revoluções e cataclismos não naturais, que, para seu tremendo sofrimento e infelicidade, o ser humano jamais conheceu. Regime este que é o maior embuste da História, criado com uma única finalidade: destruir a própria humanidade. Mas que também há-de ter um fim. É da natureza das coisas que assim aconteça. Deus não dorme.
Maria

 

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