terça-feira, agosto 12, 2003

«A LUÍS DE CAMOENS»

Com solene indiferença, o tempo desmantela
As heróicas espadas. Traído e sem vintém,
À nostálgica pátria-tua-mãe
Tornaste, oh capitão, tão-só p`ra morreres nela

E com ela. À flor do mágico deserto,
O valor português tombou ferido
E o áspero espanhol, sempre vencido,
Ameaça desde logo este costado aberto.

Quero eu saber se, aquém da derradeira
Fronteira, pressentiste, humildemente,
Que quanto se perdeu — o Ocidente

E o Oriente, a lança e a bandeira —
Perduraria (alheio a toda a humana
Mutação) nessa tua Eneida lusitana.

JORGE LUÍS BORGES
(Versão portuguesa de Rodrigo Emílio)