Arnie the Barbarian
Nas profundezas do seu exílio transtagano, Manuel Azinhal há uns bons anos que não entra numa sala de cinema. Por esse motivo os seus conhecimentos sobre a importante saga do “Terminator” devem-se todos ao pequeno écran.
Todavia, também guarda nos arquivos da memória algumas lembranças sobre Arnold Schwarzenegger, o musculado e (agora) famoso candidato a governador da Califórnia (e não só, que o homem visa claramente percorrer o caminho de Reagan).
Em data que já se apagou do registo, recorda-se aqui o escriba de ter ido ao Odéon (se a memória não falha assim se chamava um cinema que ocupava o gaveto da Rua dos Condes com a Praça dos Restauradores) para ver um filme protagonizado pelo referido actor em ascensão (não sei se já à data político em projecto).
O filme era “Conan the Barbarian”, do realizador John Milius, e o sempre bem informado Eurico de Barros, então fonte onde este vosso amigo procurava superar a sua ignorância na matéria, tinha feito saber que o mesmo tinha levantado polémica nalguns círculos da crítica bem pensante, que atacara realizador e actor por a obra, ao que diziam, seguir uma estética e um guião de características fascizantes.
Na verdade o filme desenvolve uma espécie de epopeia com tons de viagem iniciática, localizada num passado mítico, onde o herói, Conan, vai sucessivamente ultrapassando todos os obstáculos até vencer em apoteose as forças do Mal, representadas para o efeito por uma seita sinistra. Busca encosto numa imagem nietzschiana do super-homem, ou pelo menos na imagem que o consumidor vulgar associa a essa ideia, e com uma subtileza americana: logo a abrir aparece perante o espectador, destacada sobre o écran vazio, uma frase do filósofo, em letras gordas: “o que não nos mata torna-nos mais fortes”. Dado o mote segue-se o filme propriamente dito.
Era esse aceno a Nietzsche e essa inspiração na vulgata do super homem que estavam na origem dos ataques da crítica esquerdófila.
Mas não foi isso que me trouxe à lembrança o filme; na realidade foi o post antecedente, sobre a morte da bezerra....
Eu conto. Estava eu, e toda a sala, em solene e respeitoso silêncio perante o impacto da frase inicial, em negros caracteres sobre o écran nu (o que não nos mata torna-nos mais fortes) quando me deu uma forte vontade de rir, e não resisti a explicar em voz alta, quebrando a gravidade do momento: qualquer alentejano sabe disso; lá diz-se sempre “o que não mata engorda”...
E eis novamente como a sabedoria popular alentejana é perfeitamente equiparável à melhor filosofia.
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