Calores infernais
Hoje está um destes calores que fazem lembrar o desabafo do alentejano que chega ao inferno - "compadre, isto aqui é pior que Beja!"
Mas continuo a digressão pela blogosfera. Encontro afinal um amigo, saudoso amigo. Há quantos anos falto eu à conversa, inesgotável, estimulante, que nos entretinha horas a fio Chiado abaixo Chiado acima.... Entretanto, passaram uns dezoito anos, e nem sequer sei como estará agora o Chiado. Sei que morreu o Manuel Maria Múrias, incomparável companheiro, iconoclasta genial, insubmisso e turbulento - e o maior jornalista português (estou a ouvi-lo tonitruar: "um-metro-e-noventa-e-um-sem sapatos!"). Deve estar lá em cima a contar, sarcástico, como sofreu prisão por no seu jornal aparecer escrito coisa tão banal que nenhum português passou sem dizer ou pensar alguma vez ("Soares é um mentiroso relapso e contumaz").
Famigerado três émes! Faz-me falta, e julgo que ele nem sequer percebeu como eu gostava dele. Morreu também o António Lopes Ribeiro, eterna fonte de juventude e bom humor, brilhozinho nos olhos sempre a anunciar comentário sábio e mordaz.
Ocupados sempre com a transcendência, ele trazia-nos à terra com uma observação simples, uma história banal, uma quadra popular, tudo salpicado de ironia fina de alfacinha matreiro. Aquele eléctrico a descer a Calçada da Estrela não pode ser o mesmo sem o António.
Vivo e respirando juventude, o António da Cruz Rodrigues. Cheio de ideias, projectos, iniciativas, dinâmica - o seu blog diz-me que está na mesma. Deus o queira, e que o conserve assim muitos anos.
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