A guerra civil nas estradas
Trinta mil mortos! Trinta mil mortos!
Arrepia pensar no significado concreto da hecatombe. Em dez anos, segundo os números oficiais, morreram trinta mil pessoas em Portugal em consequência de acidentes rodoviários.
Não imagino quantos serão os feridos, os estropiados, os enlutados, os que ficaram para sempre marcados com os sinais da tragédia. É de todo impossível calcular os custos sociais e humanos de um cataclismo desta dimensão, que todos os dias se prolonga em novas réplicas. Para os que gostam de avaliar os custos económicos também a tarefa me parece desmedida.
É um novo terramoto de 1755, uma nova guerra civil, a destruir todos os dias mais uns tantos lares portugueses.
Não se compreende como é possível manter a indiferença ou a distracção perante o fenómeno. Mas persistem. E nem se vislumbram motivos de esperança. A cada inquérito aos nossos condutores o resultado surge invariável, obedecendo a um padrão coerente: todos acham que a condução que se faz em Portugal é temerária e imprudente, mas a dos outros – a do próprio interrogado é exemplarmente cuidadosa.
Por mim, não tenho receita rápida. Mas sinto que tudo o que seja feito para mobilizar a comunidade quanto a este problema será sempre pouco.
Apoio inteiramente, e sempre, seja quem for que tenha o mérito de partir para esse combate. Como a ACAM.
Embora a meu ver seja perigoso colocar o acento tónico na responsabilização do Estado pela tragédia rodoviária - isso cai que nem ginjas na tendência sempre presente para a desresponsabilização individual. Perante o Estado devemos ser exigentes - sim senhor; mas que isso nunca sirva para distrair as atenções da responsabilidade pessoal e intransferível que a cada cidadão, sobretudo enquanto condutor, cabe na génese e na solução do problema.
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