sexta-feira, agosto 29, 2003

Lembrando José Agostinho de Macedo

Aproxime-se o leitor de Lisboa pela Ponte Vasco da Gama, sem pressas, ao cair da tarde, quando o Sol, deitado à sua esquerda, já coroa a Ponte Salazar, bordando as águas e o casario de reflexos doirados, e saboreie delicadamente este poema. De um alentejano esquecido, que de Beja rumou à capital e assim o escreveu vai para duzentos anos.


A Cidade Bela

Quanto é bela Ulisseia! E quanto é grata
Dos sete montes seus ao longe a vista!
Das altas torres, pórticos soberbos
Quanto é grande, magnífico o prospecto!

Humilde e bonançoso o flavo Tejo,
Sobre areias auríferas correndo,
As praias lhe enriquece, as plantas beija.
Quão denso bosque de cavalos pinhos
Sobre a espádua sustenta! Do Oriente
Rubins acesos, fugidas safiras,
E da opulenta América os tesouros,
Cortando os mares líquidos, trouxeram.

Nela é mais puro o ar; e o Céu se esmalta
De mais sereno azul. O Sol brilhante,
Correndo o vasto Céu, se apraz de vê-la.
E quase se suspende, e, meigo, envia
Sobre ela o raio extremo, quando acaba
A lúcida carreira, a frente de ouro
No seio esconde das cerúleas ondas.