Manuel Bandeira
Sempre achei inspirada e saborosa a designação de Manuel Bandeira como “o São João Baptista do modernismo brasileiro”. Na verdade, anuncia o que há-de vir, sem o ser ainda; tão próximo no tempo de Olavo Bilac, que até ao fim apura a forma e esculpe a frase, elevando à perfeição o parnasianismo que em tempos desposara, Bandeira opta por se libertar dos espartilhos das formas e parte à descoberta de novos ritmos, novos sons e novas cores.
Deixou-nos muito para agradecer, este Bandeira bandeirante; a poesia que o seguiu, como um estandarte; e o seu afecto, que nunca se afastou das origens lusitanas.
Portugal, meu avôzinho
Como foi que temperaste,
Portugal, meu avôzinho,
Esse gosto misturado
De saudade e de carinho?
Esse gosto misturado
De pele branca e trigueira
- Gosto de África e de Europa,
Que é o da gente brasileira?
Gosto de samba e de fado,
Portugal, meu avôzinho,
Ai Portugal que ensinaste
Ao Brasil o teu carinho!
Tu de um lado, e do outro lado
Nós... No meio o mar profundo...
Mas, por mais fundo que seja,
Somos os dois de um só mundo
Grande mundo de ternura,
Feito de três continentes
Ai, mundo de Portugal,
Gente mãe de tantas gentes!
Ai Portugal de Camões,
Do bom trigo e do bom vinho
Que nos deste, ai avôzinho
Esse gosto misturado,
Que é saudade e que é carinho
Manuel Bandeira
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