Cortinas de fumo
Os dois escritos anteriores foram motivados, muito seriamente motivados, pelo que aos meus olhos se apresenta como um verdadeiro "golpe de estado constitucional", que estou convencido terá o seu momento culminante na próxima revisão constitucional (já existe, sem que a isso tenha sido dado qualquer destaque, uma comissão parlamentar a preparar a dita). Entretanto, e no que se apresenta mais urgente para os promotores do projecto em marcha, estão desde já sobre a mesa as propostas legislativas que se afiguram viáveis mesmo sem alteração constitucional (daí a minha chamada de atenção para o anteprojecto do PS sobre o processo penal).
Quem conhece o pensamento comum entre a casta política comprende perfeitamente o que estou a tentar dizer. Não são de há um ano as ideias que agora vão ser lançadas no papel - há muito que elas eram consensuais e eram habitualmente murmuradas em off. Só que nunca parecia oportuno avançar, os custos e riscos políticos afiguravam-se elevados, e tudo ia sendo adiado.
O choque provocado pelo caso da Casa Pia e pelo caso de Felgueiras (sim, que este não teve menor impacto entre a casta dominante do que o primeiro) acabaram com os últimos pruridos; o estado de espírito entre a classe política é de avançar, agora ou nunca.
O povinho será o último a perceber, quando a coisa estiver consumada; entretanto os usuais comentadeiros continuarão a discorrer sobre o que não interessa, para distrair do que efectivamente importa.
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