sexta-feira, fevereiro 13, 2004

“Filosofias”

Todas as “filosofias” são velhas como o homem. Ao que se diz, o primeiro filósofo foi o que discreteou sobre o trabalho, quando, estendido à sombra duma árvore, olhava para um amigo a trabalhar... Quanto a nós, acreditamos numa filosofia mais antiga, gerando-se por constante interinfluência entre o pensamento e a acção. Mas há duas atitudes filosóficas realmente velhas como a trisavó do homem, ou antigas como a maçã de Eva para Adão: não só mas também, diz uma delas; a outra é a filosofia do nem-nem. É esta a da prudência, a do meio termo, a do “não te comprometas”, a do “bem com Deus e com o Diabo”, a do “quem tem rabinho tem medo que lho cortem”, a do “espertinho”, a do “morrer na cama”, a do “vou dar uma volta ou vou dar-te uma volta”, a dos “demo-cristãos”. A outra é a do risco, a do extremo, a da luta, a do viver perigosamente, a da decidida escolha, a da coragem, a do ultrapassamento. A filosofia do nem-nem, incapaz de dar o salto mágico e sair fora do círculo, adiposa, cobarde, achou um subterfúgio e nomeou-se “tensão” ... A essa duvidosa “tensão” estéril, a essa estaticidade, opõe-se a fecunda dialéctica perpetuamente avançante e criadora.

Goulart Nogueira