A Paixão
Hoje, quarta-feira de cinzas, estreou em cerca de dois mil e quinhentos cinemas americanos o filme de Mel Gibson "The Passion of the Christ".
A polémica que o envolveu desde o início transformou o filme num acontecimento; e só o tempo poderá ajudar a esclarecer o que neste acontecimento existe de artístico, de comercial, de religioso, ou até de político.
Como em tantos assuntos, não tenho opinião formada. No aspecto artístico, porque evidentemente ainda não vi o filme - e portanto nem sequer posso dizer se gosto, quanto mais dissertar sobre méritos e deméritos de uma arte em que estou longe de ser entendido. No aspecto comercial, porque é muito cedo para saber se virá a acontecer o furacão que alguns anunciam, ou o fiasco que outros anunciaram. Do ponto de vista religioso, idem: só com o conhecimento do filme, e das suas repercussões, será possível fazer um juízo mais acertado. Finalmente, no plano político: tudo depende do que se vier a passar nos planos restantes, e não só nesses.
Poderá vir a ser um verdadeiro acontecimento, marcante da nossa época? Ou será um acontecimento mediático, habilmente montado, que num dia monopoliza as atenções do mundo e no outro dia se esquece sem deixar nada nos espíritos, porque lá dentro não há nada - como um balão que se desfaz e deixa ver que está vazio, uma espécie de Harry Potter a puxar para o dramático?
Estas as questões que me ocorrem, e que sinto curiosidade em ver satisfeitas. Para já, porém, não posso deixar de anotar que aquilo que tornou o filme um acontecimento ainda antes da estreia foi a atitude das patrulhas ideológicas que mesmo sem ele existir se encarniçaram contra ele. E este ponto pode ajudar a dissipar a suspeita de intrujice que sempre me assalta quando vejo gente da indústria das fitas a mexer em assuntos sérios.
Mas aguardarei sem precipitações.
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