Ramalho em Évora
“Évora ainda é para mim a mais simpática das terras portuguesas, mas tanto a estragam de dia para dia que nunca venho cá que não encontre mais alguma coisa de novo destruída e aniquilada. Compreendo que em poucos anos (se eu chegasse a vivê-los) não poderia cá voltar para não morrer de saudade. Quantas faltas já que me dão sincera vontade de chorar. Os lindos conventos das freiras; a bela sala dos actos da antiga Universidade; os antigos paços do concelho dos quais só agora encontro o entulho no chão! Que calamidade! Que maldição de Deus caiu sobre esta terra! Da velha pintura tão gloriosa, valendo incalculáveis milhões, pouquíssimo ou nada existirá daqui a quarenta anos. Os quadros que desta vez examinarei de perto e detidamente, estão-se a desfazer carcomidos pelo caruncho, e ninguém pensa em os amparar gastando alguns mil réis com eles. É de cortar o coração”.
(Ramalho Ortigão, em carta a sua mulher, datada de 24 de Maio de 1907, em Évora)
Não admira que ande há tanto tempo o Joaquim Palminha da Silva a inventariar “Évora desaparecida”, nas colunas do “Diário do Sul”...
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