Thomas Molnar - Ao ler no "Nova Frente" uma referência a Molnar, acordaram-me lembranças que trago associadas ao nome. Do autor eu só tenho e apenas li o livro "A Contra-Revolução". Para além disso só uns artigos, da sua colaboração dispersa em algumas revistas francesas, me fizeram conhecer o nome e a obra.
Creio eu que o citado "A Contra-Revolução" é a única obra dele traduzida e publicada em Portugal. Foi editado em tempos pelas edições "Roger Delraux", durante uns anos com actividade editorial importante. Ora por observar isso e nada conhecer sobre tal editora fiquei sempre intrigado quanto à mesma, e seus responsáveis. E o certo é que ninguém era capaz de me dar informações mais precisas. Entretanto, tão misteriosamente como surgira, a editora cessou actividade.
E aconteceu mais tarde que eu vim a conhecer e a iniciar convívio regular, por força de amizade que espontaneamente surgiu, com o Gérard Leroux, personagem que para mim permanece misteriosa, para além do fascínio, do encanto e das convergências de ideias e sentimentos. Em certa ocasião estando a jantar com o Gérard, e com a Mafalda Rebelo Pinto, veio à conversa o meu apreço por tais edições "Roger Delraux", e certas obras e autores. Recordo-me de falar na "Psicologia das Multidões", de Gustave Le Bon, na "Rebelião das Massas", de Ortega y Gasset, no "Sobre Portugal nestes tempos do fim", de André Coyné - e como me intrigava o meu desconhecimento total, e o total desconhecimento dos meus conhecidos habituais, sobre quem na realidade estava por trás da editora.
Eis então que o Gérard, com o jeito algo tímido e discreto que é o dele, perante o olhar irónico da Mafalda que também é a discreção em pessoa, começa a balbuciar olhando-me com certa admiração: - "mas não há mistério nenhum... nunca houve editora... você não reparou nas letras "Roger Delraux"? Pois então, é isso... Gérard Leroux... ocorreu-me esse anagrama... a editora era só eu... depois quando perdi muito dinheiro tive que parar... mas você não sabia?"
Eu nem me tinha passado tal coisa pela cabeça! E fiquei então sem palavra perante a descoberta dessa outra faceta do discreto Gérard. Mas confesso aqui e agora que ainda hoje fico intrigado quando penso nele, e noutros franceses "espiritualmente portugueses" que por cá apareceram mais ou menos ligados entre si, como foi o caso de Dominique de Roux e de André Coyné. Persegue-me sempre a sensação de que aquilo que sei nada é comparado com o que não sei.
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