terça-feira, fevereiro 24, 2004

Diminutivos

Nunca tive paciência para diminutivos. Irritam-me, sobretudo quando surgem manifestamente inadequados ou ridículos, considerando o objecto designado.
O uso e o abuso nunca me sugeriram sensibilidade ou ternura mas sim infantilismo e cretinização.
O maior exemplo é uma partida de futebol brasileiro: fico sempre abismado desde as apresentações, a olhar para aquela profusão de Nélinhos, Xiquinhos, Eduzinhos, Cácázinhos. Em cada onze há nove ou dez que se designam por qualquer coisa com terminação em inho. Olhando aqueles matulões todos fico sempre espantado perguntando-me se os alarves não se sentirão incomodados por ser tratados como se estivessem no jardim de infância.
Pior ainda é a política americana: parece que para estabelecer cumplicidade afectiva, familiaridade e identificação com as massas um político de carreira precisa de ser conhecido por Bill, Jimmy ou Ronnie. Até um notório brutamontes para ser candidato (e ganhou!) crismou-se de Arnie.
Enfim, isto deve ser próprio de povos adolescentes (pensava eu). Por cá, mesmo assim, a mania apresenta-se mais discreta, mais circunscrita a alguns círculos sociais, a umas tantas revistas de sociedade, menos espalhada e normalizada pelo conjunto da sociedade. Mas a ver vamos, que estamos ameaçados de uma enxurrada de Cinhas, Bibás, Pacholas, Kikis, e sei lá que mais, a correr atrás do Pedrinho e do Paulinho, que têm sido levados a sério em meios onde seria de esperar responsabilidade e bom senso.
E ocorreu-me isto por ter deparado com a publicidade a uma série de espectáculos de um conhecido fadista. O homem é a meu ver o único grande intérprete de fado da geração presente. O seu trabalho merece todo o aplauso e consideração. E quem diz isto gaba-se de ser especialmente exigente a este respeito, porque gosta muito de fado – embora receie seriamente que, tal como acontece como o cante alentejano, seja uma espécie em vias de extinção.
O que se estranha é que a identificar o rosto que nos surge em todos os cartazes esteja o nomezinho “Camané”. O homem tem nome, chama-se Carlos Manuel, e o apelido é Moutinho, uma vez que esse é o nome do pai. Mas continua a aparecer por aí com o chamativo de “Camané”. Que diabo, quando era criança e apareceu na Grande Noite do Fado ainda se admitia que fosse “Camané” (era de mau gosto, mas enfim, cada qual sabe do que gosta). Mas agora, um homem adulto, quarenta anos feitos, não sente vergonha de tão possidónia mariquice?