Jorge Brum do Canto
O primeiro filme da semana luso-espanhola foi o “Chaimite”, de Jorge Brum do Canto. Passou na segunda-feira dia 12 de Maio de 1980, pelas 18 horas, no “Nimas”. A apresentação esteve a cargo de Luís de Pina, e esteve presente o próprio realizador. Apetecendo-me agora dizer mais sobre essa grande figura do nosso meio cinéfilo que foi o Luís Andrade de Pina, que veio entretanto a falecer ainda muito novo, vou no entanto, para não me dispersar, recordar um pouco do cineasta de “Chaimite”, concretamente alguns aspectos curiosos da sua vida.
Jorge Brum do Canto, o homem de Porto Santo, tinha uma personalidade um tanto original, alguns diriam excêntrica. Segundo os que o conheciam, teve toda a vida, e que se soubesse, dois amores a concorrer com o cinema: a gastronomia, ou mais exactamente a culinária, e a pesca.
Da primeira paixão deixou-nos um legado impressionante: o monumental “Livro de Pantagruel”, vastíssimo repositório de receitas, ainda hoje sem rival em língua portuguesa no que respeita ao tamanho – com mais de 35.000 receitas permite bem que cada um execute uma diferente para cada refeição sem correr o risco de a repetir no que lhe restar de vida. O “Livro de Pantagruel” foi a obra da vida da sua iniciadora, a mãe de Brum do Canto, Berta Rosa Limpo, e dela tomou ele esse entusiasmo, passando as sucessivas edições a aparecer como co-autoria.
Da sua paixão pela pesca desportiva (contam que trocava tudo por uma boa pescaria) também nos ficou pelo menos um legado que surpreenderá até mesmo muitos entusiastas da modalidade: são os achigãs. Esta espécie piscícola é americana de origem: mas aconteceu que Brum do Canto numa das suas surtidas piscatórias teve a ideia de trazer exemplares para Portugal, por se lhe afigurar que valia a pena tentar a sua introdução, pelo potencial que apresentavam para a pesca e para a gastronomia.
E aconteceu que os achigãs deram-se por cá como ... peixe na água! Espalharam-se rapidamente pelas nossas albufeiras, rios e barragens e aí estão a enriquecer a nossa fauna piscícola – para gáudio dos pescadores, e dos outros, os que só comem.
A acrescer a tais paixões, Brum do Canto foi ainda um homem do cinema durante toda a sua vida, e também nesse campo nos deixou obra que vale a nossa atenção.
Mas termino por hoje, sem chegar a falar de cinema, para não me acusarem de fazer textos excessivamente longos. Mas ainda falarei do “Chaimite”. E também devia falar de Luís de Pina, e da Cinemateca Portuguesa, de que ele foi o segundo director, e também do Dr. Félix Ribeiro, o ilustre pai-fundador da instituição e seu primeiro director – que era alentejano de Estremoz, para além de todas as restantes qualidades. Mas estou a ver que não me chegava o blogue.
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