domingo, setembro 14, 2003

Casa ou não casa?

Por falar aqui há dias em Régio, lembrei-me de uma petit histoire que em tempos me contaram a mim (Couto Viana? Amândio César? Não me recordo).
José Régio, quando os afazeres lho permitiam, entre Portalegre e Vila do Conde, passava por vezes pelo Chiado, onde convivia com as tertúlias literárias da época, reunidas ali pela Brasileira, pela Sá da Costa, pela Bertrand.
E outro que de vez em quando aparecia, vindo lá dos confins do Minho, era Tomaz de Figueiredo, o olvidado autor de “A Toca do Lobo” e tantas outras páginas da mais robusta e vernácula prosa que a literatura portuguesa do século XX produziu.
Era Tomaz de Figueiredo amigo de José Régio. Todavia, com as suas permanentes preocupações de casticismo e pureza linguística, embirrava com o título da obra em que Régio consumiu largos anos da sua vida, “A Velha Casa”.
A construção gramatical bulia com a sua sensibilidade hostil a estrangeirismos.
Vai daí, e prolongando-se a publicação dos vários volumes de “A Velha Casa”, espaçados de anos, não resistia o rabujento Tomaz a um trocadilho implicativo. Sempre que encontrava o poeta do “Cântico Negro” disparava a mesma pergunta: “então oh Zé, a velha casa ou não casa?”