Em Évora
A pensar em Florbela, e n' "a minha cidade, como eu soturna e triste".
"Estou hoje num dos meus dias cinzentos, como diz o nosso escritor; dia em que tudo é pesado e baço como a cinza, dia em que tudo tem a cor uniforme e nevoenta dela, dessa cinza em que eu às vezes sinto afundar o meu destino. Estou triste e vagamente parva, hoje, e no entanto estou na capital do Alentejo; aos meus ouvidos chega o ruído dos automóveis, o barulho cadenciado das patas dos cavalos de luxo, o pregão forte e sensual que é toda a alma de mulher do povo, e por cima disto tudo, a espalhar vida, luz, harmonia, sinto o sol, um sol de fogo, o sol do meu Alentejo forte e sensual como um árabe de vinte anos! Pois tudo me irrita! Que direito tem o sol para se rir hoje tanto? Donde vem o brilho que Deus pôs, como um dom do céu, nos olhos das costureirinhas que passam? Donde vem a névoa de mágoa que eu trago sempre nos meus?!"
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