quinta-feira, novembro 20, 2003

Movimento Popular Português

Continuando aqui generosamente empenhado em fazer luz sobre os acontecimentos de 1974 que têm vindo a ser referidos de forma notoriamente parcial no blogue “Aliança Nacional”, venho hoje aditar o que a fls. 31 e 32 do “relatório do 28 de Setembro de 1974” ficou escrito pelos desconhecidos membros da “comissão ad hoc encarregada de investigar os acontecimentos do 28 de Setembro”.
Com a autoridade que resulta da sua indiscutível fidelidade ao processo revolucionário em curso, e com conhecimento profundo dos factos, escreveram os dedicados militares de Abril, explicando honradamente que o faziam “após termos procedido à análise de número considerável de documentos e termos apreciado as declarações de detidos e outras pessoas chamadas a depor”, as seguintes linhas sobre os delitos imputáveis a alguns antros de delinquência a que o citado blogue lamentavelmente tem procurado dourar a imagem:

“12. Movimento Popular Português (MPP)
A ideia da constituição de uma frente unida de forças de direita que pudesse "dar combate nas eleições" às forças de esquerda era uma das linhas mestras da actuação deste Movimento Popular Português. Nesta base, pretendia que fosse dada existência a uma Frente Democrática Nacional (FDN), que viesse substituir as iniciativas já tentadas de uma Frente Democrática Unida (FDU) e de uma Frente Social Democrata (FSD), a qual englobaria todos os partidos das direitas.
Surgido em Maio de 1974, o MPP envia, no princípio de Julho, uma carta ao Primeiro-Ministro Palma Carlos em que, agradecendo uma audiência que por este lhe tinha sido concedida, adianta os seus “propósitos inequívocos de contribuir com a sua actividade para compenetrar a grande massa silenciosa dos portugueses das suas enormes responsabilidades nesta hora em que é mister para salvação da nossa Pátria no seu todo pluricontinental a criação de uma grande frente unida para combater o avanço das ideias marxistas e para simultaneamente apoiar o Chefe do Estado e o seu Primeiro-Ministro para que possam levar a cabo o programa que nos anunciaram logo após o golpe de estado de 25 de Abril."
Da comissão organizadora do MPP fizeram parte o Eng. Adelino Felgueiras Barreto, o Eng. Agnelo Galamba de Oliveira e o Dr. Manuel Braancamp Sobral, presentes na audiência referida.
Outras das orientações que norteavam a actuação do MPP eram, respectivamente, o anti-marxismo (confundido e identificado com anticomunismo) e o integralismo da Pátria. Estas linhas ressaltam claramente de uma passagem da seguinte carta enviada por um dos seus aderentes: “. . . A ideia inicial consistiu em enquadrar todas as forças da direita e centro-direita, num movimento amplo que não se limitava à propaganda de ideias muito específicas, mas que se lançasse numa acção permanente de combate, como meio para atingir a maioria das várias forças da direita e centro com base em dois princípios fundamentais: o anticomunismo e a defesa da Pátria do Minho a Timor"...
O anti-marxismo foi largamente demonstrado em cartazes extremamente reaccionários que o MPP mandou imprimir e afixar, tarefa para a qual se serviu, no Norte do País, do Partido Nacionalista Português.
A difusão das suas ideias contou ainda com a utilização do Círculo de Estudos Sociais Vector e também da revista "Resistência", na direcção da qual estavam indivíduos intimamente relacionados com o MPP, tais como o Dr. António da Cruz Rodrigues e José Luís Pechirra. Este último, aliás, igualmente esteve na origem de um opúsculo largamente distribuído pelo Pais e que se intitulava "PCP um Partido Fascista", subscrito pelo pseudónimo José V. Claro.
Tal como a revista "Resistência", o MPP tinha como principais centros de implantação os meios católicos do interior e norte do País. Nos seus planos de acção se incluía ainda uma campanha nas aldeias a “desmascarar” os cursos de alfabetização.
O MPP colaborou, finalmente, , com a manifestação da "Maioria Silenciosa".


P. S. – Fartei-me de rir com aquela descoberta sobre o Dr. Pechirra! Andou meio país a perguntar-se quem era o “José V. Claro”, e zás!, os nossos militares revolucionários descobriram logo que quem via claro era o Pechirra. Ah valentes militares sem sono!