A "agenda social"
Desde que a revolução socialista passou a fazer parte do museu da história, as energias daqueles que conscientemente têm como objectivo o desfazer das sociedades humanas organizadas segundo os modelos tradicionais que lhes conhecemos concentraram-se nas tarefas de desestruturação elencadas na chamada "agenda social". É uma tarefa em primeiro lugar metapolítica, inspirada nos teóricos que resolveram inverter as prioridades de Marx explicando que nas nossas sociedades frequentemente é a superestrutura a mandar, e daí o fracasso das tentativas de conquista e controle do poder por parte do comunismo de modelo clássico. Logo, depreendem eles, é preciso trabalhar na superestrutura, dominar o terreno da cultura, dos valores, das concepções sociais, das representações ideológicas sobre a vida, a família, as instituições, etc.
O velho Marx com a sua insistência na infraestrutura, concentrando a sua análise nas relações sociais e na luta de classes, não teria fornecido uma receita suficientemente eficaz para a conquista e manutenção do poder. De facto, segundo eses teóricos, mantendo-se a superestrutura todos os avanços conseguidos na luta política estarão sempre em perigo, porque a superestrutura resistirá e voltará a segregar as mesmas formas sociais que se pretendem abolidas.
Daqui o afluir regular para o campo da luta política dos temas relacionados com a tal "agenda social", que não são mais do que a expressão desse trabalho de destruição lenta dos alicerces das sociedades em que se desenvolve o confronto.
Realço a este propósito o salto recente para o centro da actualidade em França das questões relativas ao casamento de homossexuais e ao direito à adopção por parte de tais parelhas, e ao mesmo tempo o surgir de nova campanha em Espanha mais ou menos nos mesmos termos quanto à ampliação das práticas abortivas. Evidentemente que os "temas fracturantes" surgiram de novo na ofensiva em aproveitamento da maré das vitórias eleitorais socialistas; mas é significativo como eles estão aí, em confirmação de que não há acasos nestas coisas de agenda política.
Entretanto, em Portugal, aproveitou-se a revisão constitucional (art. 13º) para se abrir a porta a futuras batalhas sobre a "não discriminação em razão da orientação sexual" (leia-se: da desorientação sexual).
Quem não vir a relação estreita entre os tais temas, aceitação generalizada de abortos, eugenismos, eutanásia, direitos dos homossexuais, fim da tutela jurídica da família tradicional, legalização de estupefacientes e psicotrópicos, não pode entender o sentido convergente que tudo isto tem.
Aos outros, aos que percebem, eu aconselharia que fizessem o mesmo que os tais teóricos da subversão recomendam: organizem-se, cavem trincheiras, reforcem defesas, institucionalizem a luta positiva pelos valores em que acreditam, não cedam nunca à ilusão de uma vitória momentânea. Todos os núcleos de resistência são essenciais aos combates que hão-de vir.
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