sexta-feira, janeiro 30, 2004

Cortinas de fumo

Os dois escritos anteriores foram motivados, muito seriamente motivados, pelo que aos meus olhos se apresenta como um verdadeiro "golpe de estado constitucional", que estou convencido terá o seu momento culminante na próxima revisão constitucional (já existe, sem que a isso tenha sido dado qualquer destaque, uma comissão parlamentar a preparar a dita). Entretanto, e no que se apresenta mais urgente para os promotores do projecto em marcha, estão desde já sobre a mesa as propostas legislativas que se afiguram viáveis mesmo sem alteração constitucional (daí a minha chamada de atenção para o anteprojecto do PS sobre o processo penal).
Quem conhece o pensamento comum entre a casta política comprende perfeitamente o que estou a tentar dizer. Não são de há um ano as ideias que agora vão ser lançadas no papel - há muito que elas eram consensuais e eram habitualmente murmuradas em off. Só que nunca parecia oportuno avançar, os custos e riscos políticos afiguravam-se elevados, e tudo ia sendo adiado.
O choque provocado pelo caso da Casa Pia e pelo caso de Felgueiras (sim, que este não teve menor impacto entre a casta dominante do que o primeiro) acabaram com os últimos pruridos; o estado de espírito entre a classe política é de avançar, agora ou nunca.
O povinho será o último a perceber, quando a coisa estiver consumada; entretanto os usuais comentadeiros continuarão a discorrer sobre o que não interessa, para distrair do que efectivamente importa.