De novo para Castelo de Vide
Na minha deambulação constante pelo Alentejo por via dos seus poetas, regresso a Castelo de Vide, à Quinta da Palmeiras, a Francisco Bugalho. Agora um poema do tempo quente, no aconchego doméstico que o frio Inverno impõe.
Romance Policial
Acabei o romance policial,
E sinto a amargura indefinível
Daquela personagem principal.
(Lá fora há silêncio na modorra
Que o sol lança sobre as coisas).
Pobre mulher loira que matou por amor!
Afinal, isto é banal;
Mas hoje, não sei porquê,
Sinto bem fundo o drama
Daquela personagem principal.
(Zumbe sobre a minha mesa uma mosca cansada...
Lá fora anda o calor do sol; não há mais nada).
Só eu estou cheio de sonho
Da mulher loira que matou por amor...
E, não sei bem porquê, também componho
Um drama em que entro, e que é desolador.
Sinto-me simplesmente comovido
Como uma colegial,
Com esta história simples, sem sentido,
E superficial.
Há dias assim,
E eu bem estou vendo como é falso
O caso do romance policial.
Mas...
Queria poder salvar
Aquela mulher dócil e franzina
Que matou por amor,
E cuja morte
Fez surgir esta dor
Que me domina.
É enternecedor
O fim do tal romance policial!!
E é de mau gosto, frágil e banal!
(Lá fora, que calor!...)
FRANCISCO BUGALHO
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