Meu rico Senhor da Pedra...
Tinha eu acabado de publicar o meu postal anterior quando uma amiga que reside em Miramar me telefonou a dar conta de uma situação a que assistiu e que a deixou muito intrigada. Passou-se que ela na noite passada saiu como habitualmente para passear o cão e como a noite estava agradável, estrelada e amena, alargou-se um pouco mais na caminhada, internando-se pelo areal da praia, gozando a brisa marítima que soprava em direcção às dunas onde plantaram há muito um clube de golfe. Foi então que avistou um grupo de pessoas, não sabia quantas, mas ainda assim um ajuntamento, que se entretinha em estranhas manobras à volta da capelinha do Senhor da Pedra, ali postada no esporão rochoso que todos conhecem. Pouco passava da meia-noite, e os indivíduos afadigavam-se à roda da capela, em movimentos que lembravam danças de índios, pese embora o formalismo das fatiotas, visível mesmo à distância. Assustada, até pelas estórias que se ouvem a tal respeito, a minha amiga recolheu rumo a casa. Poucos minutos após, já no remanso do lar, sentiu ruído no exterior e foi à janela ver o que se passava. Reconheceu então o mesmo grupo de sujeitos que havia avistado nas rochas do santuário, despedindo-se uns dos outros e entrando para as viaturas que tinham deixado estacionadas no amplo terreiro que ali fica. Para além do bom corte das vestimentas e do aspecto ministerial dos veículos, a minha amiga diz que só reparou no ar grave, entre o solene e o preocupado, que se notava na cara dos cavalheiros. Afirma ela que não reconheceu nenhum, a não ser um que ela jura a pés juntos que era o sr. Pinto da Costa, o qual conhece bem da televisão.
Mas o que mais deixara perplexa a minha informadora fora o que observara esta manhã, quando de novo saiu para passear o cachorro e movida pela curiosidade foi até às rochas onde se ergue o santuário, e circundou a capela. Explica ela que à roda ficou tudo sujo de penas de galinha preta, de restos de velas, de vestígios de sangue, numa profusão que não consegue explicar.
Já tranquilizei a minha amiga. Expliquei-lhe pacientemente que depois da operação policial contra o Major batateiro era de esperar o aumento das tendências místicas em certos núcleos de devotos.
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