Um cantar inédito de Rodrigo Emílio
Eis o que encontrei, e também desconhecia, do Rodrigo Emílio para um companheiro da Galiza.
RONDA NOITEIRA
À GAIA E GALANTE
GALÁXIA GALEGA
Noche y media, medio dia,
demando por minha dona
junto à orla, a orilla, da baía
de Baiona.
(Toda a macia bacia
da enseada, ondeada à tona,
dir-se-ia a litographia
d’algum Verão em Verona...)
Não dou eu com minha dona:
noutra zona há-de ela estar...
E digo adeus a Baiona,
que lá me fica a acenar
como, um dia, Barcelona,
quando houve de A deixar
como a um cadeirão de lona,
como a um berço d’embalar...
Por Galiza arriba, arribo,
rumo a Vigo, empós meu par...
E assim sigo, assim persigo
mia señor, sem cessar...
Nas ondas do mar de Vigo
- do mar de Vigo, esse mar... -
vagueio, vogo, derivo,
‘té comigo me encontrar.
Mas nem em Vigo lobrigo
minha dona, ou perto ou longe a consigo
deslindar...
Já agora deixo Vigo
para atrás.
y andar, andar...
Concitado o meu orago,
faço-me outra vez ao largo
- de bordão, vieira e vela.
(Tenho o meu bem à janela
- Sol que acendo, e nunca apago.
Seu vulto de Cinderela,
o seu vulto, em mim o trago:
vulto de dona-donzela,
com perfil de barco-à-vela,
ombros d’onda, olhar de lago).
...E, como um vago rei-mago,
vou dar, em cheio, com ela,
prosternada, em pleno adro
jacobeo de Santiago
- altar-mor de Compostela!
Ó nibelúngica Núvem,
Noiva do Sol
no azul do Éden:
és lumen,
és pólen,
és sémen!
Madona e pucela,
clave de Sol;
coroa de capela,
corola, trono, auréola
que a Lua constela,
que a Noite acastela...
Mulher-sentinela,
de jade e canela;
tesouro e baixela;
torre de controle:
- Além, nas mãos dela,
o nascer do Sol!
do Rodrigo Emílio para Federico Traspedra
(Baiona, em pleno equinócio de Março de 1991/ Casa de S. José, em Parada de Gonta,aos 26 de Outubro de 1995.)
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