O Rui Povinho
O Rui é português. Nasceu e vive em Portugal. Sempre viveu em Portugal. Portugueses são todos os seus. Fala e escreve em português. Sempre falou e escreveu em português. Vibra e sofre com os problemas dos portugueses. Aliás, é um apaixonado pela coisa pública: não passa um dia sem que recorde a inépcia da governação que temos, o desastre das nossas finanças, o desconchavo da nossa economia, o miserabilismo da nossa cultura, o baixo nível das nossas élites, a decadência irreversível da nossa sociedade, o inevitável “finis patriae”. Zanga-se com a Pátria, renega esta choldra, resmunga e pragueja, despreza a gentinha inculta e mesquinha que povoa o rectângulo, descrê de qualquer mirífica regeneração. Proclama solene que desconhece o que seja identidade nacional. Diz que não há perigo espanhol – porque eles não querem isto, nem nós merecemos tanto. Aponta com admiração e êxtase para o progresso americano, a democracia inglesa, os filósofos austríacos, os êxitos espanhóis, o milagre irlandês, o whisky escocês.
Palavras para quê? O Rui é o retrato castiço do português típico.
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