E as nossas eleições?
Olhando as estrangeiras, temos andado esquecidos das nossas eleições. E no entanto estas europeias são decisivas para os equilíbrios políticos internos. Repare-se que a coligação governamental se apresenta pela primeira vez como tal a umas eleições. Um desastre teria certamente consequências radicais - com tudo o que isso implica (provávelmente legislativas a curto prazo). Os socialistas apresentam-se divididos entre a esperança de capitalizar o habitual efeito do meio-mandado e o receio de vir a pagar estes dois anos de via sacra. Um descalabro seria o fim da equipa de Ferro. Um bom resultado dar-lhe-ia novo fôlego.
Nisto que fica dito está bem clara a importância dos resultados para a sobrevivência política do Governo, e de Portas, e de Barroso, e também de Ferro Rodrigues e dos seus.
Curiosamente, na sondagem divulgada há poucos dias estes protagonistas surgem numa situação que acabaria por satisfazer os dois: o PSD/CDS estava um pouco à frente, o PS um pouco atrás. Caso se confirmasse este cenário ambos os lados surgiriam na noite das eleições a proclamarem a sua satisfação. Uns diriam que atendendo ao desgaste da governação a circunstância de mesmo a meio do mandado ter sido possível ficar em primeiro e alcançar o número de lugares em vista representa uma vitória. E os outros diriam que perante a vaga de azares que se têm abatido sobre o PS ter conseguido ficar a um passo do primeiro e garantir também o número de lugares em causa já representa uma vitória. Ambos respirariam de alívio por terem conseguido evitar o pior, e seguiriam em frente.
E os demais intervenientes? O PCP entra sempre com o objectivo de não perder mais. E por fatalidade biológica perde sempre mais a cada novo acto eleitoral. Segundo a sondagem em questão assim continuará a suceder: perderá um deputado. E este será ganho pelo Bloco de Esquerda, que deste modo surgiria como o grande ganhador da noite eleitoral. Sublinho que esta perspectiva não se afasta daquilo que intuitivamente é sentido pelos observadores: o Bloco foi alargando o seu espaço, mordendo nas franjas mais jovens do eleitorado urbano da esquerda, que foge do PCP e está descontente com o PS, e por esse caminho será natural a sua consagração como o terceiro partido da esquerda.
Só assim não acontecerá se os próprios tratarem de dar tiros nos pés e cometerem tantos erros que acabem por comprometer esse objectivo, que têm ao alcance da mão - o que também não é impossível.
Finalmente, ainda tendo em conta a mesma sondagem, a Nova Democracia praticamente não aparece. Este dado é relevante: apesar do facto objectivo que é a coligação PSD/CDS, que representa o cenário aparentemente mais favorável, e apesar do empenho de Manuel Monteiro nestas eleições, que constituem verdadeira prova de vida para o partido, este não há meio de descolar. A confirmarem-se os resultados da sondagem, seria dado como o grande derrotado no rescaldo eleitoral.
E os outros? Não sei se os responsáveis da sondagem incluiram outros. Designadamente o PNR e o nóvel Movimento Pelo Doente. Como é evidente, qualquer dos dois, se estiverem presentes como anunciaram, terão nesta ocasião o verdadeiro teste para sua existência política. Conseguirão criar a surpresa? Para já, a sondagem realizada parece corresponder com bastante realismo ao que se pode esperar - sem surpresas. E se assim for tudo ficará mais ou menos na mesma - os combates políticos essenciais ficarão adiados para próxima oportunidade.
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