quarta-feira, março 31, 2004

Jacarandás

Por ter falado em jacarandás, ofereceu-me o BOS outro poema de Rodrigo Emílio inspirado na visão das nuvens lilazes que adornam o céu da sua rua natal (o poeta era um beirão nascido em Lisboa).
Vou já postá-lo, antes que outrem se antecipe... eu cá pelos meus leitores sou assim - dou tudo!

Ó crua
luz vegetal
da minha rua
natal...

Contemplo os jacarandás,
que me olham com apêgo...
(Que negro
carrego
traz,
às costas, esse mancebo...!

A flor dos jacarandás
cobre-o de paz
e sossego...)

Tudo o que fui, de rapaz
sem ter cura nem conserto,
de boémio, ferrabrás
e estoira-vergas faceto:

tudo o que fui, de rapaz,
aqui jaz,
quando aqui chego...

No meio deste lilás,
o Sol dá comigo em cego.

Que sossego
tu me dás,
túnel de jacarandás...!

Que véu de paz
e sossego!...


Rodrigo Emílio
(Lisboa, aos 19 dias do
mês de Júlio de 1997).