Querido diário
Termina hoje o mês de Agosto. Como podes verificar, foi no já afastado dia 31 de Julho que dei início a este nosso diálogo. Desde então nem um só dia te faltei. Aqui deixei desabafos e recordações, sentenças e opinações, recados e confissões, palavras de amores e desamores.
Completado um mês, e apesar da confidencialidade do lugar, reencontrei dois ou três amigos, e parece-me ter feito outros dois ou três. Nada mau – é difícil fazer um amigo e muito mais difícil é conservá-lo.
Fora isso, este nosso sítio mantém-se quase tão reservado como um boletim paroquial. O contador de visitantes acusa muita gente, mas bem sabes que isso se deve aos meus incessantes clics. Cá na paróquia a regra é fazer de conta que nem existimos; e parece justo, se pensarmos como nos falta o brilho intelectual e os certificados de bom comportamento que aos outros sobejam. Pelos arredores, pátria fora, a nossa inexistência é dado assente.
Tal recato tem as suas vantagens; repara que mesmo a minha passageira exaltação contra Pedro Mexia não chegou ao conhecimento do visado; é bom que assim seja, senão ainda ele iria fazer queixa ao pai e eu teria que enfrentar mais um embaraço (o pai é pessoa de minha especial estimação).
Inexplicavelmente, quem se interessou por nós foi uma senhora de um quotidiano da capital, paradigma do jornalismo de referência. E vai daí inseriu lá no “Público” um artigo de divulgação ao nosso modesto cantinho na rede, o qual provocou um súbito afluxo de turistas (assim como o Pulo do Lobo quando Cavaco se lembrou de falar nele). Já passou, mas não quero deixar de agradecer a atenção da senhora (juro que não conheço, faz favor de não insinuar nada. Publicidade de borla aos amigos era no “Acontece”, e isso acabou).
Cumprido um mês de navegação, suspeito que andámos à deriva. Mas que foi calma e bonançosa, sem incidentes nem tempestades de maior, lá isso foi. Falta um rumo, um destino certo; pois é, mas isto nasceu precisamente assim. Para falar de coisas sem interesse nenhum, e entreter o exílio.
Todavia, e sem embargo, aqui só para nós, eu tinha uma íntima esperança de reunir confraria mais alargada; e rói-me alguma desilusão com a falta dos que ainda não encontrei – ou por este mar não navegam ou ainda não deram sinais de vida.
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