De desastre em desastre
Acabei de ler na BBC que o governo britânico em resposta à interpelação judicial feita pelas famílias de doze iraquianos mortos, ao que parece por engano, por militares ingleses, demanda em que os advogados invocaram princípios da Convenção Europeia dos Direitos do Homem, recordou que tal Convenção não é aplicável no Iraque.
Não resisto a anotar aqui esta resposta, e a fazer um breve comentário. Com efeito, é precisamente nas distracções que se revela por vezes o mais importante. Repare-se que o raciocínio juridico-geográfico supra mencionado provavelmente é inatacável: a Convenção Europeia dos Direitos do Homem, enquanto tratado internacional, não é aplicável no Iraque, que nem é Europa nem é parte subscritora.
Mas repare-se também o que significa dizer isto, e sobretudo, agora colocando-nos na pele dos outros, ouvir isto; repare-se na tragédia política que cada dia se cava mais fundo com esta mentalidade vetero-testamentária que se sedimentou entre os anglo-saxónicos. Imagine-se quantos séculos será preciso para apagar nesses povos extra-europeus a marca destas declarações, e das actuações com elas relacionadas. Humanos, o governo inglês reconhece sem contestação que eles são; mas direitos humanos, só na Europa...
Acontece que no nosso tempo não é possível fazer como Josué fez aos cananeus, ou como os pioneiros anglo-saxões exaltados pelo fundamentalismo bíblico fizeram aos índios na América, aos aborígenes na Austrália, aos tasmanianos na Tasmânia.
No futuro, e sejam quais forem as vitórias meramente militares, vamos todos ter que viver uns com os outros.
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