Espelho meu
E neste reflexo narcísico viro-me para um poema de Manuel Bandeira, que também se lastimava com ironia de nunca ter deixado de ser um provinciano. Calculo que não lhe faltasse a hostilidade do pessoal cosmopolita e civilizado lá da terra dele.
Auto-retrato
Provinciano que nunca soube
Escolher bem uma gravata;
Pernambucano a quem repugna
A faca do pernambucano;
Poeta ruim que na arte da prosa
Envelheceu na infância da arte,
E até mesmo escrevendo crónicas
Ficou cronista de província;
Arquitecto falhado, músico
Falhado (engoliu um dia
Um piano, mas o teclado
Ficou de fora); sem família,
Religião ou filosofia;
Mal tendo a inquietação de espírito
Que vem do sobrenatural,
E em matéria de profissão
Um tísico profissional.
Manuel Bandeira
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