O Diabo à solta
Ontem, 24 de Agosto, foi dia de S. Bartolomeu.
Aqui na região o Santo é festejado sobretudo em S. Bartolomeu do Outeiro (Oriola de Cima), estranha terra que os homens, sabe-se lá porquê, colocaram no cabeço mais alto que assinala a meia distância entre Portel e Viana, em miradouro natural sobre os domínios da Baronia de Alvito, e que o tem como seu padroeiro.
Nessa data sai ele à rua, em procissão, com a sua rude carantonha talhada em pedra dura, arrastando aos pés, acorrentado, o mafarrico, figurado numa simiesca criatura.
Segundo a lenda, foi o próprio Santo que teimou em ficar naquele outeiro, pois de lá poderia avistar os seus irmãos, S. Pedro, S. Vicente e S. Bento, instalados em outras tantas ermidas, também elas altaneiras a vigiar a planura.
Em baixo, aos pés do monte, avista-se prazenteiro o Santuário de Nossa Senhora de Aires, o mais belo santuário mariano da planície, já chegado a Viana.
Que eu saiba, o santo também é venerado em Borba e Vila Viçosa, onde tem monumentais templos que lhe são dedicados, e teve também uma igreja a ele consagrada numa das saídas de Évora, junto à Porta de Avis, sobre o baluarte também com o seu nome – mas dessa desde o século XVII só resta a ruína que lá se vê, vítima que foi da artilharia de D. João de Áustria.
S. Bartolomeu é um santo a ter em especial consideração: segundo a hagiografia católica, é o único santo a conseguir acorrentar o demónio, tendo prometido que todos os dias 24 de Agosto voltaria a prendê-lo.
Se tem ou não mostrado eficácia bastante, isso é outra conversa. E sobre esse ponto a doutrina divide-se.
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