Janelas de Estremoz
Sebastião da Gama, o poeta da Arrábida, viveu parte substancial da sua vida em Estremoz, e aqui escreveu grande parte da sua poesia. São conhecidos os seus versos deslumbrados sobre a sua casa do Largo do Espírito Santo, e o amor que a habitava (“da nossa janela o Alentejo é verde..."). Mas Sebastião também sentiu por vezes aquela sensação estranha que assalta quem vindo de fora se fixa a viver no Alentejo; há como que um silêncio austero, uma barreira surda, a gerar um sentimento de incomunicabilidade… há, por absurdo que pareça a expressão, uma claustrofobia alentejana.
Para amostra ficam aqui uns versos sobre as janelas fechadas de Estremoz.
Janelas de Estremoz
Janela fechada,
cortina corrida…
Nem flor a perfuma,
nem moça a enfeita.
- Ninguém se lhe assoma.
Janela tão triste,
nem ao Sol aberta…
Em toda a cidade
se repete a história
mil vezes; mil vezes,
se olhares a janela
ou desta ou daquela
casinha caiada,
a vês divorciada
do Sol e de tudo
que graça lhe dera.
Ó janelas mudas,
Pobres prisioneiras:
Que pessoas vivas,
Por que expiação,
Vivem na prisão
Em que vos meteram?
- sem sol que as aquente…
sem flor que as alegre…
Sebastião da Gama
1 Comments:
Lindo poema, triste, talvez. Os portugueses são grandes poetas. Sebastião da Gama é mais um dentre estes grandes poetas. Cá do Brasil, fico a admirar a poesia portuguesa. Parabéns por trazer-me Sebastião.
Estarei colocando um link de teu blog no meu almatua.blogspot.com. Com muito prazer.
Um abraço
AC Rangel
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