sábado, maio 22, 2004

As eleições europeias

Estive a ler no "Expresso" o que lá se escreve sobre as eleições europeias que se aproximam. A vinte dias de distância, a redacção do "Expresso" está com a mesma sensação que eu. O país em geral ainda nem se deu conta da existência de tais eleições, ou faz questão de abstrair do facto. Salvo algum factor de todo inesperado,tudo aponta para que sejam as mais desinteressantes e irrelevantes eleições de sempre. E também as menos concorridas. Nem sequer o possível estímulo de um voto sanção está a atrair os eleitores aos votos. Os consensos instalados a nível de classe política mataram qualquer interesse por estas eleições. Efectivamente, qual é a diferença entre Sousa Franco e Deus Pinheiro, entre a lista PS e a lista PSD/CDS, no que respeita às questões que se debatem na Europa?
E, indo ainda mais longe, mesmo o PCP e o BE procuram marcar alguma diferença por meio de críticas relacionadas com a política interna, não salientando qualquer divergência de fundo em matéria de política europeia.
O resultado, previsível, é o afastamento dos cidadãos eleitores. Se tudo está assente consensualmente, ninguém sente que valha a pena incomodar-se.
Em matéria de resultados, e tendo em conta a sondagem publicada, inteiramente coerente com as demais já conhecidas, também se afigura que restam poucas incógnitas. Ou seja, parece-me que as únicas dúvidas estão nas flutuações de umas décimas percentuais entre as duas forças principais, que podem modificar a atribuição de dois deputados.
De resto, vinte e dois dos vinte e quatro lugares já têm dono, e de modo que se apresenta como imutável. O PS e o PSD/CDS nunca terão menos que dez lugares, o BE tem seguro o seu, e o PCP guarda outro. A luta que sobra será para definir se surge um empate onze-onze, ou alguém leva uma vitória doze-dez.
De resto, o PND, apesar da forte aposta nestas eleições, apesar das boas condições à partida, pela fusão do PSD/CDS, e apesar do mediatismo do líder, parece condenado ao fracasso. Na verdade, parece um balão que se esvazia.
Outros, leia-se PNR, que poderiam fazer a diferença, não se mostram com força para romper o bloqueio. Os filtros e os controlos do sistema abafam qualquer dissidência, impedindo-a de comunicar com as massas. Qualquer votação expressiva numa outra força que não as suprareferidas seria a novidade do escrutínio, e o único dado político novo.
Poderá este panorama alterar-se em vinte dias?