O "Futuro Presente"
Recebi hoje um novo número da revista “Futuro Presente”.
Como sempre, abri o envelope com a emoção de quem recebe notícias da família - distante apenas no espaço, sempre presente nos afectos e nas memórias.
Acompanhei a revista desde o seu início, há mais de vinte anos, no escritório de Ernesto Moura Coutinho, na Rua de São Nicolau, perto da Boa Hora e da Rua Nova do Almada.
Vivi com entusiasmo, nessa fase dos primórdios, a aventura do Jaime Nogueira Pinto, obreiro dessa que foi, e continua a ser, a única revista de ideias produzida pela nossa “droite buissonière”.
Depois os imperativos do destino foram-me afastando; sem que nunca tenha deixado de acompanhar, tanto quanto me foi possível, o que se ia fazendo. E entendo deveras que estou em dívida, sobretudo com o Jaime, mas também com todos os que têm feito com que a revista continue a aparecer, e com as exigências de qualidade que a marcaram desde o princípio (para com o Jaime tenho aliás outra dívida de gratidão, essa mais pessoal – mas que de igual modo não esqueço).
Neste número, já o 53-54, destaca-se a colaboração de José Luís Andrade, continuando os seus estudos sobre a Guerra Civil de Espanha (a paixão pelo tema, e pela figura de José António Primo de Rivera, apanhou-a por contágio do José Miguel Júdice, há exactamente trinta anos), de Miguel Freitas da Costa, incomparável de cultura, estilo e elegância, quer fale de cinema, de história ou de literatura, de Rodrigo Emílio, dissertando sobre Jacques Laurent, Roger Nimier e toda a geração de hussardos que desde a sua juventude (do Rodrigo) claramente constituem gente da sua mais próxima família espiritual, de Roberto de Moraes, sobre o olvidado Mouzinho, de Bernardo Calheiros (que faz o Bernardo em Budapeste?), de Francisco Ribeiro Soares, de Marguerite A. Peeters ... além do senhor Director, Jaime Nogueira Pinto, perplexo nas suas “Grandes Dúvidas”.
Como acontece por vezes quando temos notícias da família, ficam também algumas lágrimas: pelas palavras sentidas do Roberto de Moraes, que com ele partilhava antiga amizade e o entusiasmo pelos temas militares, pela história, pela Prússia, por Jünger (creio que o Roberto foi o único português a realizar e publicar uma entrevista com Jünger, feita na sua célebre casa da Floresta Negra) fiquei a saber da morte de Armando Costa e Silva.
“Um a um, um atrás de outro, vão-se sumindo os Hussardos”... Não mais noites de discussão e cerveja, até ao fechar da Trindade ....
Armando Costa e Silva, diz o Roberto, tinha acabado de traduzir a obra de Ernst Jünger “Der Kampf als Inneres Erlebnis” (A Guerra como Experiência Interior”), quando a morte o encontrou. Espero ao menos que esse trabalho não seja em vão, e que em breve nos surja o fruto, em edição que faça justiça ao autor e ao tradutor.
Para os interessados na revista fica o endereço postal: “Futuro Presente – Associação Cultural, Rua do Corpo Santo, n.º 16, 3º, 1200-130 Lisboa” (não têm um miserável endereço electrónico que nos permita contactar pelos novos meios, o Jaime é um velho reaccionário desconfiado e demora muito a aceitar estas modernices).
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home