sábado, março 27, 2004

Coincidências

Os frequentadores do Bairro Alto quando a zona entrou em súbita moda, e passou a ser o BA, lembram-se certamente da Guida Gorda, que barrava a entrada do "Frágil".
Pois a anafada criatura, com a idade, encontrou abono de família mais rendoso e menos trabalhoso do que ser porteira de discoteca: criou uma associação de nome "Abraço", que ao que se diz tem sido para ela verdadeiramente gratificante. A Guida Gorda transformou-se mesmo num dos porta-vozes mais destacados do social-chic políticamente correcto. E arranjou monte no Alentejo.
Fiel às consignas do milieu, surgiu agora a atirar-se ao Refúgio Aboim Ascensão e ao seu Director, Luís Villas-Boas. Segundo a volumosa megera, as regras de admissão de crianças definidas pela instituição representam "um crime público" que deveria levar o Estado a eliminar o Refúgio da lista de instituições "sérias e credíveis".
Claro que esta ofensiva não tem nada a haver com recentes declarações de Villas-Boas sobre a adopção de crianças por parelhas de homossexuais, e contra essa aberração - não senhor, nada a haver com tal assunto.
O motivo é outro, só outro: o regulamento da instituição. Com efeito, o Refúgio Aboim Ascensão, um dos principais centros de acolhimento de crianças em risco em Portugal, tem um regulamento próprio que tem em conta as suas capacidades: não é um estabelecimento para crianças deficientes e com doenças infecto-contagiosas; estas exigem cuidados especiais de que a casa não dispõe.
Trata-se de uma instituição dirigida apenas a crianças até aos seis anos, não portadoras de doenças infecciosas, e não portadoras de deficiências. "É para isso que estamos capacitados", explicou o Director.
E sempre foi assim. Todavia, a casa que até há pouco era apontada como um exemplo no campo da solidariedade e no apoio à infância passou a ser agora um alvo da indignação convergente e selectiva de todos os sectores habituados a ditar as regras em matéria de patrulhamento de ideias - as polícias da correcção política.
Nenhuma a relação entre uma coisa e outra. Pois claro. Nem pensar.