quarta-feira, novembro 19, 2003

Intervenção Nacionalista

Em Junho de 1980, através de um comunicado enviado aos jornais, deu a conhecer a sua existência uma nova organização política, a “Intervenção Nacionalista”.
A comissão organizadora então designada era constituída por Armando Costa e Silva, Goulart Nogueira, Rodrigo Emílio e Walter Ventura, e estava encarregada de “promover os trabalhos necessários para estruturar e constituir o Movimento”.
Como coordenadores dos diversos departamentos ficaram nomeados Abel Tavares de Almeida, António José de Brito, António Paulo Ruckert Moreira e Caetano de Mello Beirão.
No seu manifesto a "Intervenção" declarava com ênfase “rejeitar qualquer fórmula que, ao sabor do falso realismo, se traduza em comprometer os princípios e em sacrificar os objectivos últimos, na mira de sucessos tácticos necessariamente precários ou de resultados inevitavelmente ilusórios, como é o caso da chamada “Frente Nacional”.
Com clareza ficava assim à vista o que tinha sido o detonador próximo desta intervenção: a “Frente Nacional”, tentativa também ela efémera de organizar o espaço à direita do regime e que tinha sido posta em marcha no ano anterior (houve eleições parlamentares em Dezembro de 1979), com orientações que chocaram o sector doutrinariamente mais intransigente do nacionalismo português.
Nota-se aliás a semelhança da situação com a existente em 1974 com o Movimento Federalista Português, em que essencialmente a mesma gente que fundou em 1980 a “Intervenção Nacionalista” tinha então criado o “Movimento de Acção Portuguesa” – também em nome do combate ao confusionismo ideológico e à cedência doutrinária em que seguiam antigos companheiros de percurso.
Do que foi este debate não vou fazer aqui o relato – assinalando apenas que Manuel Maria Múrias empenhou-se particularmente em apoiar o projecto da Frente Nacional, mobilizando para isso o semanário “A Rua”, enquanto outros sectores, como os jovens do Movimento Nacionalista, então dirigido por Vítor Luís, Nuno Rogeiro e Luís Andrade, rejeitavam essa via que reputavam de eleitoralista e oportunista.
A “Intervenção Nacionalista” apresentou-se ainda ao país em conferência de imprensa no dia 10 de Julho de 1980, promovida pelo Movimento Nacionalista mas que acabou por ser conjunta, reafirmando aí as suas teses.
O movimento viria a ter vida curta, não chegando a abrir sede ao público. Como se verifica dos seus folhetos de divulgação indicava para qualquer contacto a Rua Costa Pinto n.º 42 em Paço d’Arcos, que era a residência do saudoso Caetano Beirão (meu querido e inolvidável descobridor de tartéssios, infatigável cata-cacos da arqueologia do sul).
Viria também a utilizar por cedência de favor um andar na Rua António Enes, perto da maternidade Alfredo da Costa.
Cito um trecho do boletim da Intervenção:
“Um país que tudo perdeu não pode ter uma política externa conservadora, pronta em favorecer a estabilização internacional, apressada em submeter-se às situações criadas e em ceder aos poderes de facto.
Não nos interessa a manutenção do mapa, mas sim que ele seja recomposto. Não nos interessa o fortalecimento dos poderes tais como estão, mas sim que se desentendam sobre os despojos.
Da agitação e da mudança, Portugal pode obter algo ou não. Se as coisas se alterarem, poderá surgir alguma via de regresso ou não haver. Existe uma possibilidade positiva. Mas da acalmia e da aceitação resignada é que nada temos a esperar.
A realidade e o facto são dados. Existem diversas maneiras de os encarar, de agir sobre eles e de mover-se entre eles.
Realismo é, às vezes, um nome falsamente invocado para o acto de quem é curto de vista; outras vezes, redução a um modo cómodo; outras, um alibi”.