Africanina
Reincidindo no delito poético, dou a público um poema de Rodrigo Emílio, poeta que oficialmente não existe (e mesmo a academia quando premeia vai a correr arrancar o edital e escondê-lo, não vá saber-se da coisa...)
PROTESTO INADIÁVEL
As catraias africanas,
que eu vi ainda há instantes,
porque razão já não trazem capulanas
e turbantes?...
Por que vestem camisola
e usam saias remendadas
e andam a pedir esmola
e habitam águas-furtadas,
as raparigas de Angola
que se dizem "retornadas”?...
(Oriundos doutra luz,
os seus corpos estuantes
reclamam panos crus;
querem ver-se como dantes:
-seminus
e semelhantes
a bambus
bamboleantes!)
Que vertigem geográfica
animou fardas perjuras
a deixarem toda a África
às escuras ... às escuras?!...
Cem mil moças em desfile,
como corças acossadas...
-Glória aos capitães d’Abril!
-Vivam as Forças Armadas!
... As moçoilas angolanas
da Rua dos Navegantes
já não trazem, como dantes, capulanas
e turbantes...
RODRIGO EMÍLIO
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home