O espelho da vergonha
Na minha ronda de blogues desembarquei no "Portugal Profundo". Estive a ler. Tenho que estar informado sobre o processo Casa Pia. Sinto repulsa, mas é assim: tem que se olhar de frente o que por todos os motivos nos leva a querer olhar para o lado.
Eu sei que todos estão fartos desta saga, que ninguém mais quer ouvir falar nesse assunto. E compreendo porquê: aquilo mete medo. Angustia. Qualquer um gostaria de fugir e não pensar no caso.
Se aquilo é tudo mentira? De facto é difícil acreditar que seja verdade. Mas então o que pensar deste mar de lama que há tanto tempo inundou as instituições, as polícias, a Justiça, as televisões, os jornais, a opinião pública, a vida nacional? Como pensar um país em que tão incomensurável embuste invade tudo e tudo domina - sem que um reflexo de sanidade o afaste?
E se aquilo é tudo verdade? Com efeito, é já difícil acreditar que seja tudo mentira. Mas então como encarar esta classe política, estes poderosos, esta gente que víamos todos os dias sob as luzes brilhantes da ribalta - e nos intervalos se entretinha às ocultas refocilando na abjecção?
É demasiado aterrador. Dói pensar nisto. É repugnante. Um nojo e um vómito. Não dá para ver sem um arrepio.
Por tudo isso seria confortável poder fingir que não é nada. Mas o lixo é demasiado para simplesmente ser varrido para debaixo do tapete.
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