segunda-feira, agosto 11, 2003

Arnie the Barbarian

Nas profundezas do seu exílio transtagano, Manuel Azinhal há uns bons anos que não entra numa sala de cinema. Por esse motivo os seus conhecimentos sobre a importante saga do “Terminator” devem-se todos ao pequeno écran.
Todavia, também guarda nos arquivos da memória algumas lembranças sobre Arnold Schwarzenegger, o musculado e (agora) famoso candidato a governador da Califórnia (e não só, que o homem visa claramente percorrer o caminho de Reagan).
Em data que já se apagou do registo, recorda-se aqui o escriba de ter ido ao Odéon (se a memória não falha assim se chamava um cinema que ocupava o gaveto da Rua dos Condes com a Praça dos Restauradores) para ver um filme protagonizado pelo referido actor em ascensão (não sei se já à data político em projecto).
O filme era “Conan the Barbarian”, do realizador John Milius, e o sempre bem informado Eurico de Barros, então fonte onde este vosso amigo procurava superar a sua ignorância na matéria, tinha feito saber que o mesmo tinha levantado polémica nalguns círculos da crítica bem pensante, que atacara realizador e actor por a obra, ao que diziam, seguir uma estética e um guião de características fascizantes.
Na verdade o filme desenvolve uma espécie de epopeia com tons de viagem iniciática, localizada num passado mítico, onde o herói, Conan, vai sucessivamente ultrapassando todos os obstáculos até vencer em apoteose as forças do Mal, representadas para o efeito por uma seita sinistra. Busca encosto numa imagem nietzschiana do super-homem, ou pelo menos na imagem que o consumidor vulgar associa a essa ideia, e com uma subtileza americana: logo a abrir aparece perante o espectador, destacada sobre o écran vazio, uma frase do filósofo, em letras gordas: “o que não nos mata torna-nos mais fortes”. Dado o mote segue-se o filme propriamente dito.
Era esse aceno a Nietzsche e essa inspiração na vulgata do super homem que estavam na origem dos ataques da crítica esquerdófila.
Mas não foi isso que me trouxe à lembrança o filme; na realidade foi o post antecedente, sobre a morte da bezerra....
Eu conto. Estava eu, e toda a sala, em solene e respeitoso silêncio perante o impacto da frase inicial, em negros caracteres sobre o écran nu (o que não nos mata torna-nos mais fortes) quando me deu uma forte vontade de rir, e não resisti a explicar em voz alta, quebrando a gravidade do momento: qualquer alentejano sabe disso; lá diz-se sempre “o que não mata engorda”...
E eis novamente como a sabedoria popular alentejana é perfeitamente equiparável à melhor filosofia.