Jornalismo de delito comum
O “Correio da Manha”, em título garrafal, a toda a largura da primeira página: “Juiz da pedofilia muda de casa”. Depois, em tipo mais miúdo, fornecem-se os detalhes sobre o assunto, do mais relevante interesse jornalístico, como decerto toda a gente concordará.
O “24 Horas”, também em primeira página: “Rui Teixeira e João Guerra têm medo que lhes tirem fotografias”. A acompanhar, ainda em primeira página, as fotografias dos visados, ao que se depreende obtidas à revelia deles. Seguem-se também os pormenores da rotina dos ditos.
Eu não vou tecer considerações sobre respeito pela privacidade, ou direito à imagem, ou direito à reserva e à intimidade da vida privada – que tudo, porém, são direitos consagrados e protegidos na constituição e na lei. Também não vou entrar em considerações àcerca de segurança, que todavia parecem ser prementes já que as autoridades policiais têm entendido ser preciso assegurar protecção especial a essas personalidades – o que se compreenderá pela onda de paixões que o processo aludido desencadeia. Paixões, ódios, e interesses poderosos ...
Mas não resisto a deixar algumas perguntas: será possível que isto não seja deliberado, propositado, consciente? Algum jornalista ignora as consequências de apontar alguém a dedo - a cara, a casa, o carro, os percursos, os hábitos, a família - em situações destas?
Quando amanhã um tresloucado qualquer aproveitar o caminho assim aberto, os mesmos senhores jornalistas virão publicar sentidos artigos de indignação contra ... o tresloucado, apenas?
Ou tais artigos já estão alinhavados, em reserva?
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