Maggiolo Gouveia
Eu tinha decidido nada dizer sobre Maggiolo Gouveia; há horas em que o recolhimento e o respeito são paradigma de civilização.
Mas estive a ler o miserável texto que o Major Mário Tomé fez publicar no “Público” àcerca das cerimónias fúnebres.
E chegado ao fim, um comentário impõe-se, imperativo: nunca a canalhice tinha ido tão longe.
Nem a demência sectária pode servir de desculpa.
Perante a morte, mesmo os piores ódios usam suspender-se, reverentes.
Só as hienas e os abutres se lançam furiosos sobre a presa.
E foi o que fez o Major Tomé.
Maggiolo Gouveia, certo ou errado, era um de nós – e morreu longe e só, torturado, fuzilado, num tempo conturbado em que a pátria se revolvia em frenesim revolucionário, que se a uns exaltava, na antevisão dos amanhãs que nunca cantaram, a muitos outros deixou perdidos, os sonhos e os ossos, pelos quatro cantos do império.
Até por isso, o cerimonial decidido agora, vinte e oito anos depois, devia ter o significado de reencontro colectivo com o passado e com o destino que são património de todos – de pacificação da memória.
O Major Tomé, ao tempo dos factos torcionário no Regimento de Polícia Militar, quis aproveitar um funeral para relançar uma guerra civil nos espíritos.
E, infelizmente, não esteve só. A nova esperança do PS, Ana Gomes, resolveu assumir-se porta-voz dos fuziladores, agitada na lembrança do passado remoto – quando os fundadores da Fretilin saíram das faculdades lisboetas para implantar o marxismo-leninismo numa longínqua ilha do Pacífico. E foram por lá praticar o que os seus camaradas de cá, entre as quais ela, nunca puderam senão sonhar.
O PS devia ter vergonha de chegar a isto – ter como rosto o fanatismo dos nossos falhados khmeres rouges.
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