A crise
A blogosfera está em crise. A afirmação, solene, tem feito caminho de há uns tempos para cá. No clube não há duas opiniões. Está em crise – dizem as vedetas, da mesa do canto. Está sim senhor, dizem os bonzos, com ar contristado. Está mesmo – confirmam os notáveis, de monco caído.
Um observador objectivo não vislumbra sinais de crise. Há mais blogues e bloguistas do que nunca. A afluência vai regularmente batendo recordes em número de visitantes. Proporcionalmente a comunidade blogueira portuguesa é das mais significativas do mundo. E o crescimento ainda não deu sinais de parar.
Então onde está a crise? Quantitativamente não há nada que a confirme. Qualitativamente, há de tudo – como seria de esperar da abundância.
Onde está então a crise? Os lamentosos comentadores não confessam. Mas eu sei onde lhes dói.
O problema é que isto mudou. Encheu-se de gente esquisita e estranha, desconhecidos, saídos sabe-se lá de onde, que nunca escreveriam no jornal nem as redacções sabem quem sejam, gentinha que nunca seria admitida a comentar no telejornal, povinho sem o sentido das conveniências nem o respeito pelas regras do clube.
Antes é que era bom. Todos se conheciam, podia falar-se à vontade, podia debater-se (– vamos agora a uma polémica!), podia conviver-se (acabou a polémica – vamos a uma bacalhauzada!). Era uma maravilha – todos tão unidinhos, todos tão diferentes todos tão iguais, tão bemcomportadinhos, tão direitinhas e tão esquerdinhas, todos geniais, vénias para mim salamaleques para ti, beijinhos à prima ...
A crise, afinal, está no sentimento de perda dos donos do clube.
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