Congresso do Alentejo
Decorre este fim de semana em Montemor-o-Novo o 13º congresso do Alentejo, designado como Alentejo XXI.
Propõe-se “debater os desafios que a globalização lança ao desenvolvimento regional”.
Receio bem que sirva apenas para a classe política local, periférica, dependente e inteiramente submissa, fazer-se lembrada e fingir que tem ideias e projectos – sem ter mais do que discursos, e pobrezinhos.
A crua realidade é esta: o Alentejo representa mais do que um terço do país, e tem como população residente menos de cinco por cento da população. Tem neste momento direito a nove deputados, num total de duzentos e cinquenta.
Em consequência, não pesa nada segundo os critérios de decisão política e económica que regem este sistema. E em resultado lógico disso o panorama não tem cessado de agravar-se.
Actualmente o problema é tão grave que já é ilusório dizer como falam os responsáveis do congresso que é preciso criar postos de trabalho para inverter o processo de desertificação. Na verdade quem queira concretizar qualquer empreendimento que necessite umas dezenas de trabalhadores não poderá encontrá-los aqui: terá que os trazer de fora. Há numerosos concelhos alentejanos que excedem todos os indicadores imagináveis em matéria de envelhecimento. Os locais mais dinâmicos são os lares de terceira idade – e as câmaras municipais, que não são muito diferentes deles.
Segundo os esquemas de decisão vigentes, dada a ausência de qualquer mercado eleitoral ou outro, o destino do Alentejo parece estar fatalmente traçado: um enorme parque de repouso, para lisboetas em pausa de fim de semana, para caçadores, pescadores, turistas, gastrónomos e outras aves de arribação.
Os grandes projectos realizados nos últimos anos no Alentejo foram duas auto-estradas que o atravessam de Norte a Sul e de Ocidente a Oriente – uma para chegar depressa ao Algarve e outra para chegar depressa a Espanha – e com poucos acessos no percurso para que os indígenas não atrapalhem o tráfego.
Existe ainda o gigantesco empreendimento de Alqueva, que ninguém sabe para que serve. E anuncia-se o traçar de uma linha de comboio de alta velocidade, destinada a permitir uma rápida circulação de iberocratas entre Lisboa e Madrid.
Tudo visto, desde que conheço orçamentos gerais do Estado nunca a administração central destinou ao Alentejo mais do que uns quatro por cento dos seus investimentos anuais – que isto nem votos rende. Frequentemente são anunciados na televisão realizações da ordem dos quatrocentos milhões de contos, alternadamente na área da Grande Lisboa e na área do Grande Porto, zonas onde tudo se decide e onde continua a desenhar-se a megalópolis do Portugal do futuro. Parece um jogo de ping-pong: expo para mim, metro para ti, uma ponte cá, outra ponte lá...
No meio, por entre o ruído das centenas de milhões de contos que voam para onde estão os que eleitoralmente contam, anunciam-se de vez em quando umas visitas ao Alentejo de uns senhores ministros para apresentar orgulhosos umas obras de cem mil contos – a requalificação urbana aqui, a nova lixeira acolá ...
Inverter o abandono deste terço do país? Não será certamente com esta lógica de funcionamento do sistema instalado a nível nacional e local. Nunca esquecerei o choque e o desgosto de ver largos sectores da ridícula classe política regional a defender quando da polémica sobre a regionalização uma partilha da própria região Alentejo – para criar regiõezinhas onde fossem eles os reizinhos, mesmo que estas representassem apenas dois por cento dos portugueses e dividissem irremediavelmente o que apesar de tudo ainda constitui uma magnífica realidade cultural, personalizada, única e distinta.
Os sonhos deles resumiam-se aos empregos!
O Alentejo só terá futuro quando no Alentejo imperar uma visão de sólido e são regionalismo, e no País se impuser uma visão nacional nas orientações políticas.
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