O fracasso político da estratégia de ocupação militar
Multiplicam-se as notícias sobre o descontrolo da situação no Iraque e no Afeganistão.
Surgiram agora mais ecos sangrentos da tragédia.
Ocupar foi fácil; como muito bem sabiam os que, para a plateia, ergueram papões em contrário, não havia oposição militar que não fosse de umas hordas de maltrapilhos de pé descalço.
Mas parece que, desde o princípio, o planeamento esqueceu o após-ocupação. E o certo é que era previsível isto: agora não é possível retirar, e ficar torna-se dia a dia mais insuportável.
Com efeito, consumada a ocupação do terreno restariam sempre as armas que exército algum pode eficazmente eliminar, as pessoas – e que podem traduzir-se num preço elevadíssimo.
E não admira que elas sejam cada vez mais utilizadas. Sobram razões para o desespero – e cada um sentirá sempre que morre na sua terra, e que os estranhos são os outros.
Ora pode tanto um homem em sua casa que mesmo depois de morto são precisos quatro para o tirarem.
Acresce que no Iraque como no Afeganistão os americanos para terem aliados aceitaram a companhia da pior bandidagem da zona: ladrões internacionais como Chalabi, carniceiros terroristas como Dostum, grandes produtores de droga como os financiadores da Aliança do Norte, tiranetes tribais como Barzani ou Talabani ...
Multiplicaram-se por todo o lado os pequenos exércitos locais, cada um ao serviço do seu chefe e com leis que são apenas as do saque e da rapina.
As consequências da guerra, e desse sistema de alianças, foram desastrosas: desde logo o desaparecimento desses Estados, enquanto estruturas organizadas, com um governo central e uma administração unitária, o que não parece fácil vir a restaurar – com americanos ou, já agora, sem eles.
Depois, e como resultado, o descontrolo total sobre o tráfico de armas, de pessoas, de droga ...
Os exércitos estrangeiros só podem garantir a segurança dos locais onde estão acantonados – e cada vez com mais dificuldade (e essa garantia não abrangia sequer o quartel-general da ONU ...).
O Afeganistão voltou em pouco mais de um ano de ocupação a ser o maior produtor de papoila de ópio do mundo, cultura esta que os talibans tinham proibido e irradicado. Isto quer dizer que em toda a Europa e EUA a indústria de produção de drogas duras voltou a contar com o seu mais importante fornecedor de matéria prima.
Neste panorama, o que menos interessa a todos os intervenientes são a democracia e os direitos humanos, coisa estranha à cultura local e, objectivamente, aos interesses dos ocupantes.
Estes estão perante dilemas dramáticos: se rompem com os aliados que têm ficam sem nenhuns. Não podem sair, e não têm qualquer solução que não seja aumentar os meios bélicos envolvidos.
A isto chegou a estratégia americana: um conjunto de guarnições de ocupação territorial, cercadas pelo ódio das populações e reféns políticos da pior escumalha existente à face da terra.
Os optimistas tendem a pensar que tudo tem uma solução. Nós os pessimistas sabemos que há realmente problemas sem solução.
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