Lembranças do tempo das fitas
Em Maio de 1980, com decisiva ajuda do pai deste rapaz, realizou-se em Lisboa uma Semana Luso-Espanhola de Cinema, organizada com entusiasmo por António Lopes Ribeiro.
Decorreu no Cinema Nimas, entre os dias 12 e 18 de Maio, em sete sessões consecutivas, todas às 18 horas. Foram exibidos quatro filmes portugueses: “Chaimite”, de Jorge Brum do Canto, “Fado”, de Perdigão Queiroga, “Frei Luís de Sousa”, de António Lopes Ribeiro, e "Camões”, de Leitão de Barros. E três filmes espanhóis, “Sin novedad en el Alcázar”, de Augusto Genina, “Raza” e “Franco, ese Hombre”, ambos de José Luís Saenz de Herédia.
A Semana anunciava-se como o lançamento do CIF, Centro Ibérico de Filmologia, uma velha ambição de António Lopes Ribeiro. A filmologia, explicava ele, “é uma disciplina de carácter científico que tem por objectivo próprio o estudo sistemático e exaustivo dos fenómenos estruturais e implicações extrínsecas do cinema, encarado este como “universo paralelo”, estrutural e formalmente autónomo” (a “galáxia Lumière”, no dizer do António).
“A finalidade primária da filmologia é a de incentivar didacticamente a cinefilia, despertar o sentido crítico, a sensibilidade ética e estética, alargar o conhecimento histórico do fenómeno cinematográfico em todas as suas determinantes e implicações”. Nem mais, nem menos.
A tal filmologia já tivera os seus tempos de glória, pelos idos de quarenta, e ALR orgulhava-se (ele era vaidoso ...) de ter sido eleito membro do Bureau Internacional de Filmologia já no I Congresso de Filmologia realizado na Sorbonne em 1949.
Porém, o nosso Centro Ibérico de Filmologia deve ter nascido um tanto malfadado, e a sorte foi-lhe madrasta. Nada mais realizou efectivamente do que esta primeira e única semana luso-espanhola de cinema. Nas reuniões com vista à constituição de uma pomposa comissão organizadora do CIF, nesse remoto mês de Maio, estiveram, convocados pelo vigor do António, os espanhóis Ana Mariscal, José Luís Saenz de Herédia e Ricardo Alba, e os portugueses Félix da Costa, Domingos Mascarenhas, Luís de Pina, Matos Cruz e Orlando Vitorino – além do próprio António Lopes Ribeiro e eventualmente mais alguém de que me tenha esquecido.
Mas nada mais saiu dali do que umas agradáveis sessões de tertúlia e cavaqueira (discutir os estatutos do centro, em linguagem oficial).
Como este vosso amigo esteve então presente nessas tardes no Nimas e acompanhou com interesse a tal semana tem ainda em arquivo umas recordações que não quer deixar de partilhar em próxima continuação deste postal.
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