O 25 DE ABRIL E A HISTÓRIA
Um blogue às direitas em tempos sinistros
"A Europa Ocidental viveu quase mil anos sob regimes absolutistas. Com reis sábios e reis ignorantes, com reis prudentes e reis audaciosos, com reis usurários e reis perdulários, com reis aconselhados e reis mal aconselhados.
Em quase dez séculos de regime absoluto esses reis bons e maus fizeram a Europa. A Europa dos humanistas, das catedrais, da ordem jurídica, dos grandes pintores, escultores e escritores, a Europa dos navegadores, porta-voz do facho de uma civilização que transportou a todos os outros continentes.
As democracias receberam em herança uma Europa rica, poderosa e exuberante de vida. Centro incontestado do Mundo, impunha-se tanto pela força das armas como pelo brilho artístico, valor científico das suas elites e pela opulência das suas instituições financeiras.
Em pouco mais de um século a Europa das grandes potências militares do Mundo tornou-se uma terra indefesa, dominada a Leste pelos russos e protegida a Oeste pelos americanos. A sua segurança – a sua pretensa segurança – assenta na força das tropas estrangeiras que estão acantonadas no seu território. As decisões políticas à escala mundial são tomadas sem a sua audiência. O seu próprio destino depende do jogo de interesses e da boa vontade de potências de outros continentes.
Sem dúvida os bancos centrais europeus são os grandes detentores do ouro monetário internacional. Mas o ouro deixou de ser escalão monetário: foi substituído pelo dólar, símbolo do poder económico e financeiro norte-americano e da subordinação europeia às decisões tomadas do lado de lá do Atlântico.
Nenhuma das grandes potências mundiais é europeia. O nosso velho continente, que nos fins da II Guerra Mundial dominava quase sessenta milhões de quilómetros quadrados com mil milhões de habitantes, está reduzido à “pequena península da Ásia” de Paul Valéry, com mais ou menos quatrocentos milhões de habitantes que parecem ter perdido a coragem física para se baterem em defesa dos seus direitos e liberdades.
A Europa de hoje lembra a Grécia de há dois mil anos. Um pequeno país vencido e diminuído que se emocionava com o advento do poder, em Roma, dos Césares a que devia obediência."
Valdez dos Santos, in Jornal Português de Economia & Finanças
Longe vão já os tempos da vitoriosa insubordinação do 25 de Abril. Pelo caminho ficaram milhões de mortos. Atolados nesta lama de sangue os gloriosos militares vencedores ainda agora blasonam o seu glorioso feito. É a estupidez a tentar justificar a covardia. É tempo de fazer as contas e de avaliar os desgostos.
O orgulho maior do abrilismo é a “descolonização”. Fartos de andarem com a casa às costas, de serem cornos e de se passearem pelos quatro cantos do mundo a defenderem Portugal, os abrilinos resolveram acabar com a guerra para regressarem a penates. Aproveitando-se da fraqueza de Marcelo Caetano, da torpeza de Costa Gomes e da estupidez vaidosa de Spínola organizaram-se celularmente. Numa manhã chuviscosa tomaram conta do poder. Entregaram-no a um epiléptico compensado, coronel de engenharia, chamado Vasco Gonçalves e, num ápice, desfizeram uma obra de cinco séculos. Diz-se que o medo guarda a vinha. Neste caso arrancou-a e destruiu-a. De Julho de 1974 a Novembro de 1975, Portugal viu-se amputado do melhor do seu território histórico do Ultramar, e completamente arruinado na Metrópole. Um misto de loucura furiosa e de ignorância política emporcalhou repulsivamente toda uma gesta heróica, antiga, moderna e contemporânea. É difícil encontrar outro povo que, em tão pouco tempo, tenha sido de tal forma enxovalhado e menorizado.
Tratou-se de libertar povos africanos da férula do colonialismo português. Houve quem recebesse dinheiro por isso. Entregaram-se milhões de pessoas à tirania feroz de uns quantos reizetes negros que, divididos por infindáveis guerras tribais, se comeram uns aos outros. O que se passou e se passa em Angola e Moçambique é uma das grandes tragédias do nosso tempo. Conscientemente planeada! Para que se pudessem explorar lucrativamente e sem entraves políticos as matérias primas das duas antigas províncias portuguesas, tornava-se necessário criar vazios de poder, com governos fantoches, ineptos e corruptos a facilitarem o desenvolvimento do processo. Tornadas à selva as populações morreriam de inanição, vítimas da guerra endémica e larvar. Regressava a África à configuração geopolítica do século XV.
Como se tal não bastasse inverteu-se deliberadamente o sentido histórico da nossa política externa, tradicionalmente virada para o Mar, para a revirar para a Europa. Perdeu-se capacidade de defesa — e perdeu-se soberania. Portugal é hoje apenas uma província da Europa inteiramente dependente dela por intercessão da Espanha. Numa situação de guerra continental ficaremos bloqueados. Perdido o Ultramar, integrados nas Comunidades, limitados aos interesses estratégicos de Bruxelas, deixámos de ser um Estado independente, sem agricultura que preste, sem indústria que nos valha, sem nada que nos defenda.
Segundo António José Saraiva o 25 de Abril foi a maior derrota de Portugal depois de Alcácer Quibir. Tal como em 1578, perdemo-nos em África e por causa de África, com a diferença moral e catastrófica de não termos lá ficado mortos, mas termos morrido na fuga, um exército inteiro retirando em debandada coberto de opróbio e borrado de medo.
Quarenta e sete anos volvidos aguardamos aviltantemente o fim — a não ser que, num momento de revolta e de vergonha consigamos libertarmo-nos das quadrilhas que nos sugam o sangue e a alma. Discutir tudo o que está, desde as fronteiras geográficas às formas políticas do sistema, é o que nos sobra de esperança. A todo o instante é possível recomeçar Portugal, não cedendo um milímetro daquilo que sempre foi português.
Vencer o 25 de Abril continua a ser o nosso primeiro objectivo.
(artigo de opinião, de Brandão Ferreira, em ALTERNATIVA PORTUGAL
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