sexta-feira, novembro 21, 2003

0 Alentejo na poesia de Miguel Torga

MIGUEL TORGA, acima de tudo poeta da terra, foi uma das vozes que melhor sentiu e cantou o encanto da planura alentejana.
Do seu "Diário", ficam aqui dois pequenos poemas do grande escritor transmontano.

"INSÓNIA ALENTEJANA"

Pátria pequena, deixa-me dormir,
Um momento que seja,
No teu leito maior, térrea planura
Onde cabe o meu corpo e o meu tormento.
Nesta larga brancura
De restolhos, de cal e solidão,
E ao lado do sereno sofrimento
Dum sobreiro a sangrar,
Pode, talvez, um pobre coração
Bater e ao mesmo tempo descansar...

* * *
Terra parida,
Num parto repousado,
Por não sei que matrona natureza
De ventre desmedido,
Olho, pasmado,
A tua imensidade.
Um corpo nu, em lume ou regelado,
Que tem o rosto da serenidade.